ASPAS
ÉLCIO ÁLVARES vs. ISTOÉ
"Vitória da liberdade", copyright IstoÉ,
18/06/01
"No dia 27 de setembro de 1999, o delegado da polícia civil Francisco Vicente Badenes Júnior estava diante dos deputados da Assembléia Legislativa do Espírito Santo contando à CPI daquele Estado as relações entre o crime organizado e autoridades políticas. Um desses políticos era Élcio Álvares, então ministro da Defesa e também alvo de investigações do serviço de inteligência do Palácio do Planalto e da Procuradoria da República. Preocupada com revelações de tal importância, ISTOÉ acompanhou a história e, apurado os fatos, decidiu divulgá-la. Antes mesmo de a primeira reportagem chegar às bancas, o então ministro, informado de seu conteúdo, escreveu à revista: ?Tomarei as providências legais cabíveis.? Dito e feito. Dias depois, Élcio Álvares entrou com um processo por calúnia e difamação contra a revista, exigindo pagamento de indenização por danos morais. Esse foi mais um caso que o advogado Clodoaldo Pacce Filho abraçou em defesa da liberdade de imprensa ao provar que a matéria de ISTOÉ foi elaborada com isenção e baseada em farta documentação fornecida por órgão oficiais.
Prêmio Esso – Na semana passada, o veredicto. Um ano e oito meses se passaram e a ação movida por Álvares foi julgada improcedente pela juíza Cláudia Longobardi Campana. Ela considerou objetivas as reportagens que divulgaram um fato de interesse público. O conjunto de matérias acabou rendendo ao jornalista Andrei Meireles, da sucursal de ISTOÉ de Brasília, o Prêmio Esso de Reportagem. ?A revista usou informações de órgãos do próprio governo do Espírito Santo e da Procuradoria. O ex-ministro deveria, portanto, processar em primeiro lugar as pessoas que fizeram essas acusações?, afirma o advogado, ao comentar a vitória. Com 22 anos de advocacia, Clodoaldo é um especialista quando o assunto é defender o direito de livre expressão. ?Com anos de ditadura nas costas, o Brasil estava desacostumado a praticar esse direito. É um trabalho que me agrada bastante?, diz. No entanto, nem pela constante convivência com os profissionais da imprensa, ele se vê motivado a trocar de lugar com os jornalistas. ?Prefiro ficar com a pior parte?, brinca. O advogado explica que é comum uma personalidade pública processar um órgão de impressa quando a matéria não a agrada. ?Em geral, a pessoa que se sente incomodada com uma publicação a seu respeito busca, com um processo, mostrar à opinião pública que não tem medo e acredita na sua defesa. É o seu direito constitucional e, por isso, a revista sempre respeitará a decisão do juiz?, afirma. A quem critica o jornalismo investigativo, classificando-o como prática de puro ?denuncismo?, o advogado deixa um recado: ?Não é o jornalista que cria o fato. Ele retrata a realidade do País.?"
PROFISSÃO SUJA
"Reflexões sobre o duro ofício do jornalismo",
copyright Folha de S. Paulo, 16/06/01
"São mais de 40 anos no ofício. Tempo de sobra para aprender os macetes todos e, sabendo manejá-los, assumir a cara e a coragem do vencedor. Mas não deu pé. Olho-me no espelho e vejo sempre o rosto antigo e perdedor. Seria o caso de me perguntar: onde errei? Qual foi a esquina que eu dobrei errado?
Na verdade, foram tantas as esquinas erradamente dobradas que fica difícil descobrir a esquina fatal. Olhando tudo em conjunto, desconfio que, na soma de tantos e tamanhos erros, alguma coisa deveria dar certo. Como no caso do prêmio da Loteria Federal incansavelmente procurado. Se durante 40 anos eu tivesse comprado todos os dias um bilhete, talvez tivesse ganhado alguma coisa, não digo o prêmio maior, mas algum tipo de consolação que me daria a esperança, o alento para continuar insistindo.
Tal como a seleção nacional de agora, nada deu certo.
Felizmente -e para diminuir o prejuízo da operação- houve algum lucro. Duramente aprendi que tudo tem um preço e que não precisava ter-me esbofado tanto para lucrar tão pouco. Outro dia, folheando um jornal ao lado de um amigo tarimbado no mesmo ofício, fomos identificando os lobbies de cada um, o itinerário de cada produção, o roteiro de cada sucesso, o calvário de cada fracasso.
Tudo tão óbvio, tudo tão primário que, de repente, chegamos à conclusão de que não são mais os jornalistas que fazem o ofício, e sim os lobistas de diversos tamanhos, feitios e intenções. São eles que pressionam para que determinado ministro apareça mais do que outro, para que determinado artista brilhe mais do que o colega, para que determinado assunto tenha mais peso em determinada edição.
Hora a hora, minuto a minuto, na feitura de um jornal, de uma revista ou na reunião de pauta do departamento de jornalismo das redes de TV, o lobby direto ou indireto, explícito ou camuflado, atua sem trégua, criando estratagemas que vão da garrafa de uísque no Natal ao acesso privilegiado de determinada fonte, passando pelos subornos menores, socialmente tolerados, como o almoço no restaurante caro ou o tapinha nas costas para mostrar intimidade.
Acho que já contei aqui: no tempo de meu pai, a imprensa era subornada com a mesa do lanche que os dirigentes esportivos, que então se chamavam ?paredros?, promoviam no meio tempo das partidas. A rapaziada dos jornais acorria, mesmo que não fosse ligada ao futebol. Durante a semana, avisava-se nas redações que o Fluminense ou o Botafogo ofereceriam um lanche aos ?rapazes da imprensa? entre o primeiro e o segundo ?half time? -e os ditos rapazes, alguns já de cabelos brancos ou sem cabelo algum, surgiam aflitos e famélicos, em busca dos sanduíches de salame e dos copos de guaraná na generosa boca-livre daqueles tempos.
Hoje, o furo é mais em cima. Em linhas gerais, e apesar das idas e vindas na profissão, o pessoal da imprensa subiu de nível social e econômico, mas continua gravitando em torno dos ricos e dos poderosos. A estrutura do poder de tal modo se acomodou à imprensa (a operação contrária também se verificou, com a imprensa se acomodando à classe dirigente) que hoje a Presidência da República, os ministérios, os departamentos de primeiro escalão, os bancos, as administrações estaduais e municipais, as principais empresas e até mesmo os principais indivíduos dispõem de um serviço de assessoramento de imprensa, o tal do porta-voz em destaque, no alto do carro alegórico, distribuindo beijos à multidão das galerias.
Mais de 40 anos de ofício -repito- e o pouco que sei não valeu a pena aprender nem valerá a pena transmitir. Encurtando a história: em 1961, em Punta del Este, numa Conferência dos Estados Americanos (OEA), entrevistei o chanceler do Haiti, que ali estava votando a expulsão de Cuba daquele organismo continental. Com seu francês impecável, ele conseguira derrubar os argumentos de Che Guevara, que era o chefe da delegação cubana.
Encontrei o enorme crioulo tomando sol na praia e decidi incomodá-lo. Ele representava a ditadura de Papa Doc, a mais sangrenta, a mais repugnante daquele tempo. Mesmo assim, apoiado pela delegação norte-americana, posava de defensor do que então se chamava mundo livre.
Perguntei-lhe se não havia contradição entre sua atitude, representante de uma ditadura assumidamente truculenta, espalhafatosamente reacionária, e o relatório que apresentara, segundo se sabia, redigido pelo Departamento de Estado e pela CIA.
De óculos escuros, alto e magro, típico representante da tropa dos ?touton macute?, que eram a SS do ditador haitiano, ele me respondeu em seu francês burilado: ?Monsieur, la votre profession est très sale? (Senhor, a sua profissão é muito suja). Evidente que tive de responder, ?La votre aussi, monsieur? (A sua também, senhor).
É isso aí. Existem profissões sujas. No caso do jornalismo, a sujeira talvez nem chegue a ser individual (às vezes é, mas em escala pequena). De uma forma ou de outra, para sobreviver nela é confortador saber que vendemos nossa alma diariamente por um copo de guaraná e um sanduíche de salame. Às vezes, nem isso."
MÍDIA NOVA
"Jornal lança versão diária em CD",
copyright CidadeBiz (www.cidadebiz.com.br), 15/06/01
"Começou a circular na semana passada a versão em CD do diário Akron Beacon Journal, em Akron, no Estado de Ohio, ao mesmo preço do exemplar em papel, 25 centavos de dólar. De acordo com o diretor da área interativa do jornal, Mike Needs, a nova mídia tem a cara do leitor mais jovem, que está mais acostumado a pilotar um computador em vez de ficar folheando as páginas em papel.
Em notícia veiculada pela agência de notícias AP, é o primeiro jornal a circular em CD nos Estados Unidos, com algumas vantagens sobre a versão em papel: pode ter mais de uma dezena de fotos para cada reportagem, a publicidade pode ser apresentada em vídeos e se o leitor quiser ler em papel basta imprimir a notícia.
As primeiras medições registraram a venda média de 150 CDs, bem menos que a produção inicial da empresa, 250 CDs por noite."