Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A volta por cima

THE NEW YORK TIMES

O diário The New York Times divulgou um conjunto de mudanças internas a fim de restabelecer a moral construída a duras penas e abalada recentemente por uma série de fraudes e erros editoriais, que culminaram na demissão do editor-executivo Howell Raines e do subeditor-administrativo Gerald Boyd, em 5/6.

A primeira novidade foi noticiada em meados de julho e divulgada por este Observatório [veja abaixo remissão para o artigo] ? o anúncio do novo editor-executivo, Bill Keller, que assumiu o cargo em 31/7.

A segunda novidade é a criação de novos cargos importantes, como de “editor público” ? termo criativo para designar um ombudsman ? para representar os leitores, e de “editor de padrões”. De acordo com um memorando de Keller distribuído em seu primeiro dia de trabalho, o ombudsman terá “licença de escrever sobre a cobertura do Times, tendo seus comentários independentes publicados sem censura”. Já o “editor de padrões” monitorará a adequação das reportagens aos padrões do jornal e garantirá que contratações e promoções dentro da redação sejam feitas sob uma base mais transparente.

E o jornalão não quer perder tempo. Já no dia 1o/8, reportagem de Jacques Steinberg [The New York Times Company, 1o/8/03] anunciava dois nomes para ocupar os cargos de editores-administrativos. São eles Jill Abramson, chefe da sucursal de Washington do Times, e John M. Geddes, subeditor-administrativo. O anúncio foi feito por Keller. Os cargos serão assumidos em 2/9.

Jill será editora-administrativa de conteúdo de notícias; Geddes, o editor-administrativo operacional, cujas responsabilidades abarcam produção, orçamento e equipe. Eles substituirão Boyd. É a primeira vez que o segundo posto mais importante da redação será dividido.

A novidade é sugestão de um comitê interno criado em maio, cujo relatório está resumido nesta edição do OI [veja artigo nesta rubrica].

Sridhar Pappu [The New York Observer, 4/8], conta que as escolhas foram aplaudidas na redação. Geddes é um sujeito querido e respeitado, cuja personalidade calma e comunicativa reflete, segundo funcionários, a do novo chefe Keller.

A indicação de Jill marca uma vitória simbólica da sucursal de Washington sobre as “forças anti-Howellianas”. No antigo mandato, suas brigas constantes com Raines e Boyd sobre a cobertura de Washington se tornaram lendárias. Além disso, é a primeira vez que uma mulher assume posição tão alta na chefia do Times.

Outras novidades devem aparecer nas próximas semanas, uma vez que o novo editor-executivo acolheu a maior parte das recomendações do comitê.

Segundo reportagem de Jacques Steinberg [The New York Times, 30/7/03], o relatório escrito por 28 pessoas ? três delas jornalistas que não trabalham no Times ?, foi disponibilizado no sítio da New York Times Co. Clique em <http://www.nytco.com/committeereport.pdf> para ler a íntegra em formato PDF.

Contexto

As novidades no diário nova-iorquino são respostas aos recentes abalos sofridos pela redação. Há cerca de três meses, descobriu-se que o então repórter Jayson Blair plagiara e fabricara dezenas de reportagens publicadas nas páginas do Times. Após a saga de Blair, o jornal sofreu outro sobressalto com a descoberta de que o experiente e renomado Rick Bragg, vencedor de um Prêmio Pulitzer, havia assinado uma reportagem escrita, na verdade, por seu estagiário. Bragg pediu demissão após ser suspenso, alegando que “todo mundo faz isso no Times“.

Um comitê liderado pelo editor-assistente Allan M. Siegal foi formado a fim de apurar os erros cometidos tanto pelos repórteres quanto pela cultura da redação, onde as falhas graves abriram brechas profundas.

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