MORDAÇA & “CALA A BOCA”
Carta do ex e futuro senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) ao Jornal do Brasil, contestando opiniões emitidas em artigo semanal de Alberto Dines naquele jornal, deixou um bafio de truculência preconceituosa no ar e suscitou manifestações de leitores do JB, reproduzidas na edição passada deste Observatório [remissão abaixo].
A resposta de Dines à correspondência do senador provocou nova mensagem do veterano político, reproduzida abaixo. Na seqüência, o trecho final do artigo “Ventos de mudança na Botocúndia” (JB, 18/1/03) em que Dines replica ACM.
“O senhor, na sua resposta, tenta intrigar-me com a colônia judaica, onde tenho muitos amigos e os admiro, alguns dos quais foram meus secretários nos governos da Bahia. O próprio rabino Henry Sobel, a quem admiro e respeito, é testemunha do meu apreço, portanto não se confunda à sua figura com a dos milhares e milhares de judeus que não são como o senhor. Graças a Deus. O importante é que o senhor não respondeu ao meu fax em vários pontos, fugindo por esse caminho as verdades que eu apontei. Recorra à sua memória, se é que ela ainda está boa, que o senhor me dará razão em todos os pontos em que a sua resposta foi obscura. Renovo os votos de feliz ano novo.” Antonio Carlos Magalhães, Salvador, por fax.
Alberto Dines
Excerto de “Ventos de mudança na Botocúndia”, copyright Jornal do Brasil, 18/1/03
Devidamente ferrado e enquadrado, o senador ACM retoma o gênero epistolar com evidentes embaraços no uso da crase. Manda dizer que seus melhores amigos são judeus, seus auxiliares são judeus e o rabino Sobel abençoou-o com a sua amizade. Goebbels afirmava que os judeus alemães nada tinham a ver com as mentiras propagadas pelos judeus que fugiram da Alemanha, Hitler adorava o doido ex-judeu Otto Weininger, Mussolini teve uma amante judia e o rabino Sobel foi peça vital na comprovação de que Vladimir Herzog foi assassinado pelos militares quando ACM era o porta-voz dos militares. E quando ACM brigou com seu parceiro Mário Kértesz chamou-o de “judeu fedorento”.
Curioso, e não sem razão, o senador quer saber minha opinião sobre os dois primeiros volumes de Ilusões Armadas, de Elio Gaspari (Companhia das Letras). Ainda não li e já gostei. Só comete uma injustiça e com o próprio ACM ? manteve-o em injusto anonimato. Uma das peças-chave da aproximação de Golbery com jornalistas profissionais, ACM merece mais do que as quatro parcas referências no primeiro volume e nenhuma no segundo. Diversas obras citadas na cuidada bibliografia foram mais generosas.
Imaginando-se malicioso, cobra-me esclarecimentos sobre pontos “importantes” da carta anterior. Acusou-me de alcagüete do SNI e terá que prová-lo na Justiça, na tribuna do Senado ou através dos jornais. Cabe a ele o ônus da prova, o que não lhe será difícil dadas as facilidades de que sempre gozou na instituição. Se não provar, passará à história como solerte mentiroso. Münchausen da Botocúndia.
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