MÍDIA & EXÉRCITO
A maior parte das organizações de mídia obedeceu ao pedido do Pentágono para que não fossem divulgadas imagens dos prisioneiros afegãos transferidos para a base americana em Cuba. Fotógrafos e câmeras de veículos como CNN, CBS, The Army Times puderam registrar no dia 9 o embarque dos 20 homens, encapuzados e algemados, mas tiveram que concordar com a não transmissão das imagens até que militares concedessem autorização. Logo após a decolagem, veio o aviso de que não deveriam exibir o material.
A Associated Press protestou. A CBS News mostrou clipes de imagens de menos de 10 segundos no Evening News do dia 11, mesmo procedimento da CNN. O Pentágono declarou que a decisão foi tomada porque a Cruz Vermelha fez objeção, afirmando que as imagens violam leis internacionais de tratamento digno a prisioneiros. Mas, segundo Frazier Moore [AP, 11/1/02], a instituição afirmou não ter entrado em contato com o Pentágono.
No mesmo dia, a Sociedade Americana de Editores de Jornais enviou carta ao secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, pedindo liberação imediata das imagens. Para Tim McGuire, presidente da associação e editor do Star Tribune, a explicação dada pelas autoridades "não só aparenta contradizer os fatos como é uma violação do trabalho de fotógrafos e câmeras". "Mas qualquer que seja a razão para suprimir estas fotos, deve ficar claro que qualquer problema está relacionado ao tratamento de prisioneiros, e não à cobertura."
ZIMBÁBUE
Repressão revisada
O governo do Zimbábue inesperadamente adiou a votação das novas leis de imprensa, que impedem jornalistas estrangeiros de trabalhar no país e restringem a atuação de repórteres locais. No dia 16, o ministro da Justiça, Patrick Chinamasa, declarou que o projeto de lei será revisado e que o Parlamento se reunirá no dia 22, o que gerou especulações de que o recuo se deva à pressão internacional sobre o presidente Robert Mugabe ou a divergências internas no partido governista, Zanu-PF.
A União Européia pediu ao governo que respeite a liberdade de imprensa e permita que observadores internacionais monitorem as eleições presidenciais de março; caso não receba resposta satisfatória, a UE ameaça aplicar sanções ao país. Os Estados Unidos, que já impuseram sanções, avisaram que as reforçarão se o projeto virar lei. Washington e UE também cogitam seqüestrar bens depositados em outros países depois que um relatório da ONU revelou que Mugabe e seu gabinete estão fazendo fortuna pilhando recursos do Congo, onde tropas do Zimbábue sustentam o regime.
Mas Mugabe pode estar sendo desafiado pelo próprio partido, que teria organizado um boicote: a fraca presença de parlamentares do Zanu-PF foi notável e, caso o projeto fosse votado, a derrota era dada como certa. As informações são de Andrew Meldrum [The Guardian, 17/1/02].
TELEFUTURA
Mais um canal hispânico
Telefutura, a mais nova rede para o mercado hispano-americano, estreou no dia 14, tentando atrair audiência da rival Telemundo sem prejudicar a proprietária Univision, a número um deste segmento. Inicialmente, o canal será transmitido por 42 estações, em 13 estados americanos. Segundo Cyntia Barrera Diaz [Reuters, 11/1/02], o primeiro programa matinal é o noticiário Contacto Desportivo, seguido do talk show El Escandalo de Mediodia, desenhos animados e cinco novelas. Durante a Copa do Mundo, a rede deve retransmitir as partidas do dia, além de oito jogos ao vivo.
Apesar de exibir as tradicionais novelas ? colombianas, venezuelanas e peruanas ?, a Telefutura promete eventos com mais testosterona para se diferenciar da Univision, sucesso entre o público feminino graças aos dramalhões do grupo mexicano Televisa (a maior companhia em idioma espanhol do mundo). "Com a Telefutura, eles estão atrás de uma população mais jovem e masculina, com muita programação esportiva", diz Marla Backer, analista da Brean Murray & Co. "O impacto será ganhar parte do mercado de emissoras gerais como CBS, NBC e outras", prevê.
O censo de 2001 mostra que a população hispânica nos EUA cresceu 58% em apenas 10 anos: são 35 milhões de pessoas com poder de compra estimado em US$ 500 bilhões por ano, segmento que atualmente atrai 5% do mercado publicitário americano.