OBSERVATÓRIO INTERNACIONAL
Leneide Duarte-Plon (*), de Paris
Por causa desse tipo de imprensa que em vez de representar a opinião pública a condiciona segundo seus próprios interesses, o presidente do diretório do jornal Le Monde Diplomatique Ignacio Ramonet criou a Media Watch Global ? ou Observatório Internacional da Mídia. Em entrevista ao jornal L?Humanité [publicação historicamente ligada ao Partido Comunista Francês], Ramonet declarou que, em vez de ser um quarto poder a serviço dos cidadãos, a imprensa transformou-se em um poder a mais "completamente integrado ao poder econômico, que aliena e esmaga os indivíduos". Por isso, lhe veio a idéia de criar uma instituição em que os cidadãos teriam o controle da mídia.
Esse Observatório Internacional da Mídia já começou a ser chamado de "Attac internacional da mídia", uma vez que surgiu para responder à intenção dos cidadãos de todos os países preocupados em dispor de meios de reagir diante da incomensurável força dos gigantes da comunicação ? vetores ideológicos e beneficiários econômicos da mundialização liberal.
Na edição de janeiro, o Le Monde Diplomatique detalhou o projeto:
"É indispensável inventar um quinto poder para proteger a sociedade contra os abusos da mídia, defender a informação como bem público e reivindicar o direito dos cidadãos de acesso a ela. Na era da internet, a superabundância de informações traduz-se por um aumento exponencial das manipulações, das mentiras e de campanhas de intoxicação. Por isso, uma descontaminação, uma espécie de despoluição da mídia, torna-se indispensável pela elaboração do que se pode chamar de ?ecologia da informação?".
E a força desse quinto poder será sobretudo moral. Os Observatórios de imprensa promoverão crítica ética e sancionarão o que considerarem falha de honestidade profissional, por meio de relatórios e de estudos divulgados no mundo todo. Segundo o Le Monde Diplomatique, o acesso à informação não será garantido apenas por organizações de jornalistas.
O Observatório reunirá três tipos de membros fundadores: jornalistas profissionais, ativos ou aposentados, da imprensa escrita, TV, rádio ou internet; professores universitários e pesquisadores de todas as disciplinas, em particular especialistas da informação e da comunicação; e, por último, representantes de associações de leitores, ouvintes e telespectadores, além de intelectuais e personalidades reconhecidas por sua estatura moral. Cada cidadão interessado poderá tornar-se membro ativo, em todos os sentidos, dos diferentes observatórios nacionais que serão criados.
Resta esperar para ver se a influência de personagens como Rupert Murdoch [veja matéria "Rupert Murdoch: para ele a guerra já começou" na rubrica Mídia Vai À Guerra, nesta edição do OI], com bala na agulha para influenciar fatias consideráveis dos diversos públicos no mundo inteiro, poderá ser enfrentada e neutralizada pelos observatórios da imprensa feitos por jornalistas, leitores, intelectuais e demais cidadãos.