MEMÓRIA / OTTO LARA RESENDE
"Bom dia para nascer", copyright Jornal do Brasil, 63/05/02
"Confesso que resisti, por algum tempo, à idéia de escrever algo sobre o jornalista e escritor Otto Lara Resende, que, se vivo fosse, teria completado 80 anos no dia 1? de maio. Não é fácil escrever sobre ele, sobre a falta que faz à família, aos amigos, ao jornalismo, à literatura, ao país. Nem sobre sua inteligência, sua personalidade, sua inconfundível figura humana. Não é bom recordar como foi sua morte, há quase 10 anos, resultado de infecção hospitalar após equivocado tratamento, que se iniciou depois de simples cirurgia de hérnia de disco. Que esse trágico acidente fique definitivamente sepultado, como sempre quiseram a Helena e os seus quatro filhos, cumprindo, quem sabe, misteriosamente, um desejo do próprio morto. Mas é preciso repetir sempre que sua morte, aos 70 anos, não precisava acontecer. Tinha saúde perfeita. Foi uma traição. Foi inoportuna e um enorme desperdício, sob todos os aspectos. E doeu fundo no coração dos que com ele conviveram, mesmo em doses menores e de maneira às vezes fugidia.
Lembrei-me, no dia 1? de maio, da sua primeira crônica na Folha de S. Paulo, intitulada Bom dia para nascer, que, depois de sua morte, se tornou título de livro e serve hoje de título a este artigo. Deu-se no dia em que completava 69 anos. E essa era a sua grande preocupação – a idade. Depois de algum tempo ausente da imprensa diária, assumira com o jornal, de segunda a domingo, sem qualquer dia de descanso, um compromisso que lhe metia medo. De nada lhe valeram os calos de velho e experimentado jornalista. Forte, saudável e em esplendorosa forma física e intelectual, mesmo assim, preocupou-se com tudo, até com o público que o aguardava, que envolvia, não o leitor do Rio ou de Minas, aos quais já se acostumara, mas principalmente o de São Paulo. E não é que, naquele dia, quase septuagenário, renascia o mesmo Otto Lara Resende, dono da mesma verve, do mesmo texto – enxuto, escorreito, perfeito como nunca.
No último sábado, ao assistir ao programa Observatório da Imprensa, do jornalista (e mestre) Alberto Dines, todo ele dedicado a Otto Lara Resende, fui tomado não apenas de grande saudade, mas de profundo remorso. Por que deixara para depois o que só agora estou fazendo? Roberto Sherer, velho amigo, residente em Miami, presente em Belo Horizonte naquele dia, que não conheceu pessoalmente o Otto, telefonou-me, logo após o programa, para me dizer do seu espanto: ?Nunca vi na televisão brasileira um programa contendo depoimentos sobre alguém apenas fundados na mais pura e desinteressada amizade?. Outra resposta não poderia dar ao meu amigo senão esta: ?Pois foi esse que você viu no vídeo o verdadeiro, solidário, único e saudoso Otto Lara Resende. Irmão, amigo, humano. Que se foi de uma só vez, sem se despedir, como se embarcasse numa imperceptível e delicada nuvem, mas deixou, como poucos, para sempre, um incomensurável e doloroso vazio?. Meu amigo Roberto Sherer tem razão: o programa do Dines primou pela gratuidade."
SAULO RAMOS CONTESTADO
"Mandato", copyright Folha de S. Paulo, 20/05/02
"?Em relação à carta do senhor Saulo Ramos (?Mandato presidencial?, ?Painel do Leitor?, pág. A3, 16/5), que escreveu em defesa do ex-presidente José Sarney, gostaria de lembrar que, realmente, apesar de o governo militar haver estabelecido um mandato presidencial de seis anos, com a redemocratização, a luta da sociedade era pelo restabelecimento do mandato de quatro anos, que manteria a prática democrática vigente anteriormente. O senhor Sarney, contrariando o desejo da maioria da população do país, obteve do Congresso o mandato de cinco anos para usufruir mais um ano de poder. Gostaria de lembrar uma antiga propaganda da Folha que dizia que ?é possível dizer muitas mentiras falando somente a verdade?. Esqueceram?? Humberto Bagatini Júnior (São Paulo, SP)"