Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A toque de caixa… registradora

JORNALISTAS-VENDEDORES

Alberto Dines

O Ouvidor da Folha de S.Paulo retomou na sua coluna de domingo (25/5) um assunto que este Observatório já comentou em diversas ocasiões: a utilização de jornalistas como garotos(as)-propaganda. É mais grave do que jornalistas profissionais fazerem um "bico" como assessores de imprensa.

Bernardo Ajzenberg aponta o caso concreto de uma colunista da Folha que participou da propaganda de um lançamento imobiliário contrariando normas expressas do Manual da Redação [veja íntegra na rubrica Voz dos Ouvidores, nesta edição]. Pela ênfase do reparo, pressente-se que vai dar galho.

Mas o Ouvidor não pôde reparar que na mesma edição dominical, na capa de um caderno de classificados (Veículos-1), dois repórteres que fizeram a cobertura da guerra do Iraque participaram ostensivamente de uma matéria promocional para lançar o jipão Humvee no mercado brasileiro. Matéria com o mesmo objetivo saiu em outros cadernos automobilísticos. Em todas está expresso o interesse dos representantes em vender tanto a versão militar como a civil do carrão.

Importante registrar que a reportagem, como serviço, é primorosa. Mas está num caderno nitidamente comercial e não esconde o teor promocional. Se os jurisconsultos da Folha não encontrarem no Manual cláusulas condenatórias, a colunista criticada pelo Ouvidor poderá reclamar igualdade de tratamento.

O Ouvidor da Folha mais uma vez presta um grande serviço ao jornalismo. A utilização de mezzo-jornalistas como vendedores torna-se habitual. Nesta terra-de-ninguém vale tudo. A agência de propaganda do Unibanco já estrelou comerciais de TV com uma apresentadora-jornalista e uma colunista social. E não foi para promover o Fome-Zero.