MERCADO EDITORIAL
Cláudio Weber Abramo
Há coisa de uns dois anos, um livreiro paulista publicou obra intitulada Caricaturistas brasileiros. Em resenha que apareceu na revista Veja, afirmava-se que "o próprio organizador lamenta ter deixado de fora da seleção, por exemplo, Hilde Weber, a artista gráfica alemã que chegou ao Brasil nos anos 30 e atuou nas páginas da imprensa paulista nas duas décadas seguintes".
Carta um tanto furibunda enviada à redação da revista, apontando os 50 anos de atuação de Hilde Weber, primeiro na imprensa carioca, depois na paulista e em muitíssimos outros espaços e movimentos, produziu um "Veja errou" (aliás, republicado por Alberto Dines, neste Observatório).
Não produziu, porém, nenhum efeito no livreiro em questão, o qual acaba de inaugurar uma exposição sobre a história da caricatura no Brasil que, de novo, omite Hilde Weber.
Que me perdoem os eventuais leitores pela presente manifestação de nepotismo no media watching, mas tudo isso é um tanto demasiado, ainda mais porque a omissão não foi registrada pela imprensa e nem o tal livreiro foi cobrado por isso. Falar em história da caricatura no Brasil e esquecer de Hilde Weber é como falar no Estado Novo e se olvidar de Getúlio Vargas, ou de Brasília sem Juscelino, ou de São Paulo sem Adhemar de Barros, ou de árvore sem folhas ? ou, melhor dizendo, folhas sem árvore.
Que o tal livreiro faça isso ainda se entende, pois não passa de um comerciante que, por acidente, entrou de posse de umas caricaturas e aproveitou o momento mercadológico. Grotesco, porém esperado. Contudo, semelhante tolerância não pode se estender nem à imprensa que noticiou a inauguração, nem aos historiadores da arte, nem aos cartunistas contemporâneos distinguidos com um lugar na parede da exposição.
O pior, como escreveu outra de minhas referências nepóticas, é que amanhã o sujeito a quem se dê a tarefa de pesquisar alguma coisa na redação procurará no arquivo e perpetuará a mesma omissão.
A cada volta do parafuso, afundam-se mais num lodaçal de ignorância e desinformação.
(*) Secretário-geral da Transparência Brasil <http://www.transparencia.org.br>. E-mail: <cwabramo@uol.com.br>