Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A nova moda do jornalismo

EM NOME DO LUCRO

Giovana Franzolin (*)

Jornalismo é serviço de utilidade pública. Inicialmente, é o que me ocorre quando indagada sobre a profissão que escolhi seguir. Essa expressão já se tornou clássica para resumir de forma sucinta e preguiçosa as funções do jornalismo, que definitivamente não se resumem apenas a servir ao interesse público (ou seria do público?). A expressão já é tão popular que até jornalistas por vezes definem sua profissão desta forma incompleta.

Outrora já questionada pelo mesmo assunto, tive a curiosidade de recorrer a um dicionário para checar o que está registrado, ver qual seria a definição oficial do que se diz ser essa profissão. Após uma primeira explicação um tanto quanto floreada mas procedente, qual não foi minha surpresa ao deparar-me com a seguinte:


"3. abordagem superficial de um tema, menos interessada em esclarecê-lo do que em agradar o gosto e os interesses populares que estão na moda (Houaiss, 2001).


Jornalismo tornou-se sinônimo de desinformação, de instituição que vende informação com o intuito exclusivo de lucro, sinônimo de popularesco, de algo indigno de ser levado a sério.

Jornalismo virou sinônimo de tudo aquilo que não deve ser, de tudo aquilo a que se propôs ser contra. Originalmente, fazer jornalismo era simplesmente informar de uma maneira que correspondesse à realidade. Informar para esclarecer, informar para denunciar, informar para entreter. Informar por informar.

Dever e paixão

Infelizmente, assim como pode ser comprovado na definição do Houaiss, jornalismo agora também significa o processo inverso, o de desinformar em nome do dinheiro e do interesse de particulares. A realidade é a que está impressa nas páginas do jornal diário. O que não é notícia não é real. Só se denuncia a empresa que não é colaboradora do jornal. Só se publica se sobrar lugar, após a diagramação primeiro dos anúncios. Cada vez mais é verdadeira a expressão de que detém o poder quem detém a informação. E poder, aqui, pode ser substituído por cifrões.

Não, não tenho opinião apocalíptica sobre o ofício de jornalista, tanto que é a profissão que escolhi. Acredito que, em muitos casos, o fazer jornalismo está, sim, equivocado, errado, bichado, principalmente quando se olha para os maiores, os tradicionais. Mas também acredito no oposto. É possível fazer um jornalismo sério, comprometido com a verdade, ao mesmo tempo que irreverente, agradável. Acredito nos novos veículos (como a internet), no jornalismo informal, nos fanzines, nas publicações organizacionais e, acima de tudo, acredito nos jornalistas.

O jornalismo é uma profissão fascinante, instigante e recompensadora, mas com uma carga de responsabilidade incrível. Deve-se, para realizá-la de forma plena, estar certo de seus deveres e, principalmente, certo de sua paixão pelo ofício. Acima de tudo, o exercício do jornalismo exige muita vontade e amor. Só assim é que se faz possível um jornalismo correto, verdadeiro e digno de ser útil ao público a que serve.

(*) Estudante de Jornalismo da Unesp-Bauru