Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A questão não é o diploma, mas o ensino

DIPLOMA EM XEQUE

Rosa Nívea Pedroso (*)

Novamente, deparamo-nos com novo ataque sobre o exercício do jornalismo. Digo exercício do jornalismo porque tenho plena convicção de que o jornalismo deve ser exercido por profissionais diplomados pelo ensino superior de graduação ou de pós-graduação. Então, para mim, a questão não é o diploma. Mas a formação do jornalista e o ensino do jornalismo. Enquanto nós professores universitários, de instituições publicas e privadas, não enfrentarmos de frente a atual realidade do ensino/currículo/ingresso de professores/condições estruturais, estaremos de novo a mercê de novos ataques vindos de novos fronts. Outros ataques já aconteceram. Este não é o primeiro. E as coisas foram se acomodando e a questão foi esquecida.

De novo, nós, professores, estamos reativos diante de nova investida. Reativos diante de um temor infundado de que os cursos de Jornalismo fechem. Ora, Publicidade e Propaganda é uma profissão que não requer diploma, e é um dos cursos mais procurados em todas as universidades brasileiras. Os cursos existem. Os bons cursos serão sempre procurados. Acho que nós professores devemos fazer uma avaliação dos nossos currículos, dos nossos entendimentos filosóficos, sociológicos etc. sobre o jornalismo. O campo do jornalismo ainda carece até de demarcação, pois com muita freqüência ouvimos colegas dizerem que é possível conciliar jornalismo e marketing, só para citar um exemplo. O jornalismo jamais sofrera do mal da falta de visibilidade de seu objeto. Será que é a obviedade de seu objeto que faz com que se relegue a pesquisa sobre o jornalismo lá para o décimo lugar de interesse entre professores e estudantes?

A disciplina de Teoria do Jornalismo é muito recente. Tudo indica que ela foi criada, no Brasil, quando da implantação do currículo mínimo de 1984 pelo Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, seguida pelo Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina.

Pioneiros, desbravadores e continuadores dos estudos sobre o jornalismo, todos, começaram muito recentemente. O jornalismo, como objeto de estudo acadêmico/cientifico, no Brasil, praticamente começa no final dos anos 70.

E tudo isto é muito recente. E este é um momento propício para revisarmos conceitos, currículos e, conseqüentemente, o campo de conhecimento. Acho que de novo a discussão ensino-e-qualidade se impõe e nada adianta fazer ouvidos moucos para as críticas que a sociedade/empresas/indivíduos tem sobre o ensino e o jornalismo brasileiro.

Precisamos nos abrir para o que é dito sobre a razão de ser de nossas profissões. Por exemplo, acho muito sintomático o fato de os professores dos cursos de Jornalismo do Brasil não serem fontes de interpretação/informação/opinião da imprensa em geral. Logo eles que, diariamente, refletem/pensam/falam/pesquisam sobre o jornalismo.Um "manto de invisibilidade" paira sobre o campo de conhecimento do jornalismo. Outro exemplo: professores altamente qualificados na área de Comunicação negam-se a assumir disciplinas da área de Jornalismo, alegando que não são tecnicistas nem práticos. Mas falam sobre jornalismo pelo Brasil afora, como se tivessem familiaridade com os desafios diariamente postos aos professores que se dedicam à tribuna da sala de aula, ao ensino, ao conteúdo e à pesquisa do campo do jornalismo.

Jornalismo, para esses professores, só em nível de pós-graduação. Que mistério é esse que jornalistas profissionais famosos e premiados pelo mercado, como repórteres e editores, recusam-se a assumir disciplinas como Reportagem, Edição, Jornal-Laboratório, Redação Jornalística, Telejornalismo, só para citar algumas?Por quê? Por que professores de outras áreas orientam dissertações de mestrado tendo como enfoque o jornalismo? Por quê?

Por essas e outras razoes, hoje é uma juíza que determina publicamente o que já acontece nas redações. Quem de nós não conhece ou conheceu um aluno que já exerceu até função de repórter/redator em grande jornal? Alguma coisa está mal. A burla do diploma virou prática rotineira. E cabe a nós professores universitários fazermos este diagnóstico, esta avaliação para podermos tentar alguma mudança. E mudanças no ensino do Jornalismo são necessárias. É uma tarefa que precisa ser iniciada, não só no ensino mas principalmente na pesquisa e no conhecimento do jornalismo.

(*) Professora de Teoria do Jornalismo e Redação Jornalística da UFRGS