Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A saída é a censura

DOMINGO ILEGAL

Francisco Antonio Pagot (*)

O problema eclodiu apenas agora, com o recente episódio do Domingo Legal. Mas a entrevista de Silvio Santos, presidente de uma rede nacional de televisão, o SBT, já foi inconcebível. Sílvio Santos disse que tudo não passou de brincadeira, mas mostrou que é irresponsável e não considera a inteligência do telespectador. É figura de projeção nacional, e como tal tem que se comportar. Condenável. Agora, falsos integrantes do PCC, fazem ameaças de morte e seqüestro. Como disse um dos entrevistados do Observatório da Imprensa na TV (16/9/2003), na falsa entrevista cometeram-se dois delitos: apologia ao crime e ameaça de seqüestro e morte.

Isso é imperdoável para uma emissora de televisão como o SBT, pois foi deliberado. E seu reflexo vai além dos envolvidos. Atinge em cheio a sociedade brasileira, os telespectadores, a credibilidade da mídia eletrônica e a legitimidade do jornalismo na TV brasileira. Um jornalismo enganoso, sensacionalista, ibopesco e vergonhoso, até para a classe dos jornalistas, na qual me incluo como profissional ético há 37 anos. Um dano, portanto, de efeito coletivo. Um espetáculo deprimente e hediondo.

Programas como Cidade Alerta, Brasil Urgente e congêneres teriam que ser censurados, ou melhor, proibidos, alijados da programação, bem como os que fazem a linha Ratinho, Gugu, Faustão: um deboche à inteligência do brasileiro, além de falta de criatividade, de senso profissional, de respeito aos telespectadores.

A censura é autoritária. Mas, nesses casos, é fundamental para a boa formação, a boa orientação, a boa educação das crianças, dos adolescentes e dos próprios adultos, já que vivemos num país de milhões de analfabetos e semi-analfabetos, portanto, de ignorantes, que acreditam em tudo o que é dito, feito e mostrado nas emissoras de televisão.

A TV é concessão. E, assim sendo, tem obrigação de respeitar, via programação, o povo brasileiro. Televisão é entretenimento, passatempo, informação, formação, educação e lazer para crianças, adolescentes e adultos. Há que se preservar os direitos do cidadão, o respeito ao telespectador, a ética social e profissional. Mas o que se vê são programas mostrando mulheres peladas, sexo em novelas, filmes, pornografia e palavrões

É hora de se rever a tal da “liberdade de imprensa”, já que a televisão tem preponderante papel no contexto social, moral, cultural dos brasileiros. Imprensa: revisão já!

(*) Diretor da Gazeta de La Stampa, Canoas, RS