Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Alexandre Werneck

CASA DOS ARTISTAS

"De olho na concorrência" copyright Jornal do Brasil, 16/12/01

"Quando o Big brother Brasil estrear, em 2002, a TV Globo lança aqui um programa de sucesso estrondoso em cada um dos 18 países em que foi exibido. Desde a estréia do primeiro, na Holanda, em 1999, o Big brother já foi adaptado – e bateu recordes de audiência – em países como Alemanha, Inglaterra, EUA e até África do Sul. Mas a emissora sabe que o lançamento não é tão lançamento assim. Para todos os que assistiram à Casa dos artistas, do SBT, o programa deve trazer uma sensa&ccediccedil;ão de dejà vu. Por isso, a emissora está desenhando o projeto com estratégia de guerra.

A estréia, anunciada para o período entre janeiro e março, foi protelada e ainda não tem data definida. A Globo guarda o segredo a sete chaves e só vai definir os detalhes depois de 30 de dezembro, quando terminam as inscrições dos concorrentes e quando o SBT já deve ter decidido a segunda versão de seu programa. Enquanto a data não chega, até a contabilidade das inscrições virou arma de divulgação: a emissora emite boletins diários – às vezes mais de um por dia – anunciando o montante. Até o fim da semana passada, o número passava de 260 mil.

Planejamento – Por enquanto, de concreto, só a casa, que está sendo construída no Projac, o complexo de estúdios da Globo, com supervisão da Endemol, produtora holandesa que criou o reality show. Ela deve ocupar 1,5 mil metros quadrados, entre jardim e área construída. A planta está sendo rediscutida. Na última semana, o diretor Boninho, responsável pela primeira e terceira versões de No limite, foi convocado, às pressas, para assumir o projeto junto ao diretor Luiz Gleiser. Levou com ele boa parte da equipe que fez os dois reality shows inspirados no americano Survivor.

Basicamente, o Big brother Brasil é um filhote do original. O modelo é o consagrado no Brasil por Casa dos artistas: 12 pessoas – no holandês, que começou com nove, hoje o número chega a 18 – ficam isoladas do mundo em uma casa, com a missão de conviver, observadas por câmeras e microfones, 24 horas por dia. Na maior parte dos países, a convivência dura 90 dias. No Brasil, Casa dos artistas teve a metade disso. O programa da Globo deverá confinar seus participantes por 60 dias. O público verá flashes diários e, em um programa semanal, escolhe um para deixar a casa. No final, aquele que restar é o vencedor. Por aqui, os 12 participantes – seis homens e seis mulheres – vão concorrer a, diz a emissora, não menos que R$ 500 mil.

Além de ser exibido na TV aberta, o programa poderá ser acompanhado em canais pay-per-view (como funcionou a parceria entre o SBT e a Directv), na internet e em flashes em emissoras de rádio. É gente comum em casa, vendo gente comum na tela. Para fugir da fórmula original – e de seu desgaste depois de uma possível segunda versão de Casa dos artistas -, comenta-se que a direção da Globo pensa em ??tropicalizar?? o reality show. As pistas desta adaptação fazem parte do mistério. Assim como o apresentador. Inicialmente pensou-se em Antônio Fagundes, que já apresentou o Você decide, mas o nome foi descartado. Também houve boatos sobre Zeca No limite Camargo, mas sabe-se que a diretora-geral da Globo, Marluce Dias da Silva, é contra.

Grande irmão – O sucesso esperado aqui é reflexo do percurso internacional. A fórmula do Big brother se espalhou rapidamente pelo mundo, dando a impressão de que o ??Grande irmão?? está em todo lugar. Mas essa onipresença nem sempre foi bem vista. O nome Big brother é oriundo do apocalíptico romance 1984, publicado em 1949, mas escrito por George Orwell em 1948 (84 é a inversão de 48). Crítica aos regimes totalitários que emergiam depois da Segunda Guerra Mundial, particularmente ao stalinismo, o livro se passa em 1984, em um mundo dividido por superpotências. Uma delas é uma ditadura controlada pelo Big Brother (Grande Irmão), uma espécie de entidade. Câmeras observam as pessoas o tempo todo, proporcionando controle total do Estado sobre suas vidas. O protagonista é um funcionário que burla a vigilância.

O livro ganhou duas versões no cinema. A primeira é de 1956, mas foi a feita em 1984 que ganhou importância. Dirigida por Michael Radford, que depois faria O carteiro e o poeta, teve os atores John Hurt e Richard Burton no elenco. Hoje, Martin Rosemblum, produtor do filme, está processando a Endemol e a CBS, que exibe o Big brother americano, pelo uso do nome do personagem, de quem detém os direitos. Lá como cá, o programa é motivo de briga."

"?Big Brother? é acusado de plágio nos EUA e na Europa, enquanto no Brasil a Globo processa SBT" copyright iG, 10/12/01

, Editor do Último Segundo (leao.serva@ig.com.br)

Com veículos de comunicação em todos os meios (rádio, TV, jornais e internet), a Globo move também uma campanha desigual contra o SBT na opinião pública, levando muitos leitores a crerem que ?Big Brother? seria uma criação genuína, inédita, pela qual ela pagou direitos autorais.

Mas a julgar pela saraivada de ações na Justiça do chamado Primeiro Mundo, a empresa holandesa Endemol deveria explicar-se antes de mais nada.

A ação mais importante que ela sofre é do detentor dos direitos de conversão para a tevê do romance ?1984?, de George Orwell, que inventou a figura do ?Grande Irmão? (tradução de ?Big Brother?), o opressor onipresente de uma sociedade futurista que mantinha todos os lares sob observação constante de seu olhar tecnológico.

O livro de Orwell foi lançado em 1949, imaginando a sociedade de época que parecia de um futuro distante. Em 1984, algumas de suas idéias pareciam ultrapassadas. Mas o voyeurismo usado nos programas de tevê tipo ?No Limite? (copiado do sucesso norte-americano ?Survivor?) não existia há 17 anos.

O título do programa supostamente ?inventado? na Holanda pela empresa Endemol (que vendeu a idéia para a TV Globo por valores ainda incertos) é uma referência explícita e procura se beneficiar da fama universal alcançada pelo ?Big Brother? (Grande Irmão). Mas nem por isso seus produtores do programa respeitaram os direitos de George Orwell.

Essa apropriação do nome e do esquema de controle absoluto da vida de um certo grupo sob observação constante levaram Marvin Rosenblum, de Chicago, a processar os produtores de ?Big Brother? quando eles levaram o programa para os Estados Unidos, através da CBS.

Rosenblum comprou os direitos de conversão de ?1984? para filme e televisão.

A CBS era a ?TV Globo dos EUA? até o início dos anos 1980, quando a revolução provocada pela TV a cabo e a dificuldade de lidar com a queda de receita decorrente da perda de audiência da tevê convencional, fizeram com que a emissora perdesse o norte e progressivamente a liderança.

Rosenblum aponta como mais um indício do que acusa ser um plágio explícito o fato de que um dos produtores de ?Big Brother? deu a sua empresa o nome de Orwell Productions.

Talvez o envolvimento nessa polêmica tenha tirado da Big Brother americano o sucesso obtido pelas versões européias do programa. Na Grã-Bretanha, por exemplo, o ?Big Brother? manteve os ingleses presos à tevê como eles não ficavam desde os escândalos envolvendo o príncipe Charles e o enterro da princesa Diana.

George Orwell foi um jornalista e escritor britânico de posições políticas de esquerda democrática. Chocado com a ditadura comunista de Josef Stalin na Rússia, imaginou em sua obra um regime de absoluto controle dos cidadãos, que os mantinha sob permanente vigilância do ?grande irmão?.

Orwell escreveu também o infantil ?A Revolução dos Bichos?, em que alguns animais tomam o poder numa fazenda para em seguida colocar os outros bichos novamente sob uma ditadura ainda pior do que a exercida antes pelos humanos (outra metáfora da tragédia comunista para a utopia socialista).

Outra ação judicial por plágio, movida contra a empresa Endemol, é de Charlie Parsons, produtor milionário que acusa a Endemol de criar ?Big Brother? a partir de informações obtidas ilegalmente com a contratação de um executivo da produtora Planet 24, que Parsons dirigia e que criou ?Survivor?.

Ainda uma outra ação contra a Endemol e seus representantes nos EUA é movida por um site apimentado de internet, chamado ?Voyeur Dorm?, que muito antes do ?Big Brother? já mostrava a intimidade (inteira) de mulheres em suas casas."