TV & LÍNGUA PORTUGUESA
"?Fala sério?: a TV ofende o idioma?", copyright O Estado de S. Paulo, 1/12/02
"?Ah… Fala sério!? A gíria, repetida à exaustão pela personagem Tati, de Heloísa Périssé no quadro Papo Irado, do Fantástico, já caiu na boca do povo. Para alguns lingüistas,o uso exagerado de gírias e expressões idiomáticas nos programas de TV não é exatamente um problema, já que essa é uma forma de caracterizar os diferentes tipos sociais. Alguns educadores, porém, são contra.
Para compor a adolescente Tati, Heloísa se inspirou em sua enteada de 12 anos, Paulinha. Os bordões ?tipo assim?, ?manero?, ?caraca? e ?lesada? não foram criações da TV – vieram da vida real mesmo -, mas ganharam dimensão nacional a partir da telinha. Cada um pode ter muitos significados implícitos, mas em termos gramaticais não se pode dizer o mesmo. Em alguns casos, falta coerência e respeito às regras do idioma.
Para a professora de Língua Portuguesa Priscila Yoshida, apesar da influência da TV, a decisão sobre usar ou não uma frase da moda depende de cada um. ?É muito pessoal porque elas só se aplicam em situações específicas de informalidade e quase sempre acompanham uma situação descontraída, de brincadeira ou piada.?
Priscila explica que esses bordões, criados por personagens caricatos de telenovelas e programas de entretenimento, não se aplicam em contextos formais como entrevistas e textos escritos. ?Quando alguém utiliza expressões desse gênero em situações mais formais, pode se sentir constrangido, pois ficará evidente que a frase foi usada involuntariamente?.
Apesar de serem repetidas com tanta freqüência, essas expressões são rapidamente esquecidas pelo público, de acordo com o fim dos programas que as difundem e as novas criações, de novas atrações. Isso demonstra o caráter volátil da gíria. Prova disso é que é preciso fazer muito esforço para se lembrar de expressões usadas há algum tempo.
E o que elas acrescentam, então? ?Elas não contribuem em nada para a Língua Portuguesa, apenas para o estudo do comportamento da sociedade em épocas distintas, podendo assim traçar-se paralelos com os momentos históricos, políticos e econômicos do País?, define o professor Sírio Possenti, do Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp.
Para ele, não há nenhum problema com o uso de gírias, na televisão ou em outro lugar qualquer. ?E estranho seria que não ocorressem, pois isso significaria que nenhum tipo social seria caracterizado por sua linguagem ou que só haveria personagens de uma característica.?
Ele comenta ainda que o sotaque, os termos técnicos, as variantes gramaticais, etc. contribuem para caracterizar e identificar os diferentes tipos de falantes, como classes sociais, grupos e estrangeiros.
?Simplesmente não há língua uniforme. Ainda bem.? Sírio também desconsidera a hipótese de haver o interesse das emissoras em manter empobrecido o vocabulário da população. ?O problema da televisão não é a pobreza de vocabulário, mas a pobreza do conteúdo em geral? , salienta. ?Em um programa qualquer, a única coisa que se salva é a relativa riqueza lingüística…
Basta compará-la com a mesmice das músicas ou das opiniões. O que é o uso de gírias comparado com um musical com Sandy e Junior??
Influência – As novelas costumam lançar muitos termos inovadores, que rapidamente caem no gosto popular. Quem não se lembra do bordão Tô certo ou tô errado?, repetido pelo personagem Sinhozinho Malta (Lima Duarte), em Roque Santeiro? Ou da falta de concordância de gênero ditada por Dona Armênia (Aracy Balabanian) em Rainha da Sucata (?pôr a prédio na chon?). Recentemente, O Clone lançou várias expressões. Só do núcleo muçulmano, a novela difundiu as palavras ?haram? (pecado) e ?inshala? (tomara Deus, se Deus quiser), e expressões ligeiramente adaptadas, como ?jogar no vento?, ?espetaculosa? e ?queimar no mármore do inferno?, entre outras. Mas a que sobreviveu ao fim da trama foi ?não é brinquedo, não?, de Dona Jura (Solange Couto). Ainda na mesma novela, o ator Eri Jonhson, perito em lançar modismos, vivia o personagem Ligeiro. Seu ?Bom te ver?, utilizado em qualquer situação, também ganhou reflexo fora da tela.
Atualmente, o personagem de TV mais imitado nas ruas atende por Seu Creysson, interpretado pelo humorista Cláudio Manoel no Casseta & Planeta, Urgente!. O público imita o modo errado de ele falar, inserindo um ?i? em todas as palavras, e passa longe do risco de tropeçar no dicionário. ?Ele fala tão errado que é difícil até de copiar. Sei que há até professores brincando com as falas do Seu Creysson para poder ensinar o jeito certo de falar?, conta o humorista."
FAUSTÃO vs. GUGU
"A mesma guerra, outro vencedor", copyright O Estado de S. Paulo, 1/12/02
"Nem Silvio Santos nem Roberto Marinho. O ibope é o verdadeiro patrão da TV. É por ele que Gugu Liberato e Fausto Silva se matam na famosa guerra que vem mostrando um novo vencedor nos últimos meses: o Domingão do Faustão. Acostumado a liderar o ibope em São Paulo – praça mais importante para os anunciantes -, Gugu viu Faustão retomar o fôlego aos domingos.
Para piorar, ganhou quase uma hora a mais de programa, o que desgastou o Domingo Legal, a ponto de fazê-lo perder de um filme da Globo, no último dia 19, por uma diferença de mais de 10 pontos. No domingo passado, até o Domingo da Gente, de Netinho, na Record, foi melhor do que o de Gugu. A atração registrou média de 9 pontos, ante 7 do SBT.
O diretor do Domingo Legal, Roberto Manzoni, defende-se. ?A Globo contratou o Corinthians para nos enfrentar?, diz ele, referindo-se aos campeonatos de futebol exibidos pela rede dos Marinhos à tarde. ?O jogo entrega a audiência lá em cima para o Faustão e fica difícil para a gente reverter.?
No contra-ataque, Gugu estréia hoje um novo programa, Disco de Ouro, que vai ao ar às 12h45. É uma espécie de parada musical – cópia do Sabadão – e vai anteceder o Domingo Legal, que volta para as 15h. Encomenda de Silvio Santos.
Esgotamento – Para o diretor da ONG TVer, que estuda a programação da TV, Laurindo Leal Filho, essas oscilações de audiência nada mais espelham do que a mesmice que afeta os programas de domingo. Segundo ele, o esgotamento de alguns assuntos, que acabam sendo explorados durante a semana por programas dos mais variados tipos, deixam Gugu e Faustão praticamente iguais. ?Essas atrações ficaram tão homogêneas que o telespectador fica desnorteado, mudando do Gugu para o Faustão em busca de um diferencial, que quase sempre não encontra?, diz ele. ?Quando o Fausto vence em audiência, não quer dizer que seu programa está melhor que o de Gugu em determinado período, ou vice-versa. É só uma pitada a mais de sensacionalismo aqui, outra ali, que chama a atenção do telespectador.?
Manzoni, do SBT, rebate. Assume que realmente é difícil encontrar um diferencial para o domingo em casos como o de Pedrinho, ou da família Von Richthofen – que seriam um prato cheio para Gugu em outras temporadas – , mas garante que, no factual, o Domingo Legal sai na frente das outras emissoras. ?No jornalismo do domingo, nós somos os melhores.?
Circo – O diretor de Mídia da DM9, Daniel Chalfon, diz que a retomada de Faustão já foi sentida pelo mercado publicitário – o programa está lotado de anúncios até o final do ano -, mas lembra que ainda não é hora de comemorar . ?O reflexo disso só poderá ser realmente sentido no ano que vem, com números consolidados, longe de festas que impulsionam as vendas?, diz Chalfon. ?O mais importante é que Faustão cresceu mantendo a qualidade, investiu em quadros para a família e isso é que fisga os bons anunciantes?, fala, referindo-se ao circense Se Vira Nos 30.
Ele também afirma que Gugu e Faustão não são tão iguais assim, o que pode ser visto no perfil da audiência de cada um. ?O Gugu tem uma audiência específica, um público maior da classe C, mais crianças e adolescentes do que o Faustão. O anunciante que busca isso não vai deixá-lo.?
Para Manzoni, a briga vai começar mesmo em 22 de dezembro, quando Fausto não terá mais o futebol para apoiá-lo. ?Com o término dos campeonatos, vamos voltar a disputar mano a mano.?"
"Gugu magoou", copyright Veja, 4/12/02
"Gugu Liberato está ansioso para dizer adeus a 2002. Até o momento, o ano só lhe trouxe más notícias no campo profissional. Virou rotina, por exemplo, ver seu programa, o Domingo Legal, perder para a concorrência. O maior desastre aconteceu há duas semanas, quando a atração do loiro do SBT registrou 8 pontos de ibope enquanto a Rede Globo alcançava 20 ao reprisar o filme Missão Impossível. Gugu também vem apanhando do Domingão do Faustão. Já foi derrotado em 24 fins de semana – situação bem diferente daquela de 2001, quando só perdeu duas vezes (veja quadro). Na semana passada, foi a vez de uma denúncia vir à tona contra a atração de maior sucesso do Domingo Legal. Circulou a suspeita de que Washington Luiz Azzi Junior, em vez de ser um solteirão à procura de uma noiva, como alardeia o quadro Quer Casar Comigo?, teria uma namorada. Na quinta-feira, o SBT temia que a notícia arranhasse a credibilidade – e sobretudo a audiência – do quadro. Como se não bastassem esses problemas, Gugu ainda não digeriu um revés que sofreu nos bastidores da televisão. Ele havia obtido a concessão de uma emissora de UHF em Mato Grosso, mas logo em seguida teve o direito cassado pelo Ministério das Comunicações, que encontrou irregularidades no processo. O canal mato-grossense seria o embrião da rede que Gugu sonha em ter um dia.
Para explicar o mau momento, o apresentador atira em várias direções. Ele se pergunta se o Ibope não estaria falhando na medição de audiência. ?Por que a dupla Zezé Di Camargo e Luciano deu 30 pontos na Globo e só 20 no meu programa? Tem algo de estranho?, diz ele. Até mesmo os domingos ensolarados levam a culpa: seriam responsáveis por tirar o telespectador de dentro de casa. Por essa lógica, se o Brasil fosse a Noruega, Gugu seria imbatível. Na verdade, o problema está em outro lugar. Quadros que antigamente faziam sucesso, como Telegrama Legal e Loucuras de Amor, caíram na mesmice. E Gugu tem dado menos atenção a seu programa de domingo do que acontecia antes. Nos últimos meses, as obras de sua produtora, em São Paulo, foram prioridade. ?Agora só falta acabar a decoração?, diz ele. São 8.500 metros quadrados de área, entre estúdios, ilhas de edição, enormes salas de reunião e até uma capela, onde o loiro às vezes vai meditar. Como se pode imaginar, a produtora e a aquisição de um canal de TV eram projetos casados. Daí o desânimo do apresentador com a perda da concessão. ?Perder uma batalha na audiência é coisa que acontece e que pode ser revertida. Mas essa história realmente me magoou?, diz Gugu."