CASO FELIPE E LIANA
Victor Gentilli
Das duas, uma: ou esse crime foi um fato isolado ou não foi. Se se tratou de fato isolado, não faz muito sentido abrir a discussão sobre maioridade penal; se não se tratou, por que, neste caso, este tratamento diferenciado?
De forma que há muita coisa estranha na maneira como esse crime brutal está sendo tratado pela mídia. O crime é bárbaro, chocou a sociedade, que não pode deixar de tomar conhecimento dos fatos que lhe dizem respeito.
Desproteção
Mas a Rede Globo, jornais e TVs entrando no debate da maioridade penal, num momento em que a sociedade está impactada pelo crime, não parece boa solução. O tema da violência e da segurança é recorrente. As críticas ao Estatuto da Criança e do Adolescente não são de hoje. Mas isso justifica forçar o ministro da Justiça a dar uma declaração? Procurar Dom Aloísio Lorscheider e estimular um debate neste momento?
A imprensa precisa noticiar o crime, informar tudo o que conseguir apurar. Aliás, o vício de só se trabalhar com informações policiais persiste. Não se está aqui no mérito do trabalho policial, que parece bem realizado.
Se a violência se agrava com a questão social é tema controverso. Mas o debate, da forma como está sendo colocado, abre uma outra questão social muito mais grave: ora, o caso ganhou tal dimensão porque a vítima é de classe média. É a classe média que, neste momento, deseja segurança e proteção. As crianças pobres, sejam elas criminosas, infratoras ou vítimas, estão e estarão absolutamente desprotegidas.