Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A prevalência da hipocrisia

Sylvio Pélico Leitão Filho (*)

É fato conhecido o poder que os meios de comunicação exercem sobre a opinião pública. Em contrapartida, de nada adianta os veículos circularem (caso de jornais e revistas) ou irem ao ar (rádios e TVs) se o público não consumir seu produto.

Sobrevivem os veículos com inserções publicitárias (muito mais do que a venda avulsa e de assinaturas), e se não alcançarem um grande número de pessoas escasseiam os anúncios, criando problemas financeiros. É válido lutar com todos os meios legais, é claro, para atingir metas de receita.

Não obstante a existência do Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), órgão fiscalizador da área, deve haver por parte das publicações um mínimo de ética e bom senso na veiculação de peças publicitárias. Mensagens prejudiciais à saúde, à moral e à segurança pública deveriam ser banidas definitivamente.

Mas não é o que acontece. A cada dia, verificamos logo pela manhã que prevalece a hipocrisia ao folhear nossos jornais e localizar em suas páginas a publicação de editoriais, reportagens e entrevistas condenando, com veemência, a prostituição infantil. Nas mesmas edições, nos classificados, anúncios visualmente bem trabalhados de prostitutas e prostitutos, vendendo sexo.

Nada tenho contra o comércio milenar do sexo, existente desde os primórdios da humanidade (acho inclusive que é mais um problema social do que policial). Mas sou contra sua divulgação em jornais que entram em nossas casas e são de fácil acesso a menores de idade. Mirabolantes mensagens são facilmente absorvidas por uma legião de adolescentes. Será que vale a pena este tipo de faturamento? Todos somos pais, avôs e irmãos de possíveis vítimas. Inclusive donos e sócios de empresas de comunicação.

Defesa da ilegalidade

Alguns veículos (muito poucos, infelizmente) já eliminaram estas mensagens de suas páginas. De nosso conhecimento, só o Diário de Notícias, em Portugal, e a Gazeta do Povo, em Curitiba, decidiram não mais publicar mensagens pornográficas. Será que eles estão errados ao assumir uma posição ética?

Porque é uma fonte de receita, corremos o perigo de, em pouco tempo, encontrarmos anúncios de traficantes de drogas e de outras atividades criminosas. Por que não?

Em nossas idas e vindas, no combate solitário a crimes dessa natureza, fizemos diversos contatos com diretores de redação e de setores de publicidade de jornais, especialmente no eixo Rio–São Paulo. Pior do que não conseguir resultados foi constatar que os colegas, em sua maioria, não concordaram com nosso ponto de vista. Em correspondência e contatos telefônicos e pessoais ouvimos os maiores absurdos em defesa desta ilegalidade.

(*) Jornalista

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