ROLO HISTÓRICO
"Procuradores na expectativa", copyright Jornal do Brasil, 8/03/01
"O procurador da República Guilherme Schelb disse ontem que teme sofrer represálias de pessoas investigadas pelo Ministério Público por causa da transcrição da fita da conversa com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) que será apresentada hoje no Senado pelo foneticista forense Ricardo Molina de Figueiredo, de Campinas.
?É um absurdo gravar a conversa e expor os colegas?, disse Guilherme Schelb numa referência ao procurador Luiz Francisco de Souza, responsável pela gravação e divulgação da conversa. ?Podemos sofrer represálias por parte de pessoas que estão sendo investigadas pelo Ministério Público.?
Schelb negou que tenha criticado o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, durante a conversa de uma hora e meia com Antonio Carlos Magalhães, no último dia 19, na Procuradoria da República no Distrito Federal. Mas disse que não se lembra de tudo o que disse na reunião.
?Lembro de ter dito que era preciso apurar denúncias de corrupção no Ministério Público, na Justiça e na polícia?, afirmou Schelb. A transcrição de uma hora de conversa será apresentada por Molina em documento de 70 páginas.
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, disse ontem que, ?nos próximos dias?, dará uma ?posição? sobre o inquérito disciplinar que poderá enquadrar o procurador Luiz Francisco de Souza em dispositivos da Lei Orgânica do Ministério Público que tratam dos ?deveres e vedações? de seus membros.
Brindeiro admitiu que ?ocorreram fatos graves, pois as fitas podiam valer como provas de eventuais crimes sérios, como a violação do painel de votação do Senado, e deveriam ter sido entregues ao chefe do Ministério Público e não destruídas ou danificadas?.
Guskow – O subprocurador-geral da República Miguel Guskow, suspeito de envolvimento com tentativa de golpe de US$ 1 bilhão com títulos da dívida externa, reassumiu há uma semana suas atividades, mesmo respondendo a investigação criminal e administrativa provocada pela própria instituição. Hoje ele depõe no Superior Tribunal de Justiça, em inquérito penal que apura seu suposto envolvimento com os golpistas.
Ontem, Guskow entrou com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal contra a decisão do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que o afastou da função de coordenador da 3? Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal. No documento, de 28 páginas, ele alega que o ato de Brindeiro foi ilegal e arbitrário por ter sido feito sem a aprovação pelo voto secreto de dois terços dos integrantes do Conselho Superior do Ministério Público. (Colaborou Luiz Orlando Carneiro)"
"A Oração de Mário Covas", copyright Época, 12/03/01
"A intensa repercussão da entrevista concedida a ÉPOCA pelo senador Antonio Carlos Magalhães, tema da reportagem de capa da edição passada, confirmou a gravidade das denúncias formuladas pelo político baiano – reafirmada, de resto, pela pronta reação do Palácio do Planalto. Esse rufar de tambores costuma ser encarado, nas redações, como uma espécie de senha para outra festa. No caso de ÉPOCA, também valeu como convite para releituras ainda mais atentas, ao fim das quais ficou constatada a necessidade de um esclarecimento. Diferentemente do que sugere um trecho do texto de abertura da entrevista, as declarações de ACM não devem ser comparadas às feitas em 1992 pelo empresário alagoano Pedro Collor, irmão caçula de Fernando Collor de Mello, que precipitaram o processo de impeachment do presidente da República.
Primeiro, porque Fernando Henrique Cardoso – como admitiu o próprio senador Antonio Carlos Magalhães – não exibe semelhanças visíveis com o jovem aventureiro afastado do poder. Os alvos dos ataques, portanto, não devem ser colocados no mesmo plano. Segundo, porque jornalistas sensatos sabem que a imprensa não tem poderes para fazer ou derrubar presidentes, nem para outorgar ou cassar mandatos. Jornais ou revistas que se candidatam a tal papel se arriscam a virar figurantes trapalhões em comédias de quinta categoria. Talvez seja necessário distribuir nas escolas de jornalismo os comentários de Katherine Graham, dona do jornal The Washington Post, sobre o Caso Watergate.
O presidente americano Richard Nixon, tem repetido exaustivamente Kay Graham, não foi derrubado pelo jornal. Ele renunciou à Casa Branca, em 1974, por ter cometido crimes (investigados por bons repórteres e insistentemente divulgados pela imprensa) que a opinião pública considerou imperdoáveis. Quem pensa o contrário ficará exposto ao risco de escorregar em idéias perigosamente equivocadas. E estará desde já incorrendo no pecado da soberba, considerado mortal também pelo catecismo de ÉPOCA.
Feitas as ressalvas, sejamos rigorosos nas cobranças, como ensinou o governador Mário Covas, e tenhamos simultaneamente a tolerância que o grande morto deste março soube exibir como poucos. Tal virtude inunda a matéria ?O legado de um lutador? que transcreve as palavras finais do discurso pronunciado pelo líder do MDB em 12 de dezembro de 1968. Vale a pena encerrar esta Carta com o que deveria receber o nome de Oração de Mário Covas:
?Creio no povo, anônimo e coletivo, com todos os seus contrastes, desde a febre criadora à mansidão paciente. Creio ser desse amálgama, dessa fusão de lama e emoções, que emana não apenas o Poder, mas a própria sabedoria. E, nele crendo, não posso desacreditar de seus delegados. Creio na palavra, ainda quando viril ou injusta, porque acredito na força das idéias e no diálogo que é seu livre embate. Creio no regime democrático, que não se confunde com a anarquia, mas que em instante algum possa rotular ou mascarar a tirania. Creio no Parlamento, ainda que com suas demasias e fraquezas, que só desaparecerão se o sustentarmos livre, soberano e independente. Creio na liberdade, este vínculo entre o homem e a eternidade, essa condição indispensável para situar o ser à imagem e semelhança de seu Criador?."
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