DOSSIÊ PERFÍDIA
"’Uma televisão de portas abertas’", copyright O Globo, 11/02/01
"Seu nome já poderia estar até no livro de recordes: o jornalista Fernando Barbosa Lima criou mais de cem programas de televisão, 40 dos quais exibidos na TVE, cuja presidência reassumiu na segunda-feira passada, 15 anos depois de uma primeira gestão como presidente da emissora: ‘Fiquei três anos, alavanquei a audiência e fui embora. Já tinha feito muita coisa por aqui’. Aceitou agora um novo convite do governo federal, em parte porque todas as suas exigências foram aceitas, em parte para atender ao pedido dos funcionários que trabalharam com ele na primeira fase e hoje estão adorando seu retorno. Entre os planos, está o de criar uma televisão aberta, jornalística, alternativa, e que revele novos talentos. Para isso, criará um slogan: ‘Eu vejo a TVE’.
O que o levou a reassumir a TVE?
FERNANDO BARBOSA LIMA: Fui convidado pelo ministro Matarazzo, secretário de comunicação do governo federal. Fiquei em dúvida porque tenho uma produtora e não queria deixar meus funcionários desempregados. Além disso, pedi uma diretoria com bons nomes e bons salários. Ele disse sim a todos os meus pedidos, e que eu poderia continuar com a produtora. Aí, resolvi aceitar, até porque os funcionários antigos, que trabalharam comigo há 15 anos, me pediram muito para vir.
Que mudanças o senhor pretende fazer?
BARBOSA LIMA:Vou mudar a filosofia da casa. Quero que a emissora abra as portas para produtoras independentes, acho que a produção independente é a forma de se oxigenar a televisão. Acho que a TVE tem este compromisso, de abrir seus estúdios a pessoas que têm boas idéias mas que não têm chance de chegar sequer na porta de uma emissora de televisão.
Produções na linha de shows e entrevistas?
BARBOSA LIMA:De tudo, menos teledramaturgia, que é uma muito cara. Vejo muito jornalismo, com grandes debates e programas polêmicos.
Vai mudar o logotipo?
BARBOSA LIMA A cara da televisão vai ser mais moderna, dinâmica, bonita. Será uma televisão inteligente, formadora da opinião, que pretenderá atingir o público das classes A, B e a faixa inteligente da C. Não vou buscar um grande número no ibope, vou buscar o público inteligente, interessante, que vai se ligar na TVE. Estamos preocupados também em fazer uma televisão de nível nacional. A TVE tem hoje uma penetração muito grande, por isso vou mudar até o título dela: vai se chamar Rede Brasil e, embaixo, a frase: ‘Eu vejo a TVE’ .
Como foi sua primeira gestão na TVE?
BARBOSA LIMA: Foi há 15 anos, quando o Sarney assumiu. Criei o slogan ‘A nova imagem da liberdade’, pus aqui 40 programas de televisão novos e ela foi para o segundo lugar em audiência.
O que mudou?
BARBOSA LIMA: Houve uma mudança radical: naquele tempo a TVE era subordinada ao Ministério da educação e hoje ela é uma organização social. Não sobrevive sozinha, precisa da ajuda do governo para começar a decolar. Uma parte é paga pelo governo e outra parte tem que ser paga pelo dinheiro arrecadado no mercado. A BBC, rede londrina, é assim também. Só que ela tem uma fonte de renda garantida, porque uma parte do dinheiro arrecadado em contas de luz vai para a rede.
Você pensa em empregar isso aqui?
BARBOSA LIMA: Estamos estudando tudo para ver onde vamos buscar mais dinheiro e poder fazer algo de nível.
Sem a ditadura fica mais difícil fazer polêmica?
BARBOSA LIMA:De jeito algum, há muita gente interessante querendo fazer televisão. A casa está aberta.
E o que a casa oferece?
BARBOSA LIMA: Espaço, promoção e todo o apoio que eles precisarem. O ideal é que tragam até a fita pronta. E quero também que tragam programas de todo o Brasil. É uma forma de o país se conhecer melhor.
Como foi o episódio em que uma editora e um escritor o acusaram de ter censurado um programa só porque entrevistariam o escritor que falou mal do Antonio Carlos Magalhães?
BARBOSA LIMA: O Alberto Dines, diretor do ‘Observatório da imprensa’, me procurou para dizer que estava com um problema: queria fazer um programa entrevistando o escritor João Carlos Teixeira Gomes, que fez um livro criticando o Antônio Carlos Magalhães sem ouvi-lo. Só que ele queria trazer também jornalistas para comentarem o livro, porque não queria que parecesse um programa antiético, ouvindo só um lado. Não apareceu nenhum jornalista, e ele teve que reprisar o programa. Saíram dizendo que eu tinha censurado."
"O estrondoso silêncio de praxe", editorial, copyright Carta Capital, edição 140, 14/02/01
"João Carlos Teixeira Gomes, baiano, jornalista e professor de Jornalismo, acadêmico no seu Estado, escreveu um livro intitulado Memórias das Trevas, em que acusa gravemente o ex-governador, ex-ministro, atual presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães. Teixeira Gomes, que os amigos chamam de Joca, é cidadão e profissional honrado, além de adversário histórico daquele que muitos enxergam como imperador da Bahia. Desde a época em que, entre fins da década de 60 e primeira metade da seguinte, foi redator-chefe do Jornal da Bahia, crítico de ACM, e por este inexoravelmente levado ao passamento por asfixia. Na terra de todos os santos e de muitos pecados, Teixeira Gomes foi um dos raros profissionais da pena que conseguiram sobreviver sem curvar-se ao mando carlista. Memórias das Trevas, lançado já neste ano, é sucesso arrasador de público, com vendas fulminantes e fluviais. Nem por isso, a imprensa brasileira, e a mídia em geral, salvo exceções, dignam-se a comentar-lhe o êxito ou a analisá-lo criticamente. CartaCapital ainda o resenhará em outra edição, mas, por enquanto, registra o silêncio dos graúdos, o clássico silêncio estrondoso, avassalador, típico de quem supõe que acontecimentos não noticiados simplesmente não se deram. Temos aí mais uma prova do provincianismo medieval do patronato da comunicação nativa e da obediência dos seus lacaios. A começar pela tentativa de vincular a obra às conveniências do senador Jáder Barbalho, mais vistoso e contingente desafeto político de ACM. A versão contradiz o fato de que o livro está pronto há muito tempo, quando a refrega entre os dois figurões ainda não eclodira. CartaCapital teve acesso à obra, ainda à espera de editor, há exatos dois anos. Mas o provincianismo não tem limites. Tanto é aquele de quem comunica a existência de Memórias das Trevas ao publicar apenas as reações do presidente do Senado quanto de quem apresenta Teixeira Gomes como único crítico de ACM. A bem da sacrossanta verdade factual: há mais que um."
"‘Observatório da Imprensa’ volta a abordar polêmica em torno de livro sobre ACM", copyright Último Segundo 9www.ultimosegundo.com.br), 15/02/01
"A nova edição semanal do site ‘Observatório da Imprensa’ (www.teste.observatoriodaimprensa.com.br), que foi ao ar nesta quarta-feira, volta a discutir a polêmica em torno do lançamento do livro ‘Memórias das Trevas’, de João Carlos Teixeira Gomes, que conta histórias sobre a vida e o poder do senador Antonio Carlos Magalhães.
Em edições anteriores, o ‘Observatório’ já havia discutido a ‘cortina de silêncio’ sobre a biografia não-autorizada de ACM e o pouco espaço dedicado pela mídia ao livro, que já vendeu 35 mil exemplares.
A nova polêmica surgiu no dia 6 de fevereiro, com a suspensão do programa ‘Observatório da Imprensa na TV’, exibido pela Rede Pública de Televisão, que também teria a obra de João Carlos Teixeira Gomes como tema. O cancelamento do programa foi justificado pelo editor-responsável do ‘Observatório’, o jornalista Alberto Dines.
Mesmo assim, os jornais – que, até então, dedicavam pouco espaço ao livro sobre ACM – publicaram reportagens veiculando o cancelamento do programa a uma possível censura contra a obra de João Carlos Teixeira Gomes.
A nova edição do site do ‘Observatório’ publica textos de Alberto Dines, que comenta o comportamento da mídia neste novo episódio, e uma nota do jornalista João Carlos Teixeira Gomes, que explica como reagiu diante da suspensão do programa em que seria entrevistado."
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