FALSIFICAÇÕES ELETRÔNICAS
Luiz Egypto
Na edição da semana passada foi relatada uma tentativa
de fraude sofrida por este Observatório, partida de
um(a) falsário(a) que se fazia passar pelo jornalista Lúcio
Flávio Pinto e “assinava” matéria na qual acusava
três outros jornalistas de utilizarem declarações
de uma fonte que jamais teria sido ouvida por eles. A matéria
em questão não foi publicada, mas o processo de checagem
de sua autenticidade provocou desgastes tremendos, como se pôde
constatar pelos relatos dados na edição n? 234, sobretudo
em função do vazamento, independente de nossa vontade,
de correspondências privadas da equipe do OI com as
partes envolvidas [veja remissões abaixo].
Ocorre, e este é o motivo que move a redação destas linhas, que essa não foi a primeira tentativa de usar o Observatório para objetivos torpes e, de quebra, desmoralizar jornalistas e veículos. Foi a segunda, num espaço de duas semanas.
Na quinta-feira, 3/7, o OI recebeu uma proposta de matéria que denunciava grave delito cometido por repórter de uma conhecida organização jornalística. A autora da denúncia identificava-se como jornalista e “editora de meio ambiente” de um portal de internet. A matéria chegou à Redação do OI no início da tarde de segunda-feira (7/7). Um pedido para que enviasse um número de telefone para contato foi desconhecido pela autora. (Aqui, dois pontos em comum entre a primeira e a segunda tentativa de fraude: os “artigos” nos chegaram numa segunda-feira, dia em que é fechada a quase totalidade dos textos da edição semanal; e as solicitações de telefone de contato não foram atendidas.)
Na mesma segunda, dia 7, o OI dirigiu-se à organização jornalística acusada na matéria solicitando-lhe uma posição sobre o caso. A resposta veio, primeiro, na forma de uma nota burocrática que reafirmava as informações então contestadas; e, depois, por meio um pedido de tempo para juntar a documentação necessária para provar que a jornalista não estivera nos locais em que dissera ter estado ? e, portanto, não poderia fazer as acusações que fazia.
(Os nomes do veículo, da suposta autora da matéria e do portal em que esta afirmara trabalhar ficam preservados porque, diferentemente do segundo caso, as correspondências internas trocadas entre as partes não se tornaram públicas.)
Na tarde de terça (8/7), a publicação da matéria foi suspensa. Um pedido de contato telefônico feito à autora, por e-mail, foi respondido com uma ligação a cobrar, ao que tudo indica feita a partir de um telefone público. Na quinta (10/7), o OI tomou conhecimento da documentação preparada pela organização jornalística. Decidiu-se colocar o material à disposição da jornalista, que, antes, informara uma viagem com volta marcada para a segunda-feira, 21/7. Neste dia, enquanto ferviam os desdobramentos da segunda tentativa de fraude, o contato não foi feito. Um telefonema ao portal do qual a autora da matéria dissera ser “editora de meio ambiente” revelou que ninguém ali a conhecia.
A exumação desse primeiro caso vem a propósito das reações havidas no decorrer do segundo, a respeito do qual vários leitores se manifestam na presente edição [veja no Caderno do Leitor]. Da apuração do segundo caso ? e muito embora, nos dois episódios, as matérias suspeitas não tenham sido publicadas ?, ficaram feridas que agora cumpre tratar:
** o OI se deu conta que seus procedimentos de checagem eram, na prática, os mesmos desde abril de 1996, quando este sítio surgiu na internet e os relacionamentos que a partir dali começou a estabelecer tinham como base a confiança nas pessoas que nos procuravam;
** o OI assumiu os equívocos de sua checagem (em especial quando sob pressão do fechamento) e revelou que, num momento circunstancial da apuração do segundo episódio, não considerou haver cidadãos acima de qualquer suspeita;
** o OI obrigou-se a aprimorar seus mecanismos de apuração e conferência de dados e pediu desculpas públicas aos quatro jornalistas cujos nomes se viram envolvidos nessa história suja.
Os tempos mudaram e os de agora não são tempos de paz. Nesse ínterim, o Observatório cresceu e conquistou leitores. Para a equipe do OI foi um espanto prazeroso quando, em meados de 1999, ultrapassamos a marca de 1.000 páginas vistas (page views) num único dia. Hoje, a audiência média diária é maior do que 60.000 páginas vistas. É esperado, portanto, que o OI seja alvo de iniciativas como as que levaram a cabo os fraudadores, na tentativa de desmoralizar jornalistas e nos atingir no maior patrimônio acumulado nesses sete anos e meio de presença regular na internet: a credibilidade.
Este Observatório considera o assunto encerrado. Notificou o episódio ao NBSO (Nic BR Security Office ? Grupo de Resposta a Incidentes de Segurança para a Internet Brasileira), mantido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, para conhecimento e providências cabíveis. Daqui por diante é um caso de polícia que não cabe ao OI demandar. O Observatório da Imprensa mantém-se aberto às manifestações de leitores interessados em comentar nossos procedimentos nesses episódios.
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A história de uma fraude ? Luiz Antonio Magalhães, Marinilda Carvalho e L.E.