Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A realidade editada

REALITY SHOWS

À medida que aparecem mais críticas, reclamações e processos contra os reality shows, que são a febre da TV mundial ultimamente, aumenta o questionamento à "realidade" que eles apresentam. Produtores deste tipo de atração admitem que a edição seja sensacionalista. "Todo produto de entretenimento precisa ser editado. Mantêm-se as coisas boas e cortam-se as chatas. Isto é senso comum", explica o americano Erik Nelson, presidente da produtora Termite Arts e criador de programas como Redhanded e Busted on the job. Mike Fleiss, criador e produtor executivo de The Bachelor, exibido na emissora americana ABC, concorda que seu programa seja um fenômeno de condensação. "Gravamos 700 horas para colocar seis na televisão".

Mas há muita diferença entre fazer uma edição que visa aumentar o interesse da audiência e interferir nos acontecimentos antes que eles se desenrolem diante das câmeras. Ray Richmond [The Hollywood Reporter, 8/7/02] conta que Chris Cowan, um dos criadores de Temptation Island, da Fox, está sendo processado por casal que foi expulso do programa porque se descobriu que tinha um filho, o que contraria o contrato com a produtora. Taheed Watson e Ytossie Patterson alegam que foram coagidos a negar a existência da criança e depois representados como "monstros egoístas" ao serem desmascarados. "Fomos acusados de usar isto como um tipo de manipulação para criar um acontecimento e aumentar a dramaticidade do programa", conta Cowan, que nega a alegação: "Acho que não somos tão espertos".

A versão britânica de Big Brother também é alvo de controvérsias. A competidora Jade Goody, na edição feita pelo Channel Four, foi, desde o começo, representada de forma negativa. Os tablóides chegam a descrevê-la como "a mulher mais odiada da Grã-Bretanha". Frases como "Rio de Janeiro ? isso não é o nome de uma pessoa?" e "Pensei que galinhas comessem queijo" fizeram com que Jade desse origem até a gírias, o que demonstra a popularidade do programa, que, em sua terceira edição, tem índices de audiência 40% maiores que os do ano passado. Como a participante é uma mulher simples do distrito operário de Bermondsey, em Londres, acabou caindo no gosto dos espectadores com maior consciência de classe.

Agora, o jornal sensacionalista The Sun acusa os editores do Big Brother de terem mudado o modo como apresentam Jade. "Foi uma jogada deliberada para mantê-la na casa porque ela é provocativa e também para contrariar as críticas de que a haviam transformado num monstro", teria dito um membro da equipe do reality show ao tablóide. O Channel Four nega que isso seja verdade. A Reuters [7/7/02] conta que se especula que, como Jade ainda não sabe da imagem que tem fora da casa, pode ter um colapso ao sair.

SEQÜESTRO NOS EUA

Críticos de mídia alertam para um "linchamento" que a imprensa americana estaria fazendo com o casal Richard e Angela Ricci no caso do desaparecimento da menina Elizabeth Smart, de 14 anos, no estado de Utah. O marido, de 48 anos, foi preso várias vezes nos últimos 30 anos, e a mulher também já teve problemas com a polícia. Contudo, não foram oficialmente acusados de envolvimento neste seqüestro. As alusões que a mídia vem fazendo a que Richard seria culpado podem render pesados processos caso não se prove nada.

Recentemente, diversos veículos de comunicação citaram fontes não identificadas da polícia que teriam dito que Ricci é o suspeito número um do rapto de Elizabeth. Algumas redes de TV foram além, colocando em dúvida o álibi que ele apresenta, de que estaria com Angela no momento do seqüestro, praticamente acusando o casal e seu advogado de mentir em entrevistas que alguns críticos descrevem como interrogatórios. O repórter Ed Lavandera, da CNN, por exemplo, citou fontes não-identificadas da polícia que teriam dito que "não estão confiantes nas informações que Angela Ricci lhes teria dado", como conta Andrew Grossman [The Hollywood Reporter, 3/7/02].