Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Agnes Augusto

ASPAS

COMANDANTE ROLIM

"Por que a Globo não falou de Rolim?", copyright Jornal da Tarde, 15/07/01

"O domingo passado, dia 8, véspera de feriado, prometia ser tranqüilo. Até a notícia, no início da tarde, da fuga de 106 presos da Casa de Detenção de São Paulo. A maior fuga já registrada na história do Carandiru acionou a cobertura jornalística de grande parte da imprensa, que rapidamente mobilizou os profissionais de plantão.

Poucas horas depois, surgiu a notícia da queda de um helicóptero no Paraguai, no qual estavam o presidente da TAM, comandante Rolim Adolfo Amaro, de 58 anos, e uma funcionária, Patrícia Santos Silva, de 30. Mais trabalho para as equipes de mídia impressa e eletrônica. Para quem estava em casa, sintonizado na TV Globo, no entanto, a segunda notícia passou praticamente em branco. A emissora carioca não interrompeu a programação dominical nenhuma vez com a famosa (e assustadora) vinheta de ?plantão?, comumente usada nesses casos, para anunciar a morte das duas vítimas.

Durante a tarde, o Domingão do Faustão seguiu seu ritmo indiferentemente, com a escolha do sósia do ator Murilo Benício para a próxima novela das oito, a homenagem aos 35 anos de carreira de Antônio Fagundes e as tradicionais e intermináveis videocassetadas. Apenas algumas chamadas ao vivo sobre o acidente aéreo, sem muito destaque, no meio do programa.

Enquanto isso, seu concorrente mais feroz, Gugu Liberato, já apresentava cenas do local do acidente com a imagem do helicóptero despedaçado no chão. Coincidência ou não, o SBT venceu mais uma vez a guerra de audiência naquele dia, derrotando a Globo por 24 a 20 pontos.

Até então, poderia-se pensar em um atraso na escalação das equipes de plantão, em um domingo no qual outro fato de peso já ocorria na cidade. Mas bastou seguir acompanhando a programação da Globo para perceber que não foi bem isso o que aconteceu. Os apresentadores do Fantástico anunciaram, na abertura, as principais matérias do dia (a chamada ?escalada?, em tevê) e, incrivelmente, a morte do comandante Rolim não foi incluída entre elas. No decorrer do programa, uma entrada ao vivo, sem grande destaque, sobre a chegada do corpo a São Paulo e o início do velório em Congonhas.

Na segunda-feira, o SPTV da hora do almoço teve início com a notícia do Carandiru e tratou deste assunto por longo tempo – inclusive reapresentando entrevista exibida no Fantástico com o coronel da PM Rui César Melo. Em seguida, falou-se sobre reciclagem de materiais e, então, outra longa reapresentação de matéria do Fantástico, sobre alimentação versus colesterol. Comandante Rolim? Uma palavrinha qualquer, perdida no meio do telejornal.

O SPTV da noite priorizou novamente o Carandiru, usou outra vez a entrevista do domingo e da segunda com o coronel Rui César Melo, e lembrou o retorno de feriado do paulistano nas estradas. Algumas poucas cenas do enterro de Rolim foram mostradas. E, na mesma noite, o Jornal Nacional incluiu a morte do dono da TAM na escalada, mas só apresentou a notícia depois de outra matéria do Carandiru e até mesmo da exibição de conflitos no Oriente Médio.

Depois de tantas evidências, o telespectador deve estar se perguntando: por que a Globo deu tão pouca importância para a morte trágica de um dos mais importantes empresários brasileiros da atualidade? Por que não fez uma cobertura digna do seu chamado ?padrão Globo de jornalismo?? Por que a morte do comandante Rolim recebeu tão menor atenção que a do governador Mário Covas ou não foi muito mais comentada que o também acidente aéreo do músico Herbert Viana, dos Paralamas? Será por causa dos anúncios que a TAM fazia durante a programação esportiva da TV Bandeirantes? Haveria alguma rixa política entre a emissora carioca e o dono da empresa aérea? É só o que se pode imaginar em uma atitude como essa.

Os mesmos questionamentos foram enviados pelo JT à assessoria de imprensa da TV Globo, em São Paulo, solicitando uma posição oficial por parte da emissora sobre o assunto. Durante dois dias, foi cobrada uma resposta, que infelizmente não veio até o fechamento do caderno, na quinta-feira. Tal fato nos leva a crer em uma, de duas hipóteses: havia uma rixa política, sim, entre a emissora e o comandante Rolim, que não interessa ser comentada, ou a Globo acredita que sua cobertura foi adequada e considera desnecessário dar maiores explicações ao jornal e aos seus leitores (muitos dos quais certamente telespectadores globais). O julgamento final cabe apenas a cada um de nós."

PICADEIRO
O azedume da Folha contra o avanço da Globo em SP

Reza a lenda futebolística que os grandes jogadores jamais revidam de pronto às maldosas botinadas que recebem dos adversários. Os boleiros autênticos sabem escolher o momento apropriado para devolver, longe dos olhos do árbitro e de seus auxiliares, as provocações recebidas. Pelé foi mestre nesses expedientes.

A volta da coluna "No Ar", de Nelson de Sá, às páginas da Folha de S. Paulo é um revide inteligente. Os Frias, controladores da Folha, sentiram que a sociedade com a família Marinho em torno do jornal Valor Econômico está estremecendo. É que as Organizações Globo parecem decididas a entrar para valer no mercado de São Paulo.

A compra do Diário Popular foi apenas o primeiro passo. Já é sabido nos meios publicitários que a marca comprada será abandonada. A Globo vai relançar o Diário de S. Paulo, que adquiriu junto com o título campeão de venda em banca na praça paulista. Com o novo Diário, o perfil "classe C" do antigo desaparece e a Globo tentará competir de verdade com a Folha e o Estado de S. Paulo. Pelo menos esta é a intenção.

O projeto dos Marinho para a conquista do mercado publicitário paulista é arrojado. A campanha do novo jornal foi entregue à agência Ogilvy. Sabe-se que ele terá um projeto gráfico diferenciado (uma versão bandeirante de O Globo) e que lutará para conseguir a melhor cobertura da cidade de São Paulo. Também nunca é demais lembrar que, junto com o Diário de S. Paulo, virá a Época SP, para bater de frente na dupla Veja/IstoÉ. A munição global, definitivamente, não será pequena.

Até aqui, mais do que o Estadão, a Folha demonstrou ter sentido o golpe. Para contra-atacar, sacou uma arma que não usava desde 4 de maio do ano passado, quando "No Ar" foi suspensa. Não é todo dia que Nelson de Sá bate na Globo em sua ressuscitada coluna e nem todos os ataques são de grande potência. Não precisaria: a rigor, a maior virtude de "No Ar" é a dose diária de "azedume", como o próprio colunista aludiu em artigo pretensamente polêmico que acabou servindo de chamariz para o relançamento de seu espaço no jornal.

Para o leitor da Folha, a volta de "No Ar" não deixa de ser uma notícia alvissareira, pois o produto sempre foi de boa qualidade. Coisas da competição. Ou do fim do Cartel. (LAM)

    
    
                     
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