Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A razão e a dor

CAROS AMIGOS

Eva Blay (*)

Por que me atacam? Por que preciso me defender em minha própria casa? Do que me culpam? Eram sentimentos e agora são perguntas racionais mais uma vez despertadas pelo intolerante artigo anti-semita de Marilene Felinto (Caros Amigos n? 134, dezembro de 2003.). Sou judia, faço parte da comunidade judaica, respeito intensamente o rabino Henri Sobel em quem encontrei sempre apoio político e pessoal. Tudo começou quando ele resistiu a enterrar nosso amigo Vlado Herzog como suicida, enfrentando a sangrenta ditadura militar que o matara. Lutou junto quando mataram Manuel Fiel Filho e sempre o vi na luta pela Democracia e pelos Direitos Humanos com Dom Paulo Evaristo Arns, o reverendo Jaime Wright, todos com "nomes estrangeirados" .

Vejo-o agora tão ferido quanto tantos de nós quando uma menina de 16 anos foi usada e assassinada por cinco brutais homens. Sabemos muito bem que não são só os pobres que estupram e assassinam mulheres movidos por "ódio de classe", nem pela pobreza: não ofenda os pobres! Mas se é necessário encontrar um "culpado" a lição já foi ensinada por Hitler, Gustavo Barroso e Felinto Muller ? o chefe criminoso da Policia da ditadura Vargas e colaborador da última ditadura militar: culpem-se os judeus. Marilene aprendeu a lição do anti-semitismo e do seu travestido anti-sionismo. Marilene Felinto, com titulo universitário, escritora e jornalista, faz parte da mesma classe social da "menina rica".

Não lhe desejo que passe pelo tormento de ver uma filha tão brutalmente violada e morta pois sei bem quais os sentimentos que passam pelo coração que sofre tal violência ? até que a razão venha se somar à dor.

(*) Socióloga, professora titular da USP, coordenadora científica do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações de Gênero