UNIVERSIDADE DE COLUMBIA
Pessoas do meio jornalístico, afirma Robert J. Samuelson [The Washington Post, 23/5/03],
têm muitos problemas: "Um apetite cada vez menor por notícias direcionadas aos jovens, crises entre os valores ?notícia? e ?entretenimento?, e descrédito do público sobre nosso poder e objetividade" são alguns deles.
Agora há um novo problema para o jornalismo americano: Lee Bollinger. Segundo Samuelson, como diretor da escola de Jornalismo da Universidade de Colúmbia Bollinger "imagina-se como o grande redentor do jornalismo". "Ele vai nos elevar com a reformulação curricular de sua escola de jornalismo e prover um exemplo para inspirar a todos. Poupe-nos."
Para o articulista do Post, a visão de Bollinger remete a um "jornalismo esnobe", direcionado da elite para a elite. "Ele acha que a maioria dos jornalistas deveria ser credenciada pelas universidades", cujo ensino deve ser ainda mais aprofundado.
"A visão de Bollinger, infelizmente, parece se confirmar com sua escolha de Nicholas Lemann para a reitoria da escola de jornalismo [de Colúmbia]", disse Samuelson. Lemann "é um escritor brilhante, um repórter exaustivo e uma boa pessoa", afirmou. "Mas é especializado em artigos longos de reflexão, geralmente dados em publicações menores voltadas às elites, como Atlantic Monthly e New Yorker."
As propostas de Bollinger não trarão melhoras no meio, garante Samuelson. "Jornalismo é aprendido na prática. Você deve tentar ser preciso, claro, rápido, perceptivo e engajado. Essas não são qualidades abstratas aprendidas em uma sala de aula. A escola de jornalismo é apenas uma alternativa."
Ainda hoje, a importância que os jornalistas dão a si mesmo provoca ressentimento do público. "Bollinger torna isso ainda pior ao insistir que somos uma ?profissão?", diz o articulista do Post. "Jornalismo é um trabalho, uma arte e freqüentemente uma paixão. A maioria dos bons jornalistas já acredita em precisão, independência e justiça. Mas esses padrões abstratos não protegem contra sensacionalismos e descuidos na mídia.
"Os principais vilões", diz Samuelson, "são ambição pessoal, pressão de deadline, competição na mídia e tendenciosidade inconsciente."
NY Observer critica o novo curso
Passaram-se seis meses desde a suspensão da busca por um novo diretor da faculdade de Jornalismo de Colúmbia e a convocação de uma força-tarefa de jornalistas e acadêmicos para repensar o currículo da prestigiada escola. Só então Lee Bollinger anunciou a escolha por Nicholas Lemann para dirigir a faculdade.
Em editorial, o semanário New York Observer parece partilhar da mesma opinião de Samuelson no Post. Embora Lemann seja um jornalista respeitado, os resultados do comitê de Bollinger não são promissores, critica o Observer [28/4/03]. Além de sugestões "racionais e um tanto óbvias", como dar ao estudante noções de economia e teoria política, o plano de expandir o programa atual de 10 meses para dois anos é, segundo o editorial, "estupidez", cujo "único propósito deve ser dobrar o faturamento da escola".
O Jornalismo não é como o Direito e a Medicina, que exigem conhecimento sólido antes de exercer a profissão, argumenta o Observer. Reportar e escrever se aprendem na prática. Por isso, "um segundo ano é uma perda de tempo, que seria mais bem empregado gastando sola de sapato para um jornal de cidade pequena ou estação de TV local". "Um programa de dois anos vai espantar os melhores, e atrair aqueles que querem se demorar na academia", afirma o Observer, lembrando que os grandes jornalistas americanos de hoje ? Tom Brokaw, Ted Koppel, Thomas Friedman, Maureen Dowd ? não fizeram faculdade de jornalismo, e nem o próprio Lemann.
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