REVOLUÇÃO NO CAMPO
Bruno Blecher (*)
Uma vez por ano, geralmente na época da colheita, a mídia “descobre” e se espanta com o potencial da agropecuária brasileira. Imagens de agricultores a bordo de gigantescas colheitadeiras ganham as capas de revistas e as primeiras páginas dos jornais das grandes capitais do país, sob manchetes efusivas, do gênero “A força do campo??, “A revolução verde” e “Colheita farta”. Depois disso, as notícias do campo simplesmente desaparecem ou ficam confinadas às páginas dos suplementos agrícolas até a próxima supersafra.
A verdade é que as editorias de economia da grande imprensa, por ignorância ou preconceito, sempre trataram o setor rural de forma maniqueísta. Anos atrás, o agricultor era taxado de caloteiro e chorão. Hoje, é sinônimo de competência e sucesso.
Como o caloteiro virou eficiente o público urbano desconhece, porque a mídia não deu. Após a abertura da economia, a agricultura foi em busca de tecnologia para competir, além de promover um brutal ajuste interno, modernizando sua gestão. Hoje, o agronegócio é um setor com baixa dependência do governo, alta produtividade e elevado padrão de competitividade no mercado internacional. Segundo um estudo da ONU (que poucos veículos deram), o Brasil pode assumir, no prazo de apenas 12 anos, a liderança da produção agrícola mundial.
Os resultados dessa mudança são uma sucessão de recordes. Depois de colher a maior safra da história do país, o agronegócio fechou o primeiro semestre deste ano com mais um superávit comercial, ao redor de 11 bilhões de dólares.
Boa parte desse sucesso se deve à pesquisa agrícola. Universidades como a de Viçosa (MG) e a Luiz de Queiróz (SP) e instituições como a Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas desenvolveram uma tecnologia agrícola tropical, que gerou elevados ganhos de produtividade e possibilitou a conquista dos cerrados. Na pecuária, a evolução da pesquisa genética permite hoje que uma vaca, por meio de técnicas como transferência de embriões e fertilização in vitro, produza até 50 bezerros por ano. E a excelência dos cientistas brasileiros começa a ser reconhecida mundialmente na pesquisa genômica.
Tudo isto aconteceu e continua a acontecer por aqui: nos chapadões do Centro-Oeste, no Norte do Paraná, nos pampas gaúchos, no interior de São Paulo, nos sertões do Brasil. Mas muita gente ainda se espanta, porque a mídia não deu.
Até quando?
(*) Jornalista especializado em agronegócio