DOMINGO ILEGAL
Fábio de Oliveira Ribeiro (*)
Por mais que se fale sobre o assunto, a realidade crua e nua é a seguinte: Gugu não abusou, ele apenas atendeu às expectativas de seu público. A questão central do debate levantado pelo incidente do Domingo Legal, portanto, é outra, e pode ser formulada da seguinte maneira: o que fazer para mudar as expectativas dos telespectadores?
Valorizar as redes públicas de TV é uma solução. Mas num regime em que predomina a exploração privada dos meios de comunicação isto não resolve muito. Afinal, as empresas que se dedicam a explorar este rentável filão econômico que é a propaganda televisada sempre procurarão atender às expectativas de seu público para valorizar os minutos comerciais. A guerra por audiência é antes de tudo um desdobramento da concorrência que ocorre entre as megacorporações de TV privada existentes no país.
A volta da censura é indesejável e inviável. Caso se adotasse qualquer tipo de regulamentação que implique censura prévia da programação haveria uma gritaria danada, que uniria os defensores das liberdades individuais aos apologistas da liberdade comercial.
TV compulsivos
A auto-regulamentação, sempre desejável em qualquer setor da atividade humana, pode ser útil, mas talvez não surta o efeito desejado. Se tiverem que escolher entre o nível cultural e o lucro os empresários do setor não hesitariam. “Primo vivere dopo filosofare” é um ditado muito antigo e sempre em voga.
Na verdade, não há muitas saídas. Mesmo que a legislação em vigor fosse aperfeiçoada para definir e punir com rigor os abusos ainda teríamos que esperar o Ministério Público e o Poder Judiciário cumprirem seu dever de casa. Mas, nestes tempos de reforma constitucional, juízes e promotores andam especialmente preocupados com seus cargos e salários. Além disso, em razão do acúmulo de trabalho e da burocracia em que estão atolados, talvez não tenham mesmo tempo para assistir à TV e tomar iniciativas ousadas.
A única luz no fim do túnel é a absoluta ausência de luz no tubo de raios catódicos. Nada se compara a um aparelho televisor desligado. Escurinha, a TV até que cumpre uma função estética interessante: quebra a monotonia da explosão de cores em nossas nossos lares invadidos pelo Sol o ano todo.
Sabem o que é melhor do que uma programação cretina? É uma possibilidade… Proponho um desligaço. Num determinado dia do ano previamente marcado desligaremos nossos televisores e esperaremos de braços cruzados e TV apagada os empresários do setor criarem vergonha na cara. Mas é claro que teremos que enfrentar 100 milhões de telespectadores doentios (TV compulsivos, para ser mais exato). Haja remédio para tanta gente…
(*) Advogado