HISTÓRIA DA IMPRENSA
Thiago Barros (*)
A imprensa era o aríete que lançava a insatisfação da sociedade nos muros do despotismo português. No século 19, mais de 300 jornais, folhetins e panfletos circularam em Belém e comarcas do interior do antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão. Este dado pode ser encontrado nos catálogos elaborados no início do século 20 nos escritos de Remijio de Bellido e Manuel Barata. A grande quantidade de jornais era o reflexo das mudanças políticas e sociais que fundamentaram o marco da contemporaneidade no estado: o debate das idéias iluministas de liberdade contra o despotismo desenfreado da metrópole.
A imprensa surgiu no Pará como instrumento de prática política, que direcionava a sociedade local em relação a um dilema: como uma província que mantinha ligação direta com Lisboa e não dependia das decisões da corte no Rio de Janeiro poderia aderir ao Império brasileiro?
Segundo Aldrin Figueiredo, professor e pesquisador do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Pará era "um mundo à parte", onde travava-se um embate permanente entre forças políticas antagônicas, que acabou culminando na Cabanagem em 1835". Após a explosão da Revolução Liberal do Porto, em 1820, e da instituição da Lei de Liberdade de Imprensa, de 4 de julho de 1821, em Portugal, o paraense Felipi Patroni ? que participou ativamente dessa movimentação ?, adquiriu na Imprensa Nacional, em Lisboa, o material necessário para a construção de um jornal e associou-se ao tipógrafo Garção de Melo. Assim, lançou em maio de 1822 o primeiro jornal produzido e impresso no Pará: O Paraense, que, na edição de estréia, já criticava os que adulavam os representantes lusitanos.
Novo jornalismo
Não demorou muito para que o poder colonial tentasse frear a imprensa revolucionária. Patroni, ainda em maio de 1822, foi preso e mandado para a Fortaleza de São Julião, em Lisboa, de onde saiu após a adesão do Pará à Independência do Brasil.
Para Geraldo Mártires Coelho, pesquisador e diretor do Arquivo Público do Pará, a liberdade de imprensa era uma "incongruência que implicava fraturas na autoridade militar e política" dos dominadores. O Paraense foi empastelado, e posteriormente foram lançados O Luso-Paraense e outros jornais que serviam como porta-vozes de áulicos, contra a mudança social.
Geraldo Coelho ? nas pesquisas que culminaram no livro Anarquistas, demagogos & dissidentes: a imprensa liberal no Pará de 1822, de 1993, encontrou no Arquivo Ultramarino de Lisboa uma coleção de periódicos paraenses que mudou o rumo da nossa historiografia. A análise desses jornais e outros impressos permitiu uma maior visão da história da imprensa paraense pós-1827.
Esses jornais evidenciam a convulsão política e social provocada pela adesão do Pará ao Império brasileiro. Contraditoriamente, oficiais portugueses continuaram comandando e administrando a província, enquanto revolucionários como Batista Campos e Lavor Papagaio seguiram na oposição, mantendo a imprensa "incendiária" até a conquista de Belém em 1835 pelos cabanos.
Coelho afirma que durante a Revolução ? até o fim de 1835 ? ainda circularam três jornais: O Paquete do Governo, "agente da ordem" sob o comando de Clemente Malcher, Publicador Official Paraense e A Sabatina, ligados aos irmãos Vinagre, os quais constituíam a "esquerda em relação ao Paquete, mas não se conhece o conteúdo desses jornais".
Com a retomada de Belém pelas forças imperiais em 1836, foi lançado o jornal Treze de Maio ? nome alusivo à data do sufocamento da Cabanagem, e n&atilatilde;o à Lei Áurea ?, e, em 1837, a Folha Commercial do Pará, que consolidaram o poder imperial no estado.
Essa imprensa política e revolucionária começou a se desatrelar dessas características nos anos 1850-60, aderindo a um novo jornalismo, baseado nas vertentes internacionais de modernização.
(*) Estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Pará