BALANÇO 2003
Victor Gentilli
A expectativa no início de 2003 era de grandes mudanças. Afinal, quebrava-se a monotonia de governos conservadores que vinha se reproduzindo desde o fim da ditadura militar em 1985. Neste início de 2004, as expectativas parecem bem mais mornas, mas é provável que, como vaticinou o chefe da Casa Civil, o pau vá comer, com a proposta do governo de reforma da universidade.
O ano começou e terminou com um debate antigo e alguns poucos argumentos novos. A chamada "questão do diploma" aparecia de novo com a confirmação da sentença inicial da juíza Carla Rister e as manifestações de praxe. Ao fim (do ano), a indefinição legal se mantinha, embora a muitos parecesse que o movimento mais recente das peças fosse definitivo. O caso, claro, ainda vai ter mais desdobramentos. Nas escolas, já é assunto velho, que não mais sensibiliza ninguém. Aqui ou ali pipocam ações e manifestações, cada vez menores, cada vez mais inodoras, cada vez mais inofensivas, cada vez menos significativas.
O tema da avaliação pegou. Lamentavelmente, porém, ficou circunscrito ao velho Provão, iniciativa de Paulo Renato Sousa, ministro de Fernando Henrique nos seus oito anos, que continuou rendendo controvérsias. O governo nomeou uma comissão especial, que demorou quase nove meses para parir uma proposta, que, pouco debatida, transformou-se (com várias modificações importantes) em medida provisória encaminhada ao Congresso em dezembro. Antes disso, as possibilidades de diálogo entre as autoridades de ensino e os cursos iam se desfazendo, com o fim de todas as comissões de especialistas, seja na SESu (Secretaria do Ensino Superior, do MEC), seja no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, que comandava as avaliações, dentre elas o Provão). Aliás, no Inep, a troca de cargos na Diretoria de Avaliações e na presidência gerava instabilidade em todos os sentidos ameaçadora da cultura de avaliação.
Esta (a cultura de avaliação) parece que pegou. Mas no caso dos cursos de Jornalismo, as informações são imprecisas. Na proposta da Comissão de Especialistas, a avaliação por cursos era substituída por uma avaliação por áreas (sem maiores definições). Como o ensino de Jornalismo é realizado nos cursos de Comunicação (com a honrosa exceção da UFSC, que oferece o único curso de Jornalismo do Brasil), é bastante provável que a possibilidade de aferir a qualidade do ensino esteja sendo, de fato, encerrada. Perdeu-se o Provão, perderam-se as avaliações das condições de ensino. Como os padrões de qualidade para autorização e reconhecimento de cursos já se tinham perdido no governo anterior, agora todos os instrumentos de aferição foram jogados fora.
De todo modo, houve movimento: uma das iniciativas previstas pela nova MP do governo já animou consultores e consultorias que oferecem planos e projetos para que as instituições dêem início às suas atividades de auto-avaliação.
A crise na Faculdade Cásper L&iaciacute;bero foi outra que começou com o ano. No decorrer de janeiro e fevereiro a tensão se agudizou, mas alcançou-se um entendimento. Com o rompimento unilateral do acordo, confirmado pelo afastamento definitivo do coordenador de Jornalismo, a crise retornou. Os melhores professores pediram demissão. A mais recente tentativa (rica e interessante) em que jornalistas experientes e experimentados nas redações ensinavam Jornalismo a garotos que desejavam ser jornalistas ia tendo fim.
Nas universidades públicas, a mesmice de sempre. Bem, os equipamentos de rádio, TV e fotografia prometidos desde 1996 finalmente chegaram. Muitos cursos ainda estão sofrendo para conseguir dar abrigo e uso compatíveis com as necessidades pedagógicas. Mas enfim, os equipamentos vieram e o compromisso de aumentar em 25% foi honrado. As universidades públicas puderam perceber que os velhos problemas ainda teriam que esperar. O tema da aposentadoria, que opôs o governo anterior a servidores e professores retornou e aumentou o conflito. Como a reforma universitária está para vir e o ministro José Dirceu já anunciou que "o pau vai comer", não é improvável que, de fato, os conflitos se acentuem em 2004.
Mas os ganhos e as conquistas se deram mesmo foi no rés do chão. Os professores de Jornalismo realizaram seu sexto encontro em Natal e o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo cada vez mais se credencia como um espaço privilegiado para o debate e a discussão dos grandes assuntos de formação profissional e do ensino de graduação.
A criação, no fim do ano, da Sociedade Brasileira dos Pesquisadores de Jornalismo (SBPJor) deu vigor (e organicidade) àqueles que estudam e se debruçam sobre o fenômeno do jornalismo. Entre os professores e pesquisadores é que os sinais de vida são mais vigorosos. Tanto melhor. É deles que deverão vir os bons sinais de 2004.
Leia também