TERROR NOS EUA
Embora o governo tenha alertado que ataques terroristas podem ocorrer novamente nos Estados Unidos, a imprensa americana está se mostrando cética sobre a motivação de tais avisos e procura usar tom equilibrado para não assustar o público desnecessariamente. Paul Slavin, produtor do World News Tonight (ABC), acha que as declarações do vice-presidente, Dick Cheney, sobre as chances de um novo atentado da al-Qaida vieram num momento que "coincide demais" com o anúncio das falhas da Casa Branca na avaliação dos alertas sobre ataques terroristas antes de setembro. "Estamos empregando uma análise política mais rigorosa à história."
John McWethy, correspondente de segurança nacional da ABC, disse aos telespectadores que o governo Bush, "queimado pelas acusações", agora decidiu que deve contar mais ao público, "mesmo quando não há nada muito novo". Jim Murphy, produtor do Evening News (CBS), duvida das motivações políticas: "Eles também podem estar incomodados com a informação que têm, sentindo-se obrigados a dividi-la com o público", opina.
É uma situação estranha para os jornalistas, observa Seth Sutel [AP, 22/5/02]: ao mesmo tempo em que pedem mais informações oficiais, estão céticos sobre os motivos que levam o governo a liberá-las. Ward Bushee, editor of the Cincinnati Enquirer, explica a resistência: "Nossos leitores querem ser informados, não excessivamente alarmados. Há uma nova realidade, em que ameaças terroristas podem ocorrer com regularidade."
Os atentados de 11 de setembro ainda preocupam a mídia americana. Em encontro do grupo consultivo de catástrofes da Comissão Federal de Comunicações (FCC, sigla em inglês), executivos de emissoras concluíram que é necessário ter mais de uma antena transmissora para cada área, além de conexão física com os sistemas de TV a cabo, caso algo destrua o meio normal de transmissão. "Temos de aumentar a redundância do sistema", resumiu Rupert Murdoch, na Broadcasting & Cable [20/5/02].
"Muitas emissoras a cabo não puderam nos retransmitir porque captavam nosso sinal pelo ar", exemplifica o gerente-geral da WABC-TV, cuja distribuição de sinal ficou restrita ao cabo depois que sua antena desapareceu junto com o World Trade Center.
Reportagem de Joe Strupp para a Editor & Publisher [20/5/02] mostra que nas redações dos EUA o efeito da onda de medo também ainda é visível. As cartas com antraz que circularam pouco após os ataques terroristas fizeram com que muitos jornais preparassem esquemas especiais para receber correspondência. No Newsday de Melville, estado de Nova York, funcionários vestidos com roupas especiais inspecionam tudo que o correio traz, abrindo as embalagens e passando-as por uma máquina de raios-X. O Arizona Daily Star colocou um trailer no estacionamento para este tipo de procedimento.
A inspeção da correspondência virou hábito também nos jornais Washington Post, Atlanta Journal-Constitution, Los Angeles Times, South Florida Sun-Sentinel, Orlando Sentinel, The Palm Beach Post e Florida Times-Union.
Em outros a vigilância está diminuindo. O Boston Herald e o Miami Herald removeram os trailers que usavam para a triagem postal. "Mas tudo que parece suspeito ainda é separado e aberto com luvas", conta Rachelle Cohen, do Boston Herald.