O LIBERAL
Lúcio Flávio Pinto (*)
O Liberal, de Belém, tirou uma edição especial de 82 páginas no feriado de 15 de novembro para assinalar seus 55 anos de vida. A parte propriamente comemorativa ocupou 24 páginas em dois cadernos. Talvez tenha sido uma das menores edições de aniversário em muitos anos. Nem assim o jornal perde a pose: anunciando em primeira página "uma história de sucesso" ? garante, com base no Ibope, ser lido por "uma média diária de 600 mil leitores". Será?
Costuma-se calcular que um exemplar de jornal é lido, em média, por cinco pessoas. Nesse caso, a tiragem média diária de O Liberal seria de 120 mil exemplares, equivalente à do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. Na verdade, o jornal jamais chegou a esse patamar em época alguma da sua história. Chegou até a anunciar a façanha em uns poucos domingos, anos atrás, mas a marca deve ter gravitado em torno de 100 mil exemplares (não de venda, mas de tiragem, inchada pela circunstância de a empresa não aceitar sobras de jornaleiros).
Aos domingos, a tiragem esteve entre 60 e 65 mil exemplares. O Liberal está naquele tipo padrão de jornal, que tira no domingo o dobro ou um pouco menos do dobro da tiragem média nos demais dias da semana, que fica entre 35 e 40 mil exemplares. Logo, para ter 600 mil leitores, cada exemplar de O Liberal teria que ser lido por 12 pessoas, uma situação inteiramente atípica em termos mundiais. Como 90% da tiragem fica na região metropolitana de Belém, significaria que um em cada três habitantes da região metropolitana de Belém lê a folha da família Maiorana, nessa relação incluídas crianças, analfabetos, pessoas sem o menor poder aquisitivo, inválidos etc.
Talvez embalado por essa "história de sucesso", o principal executivo da empresa ? Romulo Maiorana Júnior ? assinou um editorial hiperbólico sob seu retrato, em forma de broche, ainda na primeira página do jornal. Com lucidez, admite, pouco modesto, que "de nada adiantaria o verniz tecnológico de que se reveste todo o processamento industrial do jornal, pouco efeito o visual refinado, nenhuma conseqüência, enfim, teria qualquer procedimento", se o jornal, "em algum momento, se mostrasse rompido com seus objetivos maiores: de bem informar, de ser plural, de ser presente, de jamais duvidar quando as circunstâncias o obrigam a se posicionar claramente, mesmo que disso decorram incompreensões e, não raro, críticas desprovidas de qualquer sentido".
Como proposta, trata-se de uma bela declaração de intenções. Mas não serve como retrato de O Liberal, que tem sido exatamente o oposto. Para chegar a essa constatação basta colocar uma interrogação em cada parte da oração, É mesmo objetivo de O Liberal bem informar? Suas páginas revelam-no como um órgão plural, abrigando e respeitando várias opiniões, representativas do espectro social? Suas posições editoriais são claras, não dependendo dos seus interesses comerciais e de várias outras interferências, nada jornalísticas? Ele realmente se submete aos fatos? Divulga tudo o que de relevante acontece na sua área de cobertura, sem sonegar ou manipular informações?
A julgar pelas informações que presta ao público sobre índices de leitura, as palavras juntadas sob a assinatura de Rômulo Maiorana Júnior ou são ditas em tese ou estão tratando de outro jornal. Infelizmente.
(*) Jornalista em Belém, PA, editor do Jornal Pessoal e da Agenda Amazônica