Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ana Lúcia Amaral e Eliane Cantanhêde

GOL A GOL

1.
Que conversa mais estranha da jornalista Eliane Cantanhêde [veja Aspas abaixo]: há no atual governo pessoas que vieram da esquerda!(?) Antes de mais nada, quem disse que a esquerda não pode ter corruptos? Quem disse que o PT, virando governo, não poderá mais ser feita crítica ao governo?

Que história é essa: fiquem quietos agora que amanhã as vítimas poderão ser vocês? Complacência com o governo FHC, por quê? Por que já houve tantos mais corruptos?
Que papo mais estranho…

Por essas e por outras o ex-senador Arruda ficou batendo no peito dizendo "não matei, não roubei…" O "grau de moralidade" em voga está cada vez mais baixo. Que horror! [Ana Lúcia Amaral, procuradora da República em São Paulo]

2.
Ninguém falou que só há gente de esquerda no governo, mas sim que, queiramos ou não, boa parte da equipe de FHC integra a elite pensante do país. É mentira?

Ninguém é contra críticas, muítissimo pelo contrário. Elas são necessárias para o governo FHC, serão para um eventual governo do PT e para qualquer governo em qualquer época. O que se questiona é a cada crítica se pedir renúncia ou impeachment. Pede-se hoje para FHC, pedir-se-á amanhã para Lula ou qualquer outro. É mentira?

De onde ela tirou que se pede para alguém ficar calado?!!!!! Eu sou uma que vive botando a boca no trombone. Mas não para derrubar governos ano sim, ano não.

Tudo pela moralidade e pela ética. Nada pela irresponsabilidade! O mais simples é sair pedindo impeachment e dizendo que estamos no pior dos mundos. Escrever todo dia assim é fácil, as pessoas adoram e a patrulha fica quietinha. Mas minha obrigação é um pouquinho mais complexa. É preciso conhecer o momento e entender o processo.

Sugiro que você tente. Vale a pena. [Eliane Cantanhêde, diretora da sucursal de Brasília da Folha de S.Paulo]

ASPAS

"Ratoeira", copyright Folha de S.Paulo, 27/5/01

"Se ganhar a eleição de 2002 para a Presidência da República, Lula, ou ?assemelhado?, terá condições de concluir o mandato?

Os cientistas políticos e professores Fábio Wanderley Reis e Wanderley Guilherme dos Santos, dois cobras, analisam que não há garantia, conforme li na Folha em 18 de maio.

Li , concordei e meti um monte de minhocas na cabeça. Tantas quantas sempre meto quando leio declarações, cartas, reportagens e análises pedindo a renúncia ou o impeachment de FHC. Será mesmo que para consolidar a democracia o Brasil tem que derrubar (ou tentar derrubar) um presidente atrás do outro?

A crítica é salutar, a indignação é legítima, a irritação pressiona governos e move montanhas. Contra políticas, planos, programas, gastos, negociatas e corrupção. E é papel sobretudo da oposição criticar, indignar-se e irritar-se. Mas uma coisa é condenar o governo FHC pela crise de energia, por exemplo. Foi imprevidente, irresponsável. Outra, muito diferente, é pedir impeachment a cada erro.

FHC e boa parte da sua equipe têm origem na esquerda e integram a elite pensante do país. E não é justo, como bem escreveu Luís Nassif, martelar que se trata do governo mais corrupto de todos os tempos e galáxias. Simplesmente porque não é verdade. Há corruptos? Há e não deveria haver. Mas não é a característica essencial do governo, que tem muitos outros pontos mais vulneráveis. O ?vai levando?, por exemplo.

O que preocupa é a sensação que se cria de que todo político é corrupto e de que na política não há salvação. E, se hoje é tão fácil pedir renúncia ou impeachment de FHC, amanhã será mais fácil ainda a outra elite ? não a pensante, mas a ?mandante? ? pedir a crucificação de Lula ou ?assemelhado? em praça pública.

Pau nos erros, e eles são muitos, mas não no mandato do presidente, de qualquer presidente. É tão grave quanto fazer propaganda com ratos devorando a bandeira brasileira. Lula pode ser o FHC de amanhã. E os petistas, os ratos."

    
    
              

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