Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

A volta triunfal do jornalismo fiteiro

ENTRA GOVERNO, SAI GOVERNO

Alberto Dines

A gravação da reunião do ministro Antonio Palocci com a bancada do PT na Câmara (ocorrida na sexta-feira, 31/1) não foi autorizada pelos presentes. Foi clandestina. Portanto, foi ilegal a entrega da fita que reproduz a áspera discussão a um jornal e, em seguida, distribuída pela internet.

A gravação foi feita por um deputado interessado em tornar pública a discussão entre as alas mais radicais do partido e o governo. O jornal confiava na fonte, a fonte confiava nele ? negócio limpo, o que não minimiza a infração.

A matéria fez barulho, revelou um racha de razoável tamanho no partido do governo, a direção do PT reagiu impulsivamente mas o saldo desta rentrée do jornalismo fiteiro foi péssimo para a imprensa.

O que aconteceu na tumultuada reunião do PT viria à tona naturalmente sem a necessidade recorrer ao pseudogrampo. Brasília tem um excelente quadro de repórteres políticos que dispensa o uso de recursos desse tipo. E o leitor começa a se cansar do tom de escândalo que envolve nossa vida política inclusive num caso claro de divergência ideológica.

As fitas e grampos que a mídia divulgou com enorme estardalhaço na Era FHC obedeceram aos mesmos procedimentos:

** Interesses contrariados acionam um gravador escondido.

** Veículos interessados em fazer barulho divulgam sem um suporte investigativo.

** A contravenção legitima-se pela repercussão.

Chicanas e golpes de mão fazem parte do jogo político mas o contrato da sociedade com a imprensa pressupõe um distanciamento crítico e, não, o reforço destes métodos.

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