VENEZUELA, GOLPE E CONTRAGOLPE
Nota Oficial do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal
O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal saúda e regozija-se com o povo da Venezuela que, através de uma intensa, maciça e corajosa mobilização frustrou uma articulação golpista, apoiada oficialmente pelo Fundo Monetário Internacional, pelas oligarquias locais e pelos magnatas da mídia. Os venezuelanos ofereceram com seu gesto um elevado exemplo de cidadania e democracia ao conjunto das nações latino-americanas, marcadas por uma trágica história de ditaduras e de sistemático desrespeito aos seus direitos democráticos, humanos e à soberania do voto popular. Graças ao povo venezuelano, o destino de Chávez foi distinto das tragédias vivida por Getúlio Vargas, Perón, Jacob Arbenz, Jango e Salvador Allende.
A reconquista da normalidade democrática não exclui a necessidade de uma reflexão sobre os atores sociais que agiram em sintonia com obscuros interesses golpistas, em particular sobre a ação dos meios de comunicação que, em sua maioria, apoiaram a derrubada do governo legítimo e a usurpação do voto popular. Os conglomerados privados da mídia venezuelana chegaram ao cúmulo de sonegação informativa, por exemplo, não noticiando que uma manifestação de 1 milhão de venezuelanos já havia ocupado o Palácio Presidencial de Miraflores, expulsando o golpista Pedro Carmona e reinstalando o vice-presidente e membros do governo legítimo. Ao longo do sábado [13/4], notícias da resistência dos venezuelanos ao golpe foram silenciadas. Além disso, a mídia noticiou uma renúncia do Presidente Chávez que nunca ocorreu e foi taxativamente negada pelo mandatário, que se encontrava seqüestrado.
Para os brasileiros, que experimentaram, por exemplo, a censura das emissoras de TV às manifestações gigantescas de milhões no movimento das "Diretas Já", a sonegação da mídia venezuelana não chega a ser novidade, mas uma linha de continuidade da tirania midiática que assola este continente, com o apoio de segmentos do sindicalismo retrógrado, incluindo o de jornalistas. Lá como cá, revela-se a necessidade de um outro modelo de comunicação capaz de informar com veracidade e elevar culturalmente o povo, com a responsabilidade social inerente à função.
A reconquista da normalidade democrática na Venezuela ? lição histórica para todos ? requer a discussão nos movimentos sociais, sindicais, políticos e intelectuais das propostas do governo da Venezuela para a integração econômica, cultural e informativa da América Latina, gerando alternativas à opressão neocolonial que visa manter as nações latino-americanas no atraso.
A Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, Brasília, 14/4/2002