JB, GZM & GREVE
"Acordo entre ?Gazeta? e ?JB? está suspenso", copyright O Estado de S. Paulo, 20/10/01
"A Gazeta Mercantil contratou a empresa de consultoria econômica World Invest para buscar um sócio investidor e implementar um programa de redução de custos do jornal econômico. A informação é do diretor-responsável da Gazeta Mercantil, Luiz Fernando Ferreira Levy, em entrevista à Agência Estado. Com isso, o acordo entre a Gazeta Mercantil e a JB Comercial, do empresário Nelson Tanure, está ?suspenso?, de comum acordo entre as partes, segundo Levy.
A missão da World Invest é encontrar sócios investidores e não sócios estratégicos, conforme especificou o diretor da Gazeta Mercantil. Na sua opinião, a empresa já está profissionalizada e não precisa de ninguém externo para ?tocar o negócio?. Levy reconhece que a empresa tem apresentado problemas de capital de giro, o que resultou até em atrasos no pagamento de salários e outros benefícios aos funcionários.
O diretor da Gazeta disse que não há um prazo definido para a conclusão do trabalho da World Invest e que um dos trabalhos mais delicados será a redução de custo. Levy não confirmou se a empresa fará demissões, mas lembrou que o maior custo de uma empresa de comunicação é a mão-de-obra.
Outro aspecto que Levy fez questão de destacar é que a negociação com Tanure pode ser restabelecida a qualquer momento. Mas se não o for, a Gazeta Mercantil pagará o adiantamento que o controlador do JB fez ao jornal econômico, estimado por Levy em R$ 2 milhões.
Levy garantiu, porém, que ?em nenhum momento? acertou a venda do controle acionário da Gazeta para Tanure."
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"Empresário quer rede de jornais", copyright O Estado de S. Paulo, 19/10/01
"O empresário Nelson Tanure está buscando formas de integração entre o Jornal do Brasil, a Gazeta Mercantil e os Diários Associados, grupo que edita, entre outros veículos, o Correio Braziliense, em Brasília, o Estado de Minas, em Belo Horizonte, e o Jornal do Comércio, no Rio. A informação foi confirmada pelo presidente do Jornal do Brasil, José Antônio do Nascimento Brito, sócio de Tanure no JB, em entrevista coletiva, ontem, no Rio.
A integração com a Gazeta Mercantil começou pela área comercial. Desde anteontem os profissionais do departamento comercial da Gazeta Mercantil passaram a integrar a estrutura da JB Comercial S/A, empresa criada por Tanure para cuidar da publicidade, comercialização e marketing do diário carioca. Além disso, Tanure passou a gerenciar o caixa do jornal econômico, em conjunto com o banco de investimentos Fator, disse Nascimento Brito.
O presidente do JB disse que Tanure está analisando um plano preparado pelos profissionais da Gazeta Mercantil visando à reestruturação do jornal econômico. E os diretores de redação dos dois veículos, Roberto Muller (Gazeta Mercantil) e Augusto Nunes (Jornal do Brasil), estão discutindo parcerias na produção de conteúdo para ambos os veículos.
De acordo com Nascimento Brito, o grupo de Tanure está trabalhando com um cenário em que haverá ?forte consolidação? das empresas de comunicação nos próximos anos. Segundo ele, ?todos os veículos, sem exceção? estão vivendo momentos de forte aperto de caixa e existem diversas formas de atuação visando à redução de custos. A compra de papel e outros insumos gráficos, por exemplo, já está sedo praticada em conjunto para o JB e a Gazeta Mercantil.
A possível entrada de Tanure no grupo Diários Associados passa pela aquisição da participação de Gilberto Chateaubriand – filho de Assis Chateaubriand – no Condomínio que administra os veículos.
Segundo Nascimento Brito, há duas semanas Tanure adquiriu uma opção de compra dos direitos de Gilberto Chateaubriand com validade de 12 meses. Nesse intervalo decidirá se exerce, ou não, esse direito.
Terra – O portal Terra, do grupo espanhol Telefónica, anunciou ontem acordo de parceria com o grupo Jornal do Brasil, tornando-se o provedor de acesso do JB. Desde anteontem o conteúdo do JB está hospedado em computadores do Terra e as equipes das duas empresas estão programando ações conjuntas nas áreas publicitária, comercial e de tecnologia.
A meta das duas empresas é ter acréscimo de 60% na base atual de assinantes no Rio no período de 12 meses. Por enquanto o Portal está fora da negociação entre o JB e a Gazeta Mercantil."
"Em regime de transição, jornalistas da Gazeta Mercantil estão de olho na transação", copyright Comunique-se, 18/10/01
"É ainda confuso o quadro geral na Gazeta Mercantil, cujo desfecho parece ainda longe de uma solução. Em greve desde a 2?.feira (15/10) mais de 150 jornalistas dos diversos veículos da empresa aguardam, de um lado, o desenrolar das várias negociações levadas a cabo pela empresa e, de outro, os resultados da ação de dissídio interposta no Tribunal Regional do Trabalho, de São Paulo, que pode – em não havendo acordo – decretar a legalidade do movimento, o que beneficiaria os profissionais com estabilidade no emprego.
Em relação ao pagamento dos salários, a empresa acertou boa parte dos atrasados de setembro, mas deve outras verbas trabalhistas, como férias, FGTS etc. Como há o natural temor de que, concluindo-se alguma negociação com terceiros, essa dívida venha a ter o mesmo destino que tiveram em inúmeros outros casos conhecidos, entre eles o JB e a tevê Manchete, o movimento busca prevenir-se contra isso. Fred Ghedini, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, capitaneia as negociações, tendo a seu lado o escritório de advocacia Piza & Associados, muito conceituado no mercado. Quer evitar dar qualquer passo em falso que venha a prejudicar os seus representados. Ganhou um inesperado reforço na tarde desta 3?.feira, com a presença na assembléia de dirigentes dos sindicatos dos gráficos de SP, Osasco e Barueri, que representam os gráficos da capital e também do parque gráfico da Mercantil, no bairro de Tamboré.
O movimento conta com a solidariedade de outras sucursais, mas sem a força que se concentra na capital, onde a paralisação contou com a adesão majoritária de repórteres e editores. Não havia, entre os grevistas, a ilusão de que a greve impediria a circulação do jornal, até porque essa interrupção poderia atrapalhar ainda mais as negociações, pelos problemas financeiros decorrentes. Para fechar o jornal, os coordenadores e diretores apelam para material de arquivo, agências, sucursais, e também com material quente produzido pela equipe que não aderiu ao movimento. Uma dessas matérias, publicada na edição desta 3?.feira (16/10), foi com Roberto Civita, presidente do Grupo Abril, revelando os passos da mais poderosa editora de revistas da América Latina no seu processo de sucessão em 2007. A Abril, vale ressaltar, foi candidatíssima à aquisição de parte do controle acionário da Mercantil, um ano atrás, mas desistiu do negócio no meio do caminho.
As negociações com o empresário Nélson Tanure envolvem apenas as áreas comercial (publicidade) e de assinaturas, que são as que mexem com o dinheiro da empresa. Ou seja, Tanure entrará com dinheiro, mas terá a garantia de controlar as áreas em que este mesmo dinheiro entra, o que lhe dará maiores garantias de retorno do investimento feito. Fonte do jornal ouvida por Jornalistas&Cia garante que o contrato em estudo não passa sequer perto da questão do controle acionário e limita-se às áreas acima destacadas. Paralelamente, Levy mantém outras frentes de negociação, mas também nelas não abre mão do controle da empresa. E busca uma instituição financeira que invista na empresa e assuma o processo de gestão, disposta a fazer o saneamento necessário para que a empresa finalmente volte a dar lucro.
Cobiçado por muitos grupos – com interesses diversos – , o maior desafio da Gazeta Mercantil será passar por esse processo de transição e transação sem perder a independência editorial e a credibilidade conquistadas nesses anos todos. Resta saber como o mercado (leitores e anunciantes) reagirá caso esse movimento se alastre por muito mais tempo. Afinal, a última coisa que se pode esperar de um jornal especializado em economia, finanças e negócios, é que não saiba fazer a lição de casa exatamente nesses quesitos."