CASO ABRAVANEL
"Drama do apresentador ao vivo na televisão", copyright O Globo, 31/08/01
"Desde o seqüestro do ônibus 174, que durou quatro horas e meia, em junho do ano passado, no Rio, não se via uma cobertura televisiva tão espetacular. Durante quase sete horas, as principais emissoras de TV do país – Rede Globo, SBT, Record, Bandeirantes e Rede TV! – suspenderam ontem sua programação normal para mostrar ao vivo a invasão da casa do apresentador Silvio Santos, mantido como refém pelo seqüestrador Fernando Dutra Pinto. Ao meio-dia, cerca de quatro milhões de televisores em todo o país estavam ligados.
A Globo mostrou o primeiro flash ao vivo, às 8h40m, durante o programa ?Mais você?, de Ana Maria Braga. A partir das 9h04m, passou a transmitir direto do local até as 14h55m, com Carlos Nascimento ancorando no estúdio. A cobertura mobilizou 15 equipes do jornalismo em São Paulo (quase 50 pessoas). Foram usados ainda o helicóptero Globocop e uma motocicleta equipada com microcâmera. Cinco unidades móveis foram deslocadas para pontos estratégicos da cidade para garantir o sinal ao vivo.
Segundo Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, a emissora tratou o caso como grande evento:
– É uma operação que demonstra a agilidade do jornalismo da Globo. O que mobiliza a emissora é a relevância da notícia, e não o ibope.
O SBT também mudou sua programação para mostrar o drama de Silvio Santos. Entre 9h e 9h55m, mostrou flashes. Mas, de 9h56m até 15h12m, a emissora transmitiu ao vivo direto da residência do empresário. No estúdio, Carlos Massa, o Ratinho, e a apresentadora Patrícia Pioltini, do ?TJ manhã?, comentavam os acontecimentos. Mais de 60 pessoas participaram da cobertura, além de um helicóptero e três links de terra. Com experiência de 20 anos em reportagem policial, Ratinho conta que precisou se controlar para não dizer suas opiniões e não irritar o seqüestrador, que podia estar assistindo à TV:
– Sabia que o bandido não faria mal ao Silvio. Ele queria uma proteção para não morrer. Para mim, seqüestrador tem que pegar perpétua. Não pode ficar no convívio da sociedade. Depois disso, acho que o Silvio deve ter seguranças, inclusive para as filhas.
Na Record, Rodolfo Gamberini e Mônica Waldvogel começaram a mostrar o seqüestro ainda no telejornal ?Fala Brasil?, às 8h. José Luiz Datena, do ?Cidade alerta?, assumiu o comando da transmissão das 8h38 às 15h16m. A emissora usou dois helicópteros, o Águia 1 e o Águia 2, que acompanharam o comboio policial que levou Fernando Dutra para a cadeia. O seqüestro de Silvio Santos também virou assunto do programa ?Note e anote?, de Claudete Troiano.
A cobertura da Bandeirantes começou às 8h30m, durante o programa ?Dia Dia?, de Olga Bongiovanni. Até as 17h, a emissora acompanhou tudo ao vivo, com mais de 20 pessoas e um helicóptero. Segundo Fernando Mitre, diretor nacional de jornalismo da Band, a notícia de que Silvio estava sendo mantido como refém foi passada por volta das 8h por telefone para a BandNews (canal a cabo). Carla Augusta, produtora da Band, viu quando Fernando Dutra pulou o muro da casa do empresário e avisou a um segurança.
A Rede TV! mobilizou 70 pessoas na cobertura e utilizou dois helicópteros, um deles do comandante Hamilton, que apresenta um programa na emissora. Já a Rede Brasil e a CNT não mudaram sua programação. Mas o apresentador Wagner Montes, que trabalhou 18 anos com Silvio no SBT, falou em seu programa, ao vivo, às 13h, na CNT, sobre o drama do empresário:
– Acho que o caso do Silvio serviu de alerta para as autoridades. Seqüestrador não pode exigir nada da polícia."
"A realidade na telinha", copyright O Globo, 31/08/01
"É cada vez menor o limite entre a realidade e a ficção. Por causa disso, segundo o doutorando pela USP em teledramaturgia, Mauro Alencar, vem ocorrendo a transmissão maciça de eventos reais pela televisão. Um exemplo disso, ainda recente na memória de todos nós, foi o trágico seqüestro do ônibus 174, no Rio, assistido pelo público durante quatro horas e meia. A Globonews começou a transmitir e foi seguida pela Record e pela Rede Globo. A morte da refém Geisa Firmo Gonçalves entrou pelas casas das pessoas:
– É um reflexo do mundo pós-moderno. A televisão tem uma relação íntima com seu público, como nenhum outro meio. E acho isso um fenômeno extraordinário – diz Mauro.
O pesquisador lembra ainda o enterro da princesa Diana, em 1996, que também foi exibido pelas TVs durante todo o dia. Outro caso exemplar de cobertura televisiva foi o enterro de Ayrton Senna, em 1994, acompanhado passo a passo pelo público."
"Negociação acompanhada pela TV", copyright O Globo, 31/08/01
"Rio de Janeiro e São Paulo praticamente pararam ontem para acompanhar a invasão da casa do empresário e apresentador Silvio Santos. Nas duas cidades, as pessoas se aglomeraram diante dos aparelhos de TV para saber notícias sobre o andamento das negociações entre a polícia e o seqüestrador Fernando Dutra Pinto.
Na loja do Baú da Felicidade da Rua Sete de Setembro, no Centro do Rio, muitos se espremiam em frente a uma TV de 14 polegadas.
– Uma cliente que tinha vindo pagar o carnê chorou quando soube que o Silvio estava sendo mantido refém. Tivemos que dar um copo de água com açúcar para ela – disse a vendedora Adriana Barcelos.
Tenso, o entregador de refrigerantes William Ribeiro chegou a parou de trabalhar:
– Acho que esse cara não tem nada a perder e se Deus não ajudar ele pode matar o Silvio.
– Não acredito que ele vá matar o Silvio. Acho que ele quer dinheiro.
O camelô Paulo dos Reis se solidarizou com o antigo colega de profissão.
– Tomara que termine tudo bem – disse.
Nos shoppings, a situação não era diferente.
– Não tem como ficar indiferente. A vida de um dos homens mais famosos do Brasil está nas mãos de um maluco – afirmou o balconista Marcelo Mendes.
Em São Paulo, o agente funerário Djalma Schiavi saiu de Piracicaba, a 170 quilômetros da capital, para acompanhar o drama do empresário.
– Assim que soube que meu ídolo tinha sido feito refém, peguei um táxi e corri para cá – disse Schiavi, que pagou R$ 180 pela corrida.
– Pagaria quanto fosse preciso para dar apoio moral ao Silvio – contou Djalma, que tatuou uma estrela com o nome do apresentador no braço esquerdo há dois meses e usava uma camiseta estampada com a imagem do apresentador ao lado da mulher Iris Abravanel.
Já a passadeira Lina Ananias Orcida temia pela segurança de seu patrão.
– É difícil acreditar que o seqüestrador tenha voltado. Fico chateada porque Silvio é uma pessoa muito querida – disse Lina."
"Família Abravanel mostra o custo do show da vida", copyright Pensata (www.pensata.com.br), 30/08/01
"O cinematográfico drama da família Abravanel é o melhor símbolo já criado para descrever a insegurança de uma cidade, marcada pela marginalidade, exclusão social e ineficiência dos esquemas de segurança.
Nas conversas reservadas, a cúpula da polícia paulista admite que seus aparatos não estão habilitados a enfrentar, de igual para igual, a crescente delinquência, movida a impunidade aos crimes e gerada, na raiz, pela monumental taxa de exclusão da juventude que, sem emprego, vê no crime uma saída.
Na visão da polícia, um dos aspectos do drama é que, acuados, os mais ricos se cercam de seguranças que, muitas vezes, vivem no mesmo lugar dos sequestradores.
O aumento dos números de sequestros mostra como, muitas vezes, o combate ao crime assemelha-se ao ato de enxugar gelo. Conseguiu-se melhorar a segurança aos bancos, o que acabou gerando mão-de-obra excedente para os sequestros."