ALEMANHA
O hábito de mostrar matérias editadas aos entrevistados antes de publicá-las virou um problema para a imprensa política alemã. A prática era tida como uma maneira de evitar erros, mas hoje os políticos praticamente reescrevem as entrevistas. A situação ficou tão grave que nove grandes diários da Alemanha, ? entre eles Süddeustsche Zeitung, Tagesspiegel, Frankfurter Rundschau e Frankfurter Allgemeine ? protestaram publicamente depois que o secretário-geral do Partido Social-Democrata, Olaf Scholz, exigiu muitas mudanças numa entrevista ao Tageszeitung de Berlim. O jornalista Jens König não quis aceitar as alterações e afirmou que publicaria o material de qualquer maneira. Scholz então ameaçou excluir seu jornal de todas as conversas de bastidores do partido do governo.
Um dos diários que protestaram citou um exemplo de quão complicada é a situação. Certa vez, um líder sindical, quando perguntado sobre a redução da filiação às organizações trabalhistas, disse que "haveria mais queda". Na versão final "corrigida", no entanto, ele optou por responder que "a sindicalização tem crescido muito desde março". A frustração da imprensa não é gratuita, pois mesmo declarações amenas têm sido substituídas. Diante disso, pergunta Moritz Schuller, do Guardian [8/12/03], por que os jornais, em vez de protestarem publicamente, não acabam de uma vez com esse hábito e publicam as entrevistas tal qual foram feitas? "Afinal, a decisão é deles", conclui.