MEM?RIA
ASPAS
MÁRIO COVAS, 1930-2001
"A morte serena", copyright no. (www.no.com.br,) 6/03/01
"Pouco depois das 5 horas de hoje, a equipe médica que cuidava do governador Mário Covas foi chamada às pressas ao sexto andar do Instituto do Coração de São Paulo. Quando chegou ao quarto número 601, o oncologista e médico particular de Covas, David Uip, telefonou para o urologista Sami Arap e disse: ?Corre para cá, Sami. Quer dizer, voa?. A filha do governador, Renata, acompanhava a movimentação de médicos e enfermeiros quieta, sentada em uma cadeira. De vez em quando, levantava para pegar as mãos do pai. Chamado pela irmã, o filho do governador, Mário Covas Neto, o Zuzinha, entrou no quarto pouco antes da morte do pai. Covas morreu às 5h30, vítima de complicações decorrentes do câncer na meninge. O governador fora internado domingo de carnaval devido a uma trombose da perna, que evoluiu para uma infecção generalizada.
?Os monitores cardíacos e respiratórios mostravam que a situação estava complicada. Mas quando cheguei lá, ele já não estava vivo?, conta Arap. Juntos, Renata e Zuzinha telefonaram para a mãe, Lila Covas, que por insistência da família estava descansando em casa. Avisada de que a situação do governador – inconsciente desde a tarde do domingo – havia se agravado, ela estava sentada ao lado do telefone, rezando. Quando recebeu a notícia, pediu à filha: ?Cuide de tudo direitinho, viu??. Os filhos acompanharam todos os detalhes dos preparativos do corpo do pai para o velório.
Uma das pessoas que estavam no quarto na hora da morte do governador define a cena: ?Foi uma morte serena?. A notícia se espalhou rapidamente no Incor. No térreo, ainda estavam alguns militantes do PSDB e amigos da família que, durante todo o dia circulavam pelo hospital com um adesivo onde se lia ?Covas: um exemplo a ser seguido? colado nas roupas. Todos começaram a telefonar para diretórios municipais contando a notícia. Em casa, o governador em exercício, Geraldo Alckmin, recebeu uma ligação de um dos assessores do Palácio dos Bandeirantes, Antônio Carlos Maluf. Foi avisado de que o corpo do governador ficaria no Incor até o meio-dia, quando será levado para ser velado no Palácio dos Bandeirantes. Às 6 horas, o hospital divulgou boletim oficial informando a hora da morte. Em seguida, começaram os preparativos para o cortejo. O corpo do governador será enterrado amanhã no cemitério Paquetá, em Santos, onde estão os corpos de seu pai e de sua filha, Silvia, que morreu em um acidente de moto no réveillon de 1976.
Combatividade e resistência sempre foram características fortes de Mário Covas, um dos nomes mais antigos e respeitados em atividade no cenário político do país, desde o tempo em que era um dos mais aguerridos adversários da ditadura militar que governou o país de 1964 a 1985. E por conta dessa posição teve em determinado momento de pagar um preço político elevado para quem participar da vida pública era parte fundamental de sua própria vida.
O santista Mário Covas Júnior, nascido em 21 de abril de 1930, formou-se engenheiro civil e químico industrial na antiga Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Começou na vida pública militando no Partido Social Trabalhista, de modesta significação nos idos de 1961, disputando de saída a prefeitura da terra natal. Perdeu, mas no ano seguinte elegeu-se deputado federal pela mesma legenda. Reelegeu-se em 1966, a essa altura já pelo Movimento Democrático Brasileiro – o partido que os militares de plantão permitiram que fosse criado para que não se dissesse que não havia oposição no Brasil.
Do outro lado estava a Aliança Renovadora Nacional, a governista Arena, quase sempre maioria no Congresso e nos estados, porque previsivelmente mais procurada pelos que desejavam estar perto do poder, eles também como de hábito uma maioria (a Arena chegou a ser de fato, pelo número de filiados, ?o maior partido do Ocidente?, como dizia um de seus mais importantes dirigentes). Submeter-se ao poder, no entanto, não era o caso do deputado Mário Covas. De tanto combater os desmandos da ditadura, passou a incomodá-la, entrou na sua lista negra e em 1969 teve o mandato cassado e perdeu os direitos políticos por 10 anos.
Um campeão de votos
Voltou em 1979, tornou-se logo presidente do MDB paulista e retomou a carreira interrompida em 1969. Pela terceira vez, elegeu-se deputado federal, isso em 1982, mas ficou pouco em Brasília. O governador Franco Montoro precisou dele para a Secretaria de Transportes, só que o deputado estava destinado a voar mais alto. Em 1983, assumiu a Prefeitura de São Paulo, nomeado por Montoro, e em 1986 foi para o Senado com o maior número de votos até hoje registrado no país para o cargo: 7,7 milhões.
A saúde começa a ratear
Na campanha para o Senado, o primeiro golpe na saúde: ele sofreu um enfarte e teve de se submeter a uma angioplastia. Em 1987 recebeu três pontes de safena, e foi nessa condição que, depois da licença médica, voltou ao Senado para liderar o PMDB nos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte.
Foi com 8,6 milhões de votos que Mário Covas ganhou a disputa para o governo do estado em 1995, concorrendo pelo PSDB, partido de que foi um dos principais fundadores em 1988 (no meio do caminho, uma derrota na disputa presidencial em 1989, ganha por Collor). Sua administração se voltou de preferência para a área social – educação, saúde e habitação à frente. Popularidade aumentada, reeleição garantida, com 9,8 milhões de eleitores escolhendo seu nome em 1998.
Mas aí sua saúde já dava sinais de que não mais acompanhava seu espírito guerreiro. Um mês antes da nova posse, acontecida em janeiro de 1999, foi internado com um câncer na bexiga e foi operado, além de ser submetido a três sessões de quimioterapia. Apesar dos bons prognósticos iniciais, o câncer voltou a aparecer, atingindo a meninge. O tratamento obrigou-o a afastar-se do governo, deixando a administração a cargo do vice Geraldo Alkimin. De lá para cá foi a luta que todos conhecem, no final perdida, para vencer a doença."
"?Estado? circula com edição extra sobre Covas", copyright Agência Estado, 6/03/01
"O jornal ?O Estado de S. Paulo? fará circular a partir de 11 horas, nas bancas da Capital e Santos, uma edição extra sobre a vida política do governador licenciado Mário Covas, sua luta contra o câncer nos últimos dois anos e as repercussões de sua morte, ocorrida às 5h30 de hoje. ?É um caderno completo sobre Covas, com 12 páginas?, informa o secretário de Redação do jornal, Eleno Mendonça. ?O Brasil perde Mário Covas, o homem que reergueu São Paulo?, é a manchete do caderno cuja distribuição nas bancas de São Paulo ocorrerá até às 13h. No período da tarde, ela será efetuada nas bancas de Santos."
"Folha publica edição extra sobre trajetória de Covas", copyright Folha Online, 6/03/01
"A Folha publica hoje uma edição extra com um caderno especial sobre a vida e a trajetória política do governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), que morreu hoje após ficar internado no Incor (Instituto do Coração) por nove dias.
A edição completa do jornal, incluindo o caderno especial, estará hoje nas principais bancas da cidade de São Paulo, a partir do meio-dia. Na tarde de hoje a edição extra chega a Santos, onde Covas será enterrado, e amanhã em todo o país."