ECOS DA GUERRA
"Terror: nem ?mas? nem meio ?mas?", copyright Jornal do Brasil, 23/08/03
"O terrorismo legitima-se nas conjunções. Nasce do ódio, entranha-se nas ressalvas. Já nas horas seguintes ao 11 de setembro de 2001 apareceram vozes hipócritas a lamentar as mortes mas rendidas às supostas razões dos assassinos. Condenaram o morticínio porém admitiam as implícitas justificativas da bandidagem política. Na ocasião, o então candidato Lula teve a coragem de iniciar sua campanha eleitoral registrando um protesto sem qualquer tipo de atenuante. Recusou a armadilha do relativismo politicamente correto e moralmente abominável.
Os cerca de 20 tipos de conjunções previstas em nossa gramática são indispensáveis à exposição de idéias. Sem a ajuda de conjunções adversativas nosso discurso seria linear, estreito, sem dimensão, nuances ou contrastes. Nos 10 Mandamentos não valem entretantos: quem concorda com o ?Não Matarás? não pode adicionar um todavia.
Guerras são abomináveis, sem exceção: o conceito de guerra justa ou guerra santa é uma aberração psicológica ou teológica inadmissível num mundo que busca a valorização do homem. E o terrorismo, ainda mais diabólico do que as guerras, não pode ser contemplado por escusas ou atenuações.
Se admitirmos que em 1914 o estudante sérvio Gavrilo Princip tinha razões para matar o casal de herdeiros do Império Austro-Húngaro teremos de aceitar, resignados, os 10 milhões de sacrificados na Primeira Grande Guerra, deflagrada a partir do atentado de Sarajevo.
Se o terrorismo for atenuado por qualquer tipo de contudo, seremos obrigados a fechar os olhos ao contraterrorismo, à tortura e à supressão do Estado de Direito. A guerra é, pelo menos, regida por leis, convenções e hipocrisias; já o terrorismo desobriga-se de qualquer tipo de humanidade. Quanto mais inocentes, melhor. Quanto mais covarde, melhor. Quanto mais sanguinário, melhor. Quanto mais repugnante, melhor.
Contemplar o terrorismo com qualquer tipo de escusa e compreensão é conceder-lhe um certificado de aprovação. Considerar sua validade mesmo com remotas e absurdas elucubrações de caráter político ou ideológico é consagrá-lo como recurso universal. Admitir qualquer um de seus pretextos equivale a iniciar um incontrolável banho de sangue que, além das vítimas, causará um estrago irreparável no regime e nas instituições democráticos do mundo inteiro
O presidente Lula da Silva foi novamente preciso tão logo soube do atentado que vitimou o chefe da missão da ONU em Bagdá: ?Sérgio Vieira de Mello foi vítima da insanidade do terrorismo?. Não se deixou seduzir pelas interpretações que abrandam e comprometem convicções necessariamente inabaláveis.
Mas o secretário nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, parece que não se comoveu com o assassinato do seu colega, alto comissário para os Direitos Humanos da ONU: ?A morte dele é um desdobramento de um erro anterior, uma guerra com motivos forjados?. (JB, 20/8, p. A-9). Ministro de Estado, deputado há três mandatos e sempre comprometido com a causa da defesa da vida, homem do bem, S. Excia. serviu-se da tragédia para manifestar-se como analista internacional (já que é formado em jornalismo). Esqueceu que diante do terrorismo não há lugar para vacilações: ou é repudiado com veemência ou sutilmente admitido. E, neste caso, vale como sinal verde para a violência política.
Sem os atributos morais de Nilmário Miranda, o presidente do Senado, José Sarney, esborrachou-se novamente na sua hebdomadária exibição de literatura rastaqüera (JB e Folha, 22/8). A propósito do massacre perpetrado contra a missão da paz em Bagdá, o aliado civil do regime militar tentou justificar a brutalidade com uma frase atribuída ao falecido Sérgio Vieira de Mello: ?Eu não gostaria de ver tanques estrangeiros em Copacabana?.
Vieira de Mello estava certíssimo. Incorreta, abusiva e trapaceira é a tentativa de manipular uma constatação séria, responsável e convertê-la numa justificativa para retaliações indiscriminadas. Quem conheceu o comissário da ONU sabe que ele seria incapaz de empolgar-se pelo abominável sofisma de que os fins justificam os meios.
O terrorismo é simplista e, como eventuais vítimas do terrorismo ilimitado, não podemos nos iludir com raciocínios viciosos. É evidente que a invasão do Iraque foi absurda, assim também a alegação de que era preciso destruir as armas de destruição em massa. EUA e Inglaterra não tiveram a coragem de usar como casus belli o terror imposto por Saddam Hussein simplesmente porque a maioria esmagadora dos países da região é dominada por regimes igualmente repressivos. Também é claro que a segurança de uma país ocupado cabe às forças de ocupação.
Essas são conclusões políticas que não podem ser entendidas como capitulação ao vale-tudo. Diante do terror, não há lugar para meios-termos. No brado de horror não cabe mas nem meio mas."
"EUA recrutam espiões, diz ?Post?", copyright Folha de S. Paulo, 25/08/03
"Autoridades da coalizão liderada pelos EUA começaram uma campanha secreta de recrutamento e de treinamento de espiões iraquianos -que tentarão ajudar a identificar membros da resistência armada iraquiana-, segundo informação publicada ontem no ?Washington Post?.
Grupos da resistência armada iraquiana vêm cometendo graves atentados no Iraque, colocando em xeque a autoridade da coalizão e pondo em dúvida a capacidade dos EUA de reconstruir a sociedade e a economia iraquianas.
Citando fontes americanas e iraquianas não identificadas, o diário de Washington disse que a decisão de recrutar ex-agentes do regime de Saddam Hussein mostra que as autoridades dos EUA já admitem que as forças americanas sozinhas não são capazes de evitar ataques terroristas, como o que devastou a sede da ONU na última terça-feira.
De acordo com um funcionário graduado do governo dos EUA ouvido pelo ?Post?, o recrutamento de espiões iraquianos foi intensificado nas últimas duas semanas. De acordo com a mesma fonte, embora seja complicado fazer uso de ex-funcionários do regime deposto, a situação atual obriga os EUA a tentar obter todas as informações possíveis.
Segundo o ?Post?, suas fontes não quiseram dizer quantos ex-agentes de Saddam já foram recrutados pelos EUA."
"Jornal iraquiano suspenso pela coligação volta às bancas", copyright Público (www.publico.pt), 25/08/03
"O jornal iraquiano ?Al-Moustaqilla? (que significa ?O Independente?), cuja publicação foi suspensa por ordem das forças da coligação há um mês sob a acusação de o título incitar à violência, deverá voltar às bancas esta semana. O director do jornal, Abdel Sattar Al-Chaalane, que chegou a estar detido durante três semanas, já avisou que vai levar a coligação a tribunal e exigir ?a reparação dos danos morais e materiais? que sofreu. De acordo com o secretário-geral do sindicato dos jornalistas daquele país, citado pela AFP, continuam ainda presos seis jornalistas iraquianos.
?Al-Moustaqilla? publicou, a 13 de Julho, um artigo claramente incitativo e intitulado ?Morte a todos os espiões e aos que cooperam com os americanos, matá-los é um dever religioso?, afirmou uma fonte da administração americana no Iraque. Desde a queda do regime de Saddam Hussein já apareceu cerca de uma centena de novos títulos no Iraque."
ECOS DE KELLY
"Caso Kelly compromete Tony Blair", copyright Folha de S. Paulo, 25/08/03
"Segundo documentos do inquérito judicial divulgados anteontem, o premiê do Reino Unido, Tony Blair, e seus assessores tiveram um papel fundamental na decisão de identificar a fonte da BBC que disse que o governo britânico exagerara sobre a importância de Saddam Hussein.
O cientista David Kelly foi o informante da emissora pública e suicidou-se no mês passado em um bosque próximo a sua casa. O cientista estava sofrendo fortes pressões depois que o Ministério da Defesa, no qual era especialista em armamentos, revelou que ele passara informações à BBC.
A divulgação dos documentos na internet levou algumas publicações britânicas a prever que Blair enfrentará dificuldades antes de ir à Justiça, nesta semana, para depor.
O inquérito investiga o suicídio de Kelly depois que ele foi identificado como fonte da emissora. Anteontem, centenas de documentos que haviam sido submetidos ao inquérito foram publicados pelo juiz Brian Hutton na internet, divulgando algumas informações que, até então, não haviam sido publicadas pela imprensa nem pela Justiça.
Uma nota confidencial indica que Blair presidiu uma série de reuniões em seu gabinete onde se decidiu tornar pública a informação da fonte. O memorando autorizava o Ministério da Defesa a ?mencionar a estratégia?."