ENTRA GOVERNO, SAI GOVERNO
Alberto Dines
A gravação da reunião do ministro Antonio Palocci com a bancada do PT na Câmara (ocorrida na sexta-feira, 31/1) não foi autorizada pelos presentes. Foi clandestina. Portanto, foi ilegal a entrega da fita que reproduz a áspera discussão a um jornal e, em seguida, distribuída pela internet.
A gravação foi feita por um deputado interessado em tornar pública a discussão entre as alas mais radicais do partido e o governo. O jornal confiava na fonte, a fonte confiava nele ? negócio limpo, o que não minimiza a infração.
A matéria fez barulho, revelou um racha de razoável tamanho no partido do governo, a direção do PT reagiu impulsivamente mas o saldo desta rentrée do jornalismo fiteiro foi péssimo para a imprensa.
O que aconteceu na tumultuada reunião do PT viria à tona naturalmente sem a necessidade recorrer ao pseudogrampo. Brasília tem um excelente quadro de repórteres políticos que dispensa o uso de recursos desse tipo. E o leitor começa a se cansar do tom de escândalo que envolve nossa vida política inclusive num caso claro de divergência ideológica.
As fitas e grampos que a mídia divulgou com enorme estardalhaço na Era FHC obedeceram aos mesmos procedimentos:
** Interesses contrariados acionam um gravador escondido.
** Veículos interessados em fazer barulho divulgam sem um suporte investigativo.
** A contravenção legitima-se pela repercussão.
Chicanas e golpes de mão fazem parte do jogo político mas o contrato da sociedade com a imprensa pressupõe um distanciamento crítico e, não, o reforço destes métodos.
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