PROVÃO III
Decidimos boicotar o Exame Nacional de Cursos. No próximo dia 10 de junho, entregaremos as provas em branco. Trata-se de uma postura contra a política educacional do governo. Sabemos de nossa responsabilidade social por estudarmos em uma universidade pública ? financiada pelos impostos da população ? cuja prova de admissão é uma das mais disputadas do país.
Nos dois primeiros anos em que o Provão avaliou as faculdades de jornalismo, a Uerj obteve o conceito máximo em todos os quesitos. Portanto, nossa atitude não significa incapacidade de responder ao Exame, e sim uma forma de protesto. Ano passado, o curso recebeu o conceito D (segundo o Inep), porque apenas uma parte das provas foram entregues em branco.
Vários são os motivos que nos levaram ao boicote:
1) Uma grande parte da sociedade não consegue passar para uma universidade pública, principalmente aqueles que fizeram o ensino fundamental e médio em escolas municipais e estaduais. Há muito tempo não há concurso público para professores, e a verba para bolsas e projetos científicos é cada vez mais escassa. Em vez de o governo se preocupar em resolver problemas graves como esses, impõe uma avaliação que, no fim das contas, acaba servindo para liberação de verba a universidades particulares.
2) Após quatro anos de estudo, vimos sonhos e anseios se perderem em função da burocracia e da falta de verba. A Faculdade de Comunicação Social da Uerj está impossibilitada de oferecer o nível de qualidade que deseja, estrangulada pela falta de investimento, sucateada, sem renovação do quadro humano e sem interesse em desenvolver um pensamento crítico em relação ao que se aprende. É bom lembrar que tais deficiências são comuns a todas as faculdades públicas de jornalismo.
3) O Provão não se mostra uma forma qualificada de avaliação dos cursos, uma vez que não é possível auferir em quatro horas o que se levou quatro anos para aprender. Além disso, o MEC estipula o que é importante para o estudante de jornalismo, sem levar em consideração diferenças regionais.
4) O conceito A mascara deficiências da instituição de ensino, porque é uma nota comparativa. Assim, uma faculdade com média 3 pode receber A, desde que o desempenho das outras tenha sido pior.
5) A incoerência do governo chega a ser engraçada. As universidades federais que receberam conceito E em suas instalações (como a Escola de Comunicação da UFRJ) foram ameaçadas de fechamento, quando, no entanto, o responsável pelo investimento e manutenção das mesmas é o próprio governo.
Mais uma vez, nossa decisão tem o objetivo de marcar uma posição política. Embora acreditemos que deva haver uma avaliação das universidades, discordamos do conteúdo e forma impostos pelo MEC, que só servem para esconder a falta de vontade em resolver, de fato, os problemas. O Provão não consegue cumprir sua função de avaliar a universidade e não atende ao princípio básico da melhora da qualidade do ensino superior no Brasil.