JORNALISMO CULTURAL
“Escorpiões, unicórnios e dragões”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 20/01/04
“Impossivel não comentar o ótimo, calabresamente passional mas iluministicamente lúcido, desabafo de Wagner Carelli para Eduardo Ribeiro (D?Ávila, o fim de um (belo) sonho).
Primeiro, porque o texto fala, em essência, do tema desta coluna – jornalismo cultural. Segundo porque fui (será que ainda sou? Depois do que passei nos últimos anos, eu sinceramente não sei mais…) colaboradora de Bravo! e República de longuíssima data. Tive até visões ambiciosíssimas (mas, incrivelmente, realizáveis) com relação à cobertura internacional para a Bravo!, que (mais inacreditável ainda) foram prontamente compradas pelo Wagner. Alguma coisa dessa visão maluca conseguimos fazer. O restante fica para outra página, acho.
Do belo desabafo de Wagner três temas recorrentes chamaram minha atenção em particular.
1. A traição como modus vivendi da nossa profissão. Nada de novo aqui. Em meus (vocês acreditam?) 32 anos como jornalista profissional já fui apunhalada, pisoteada, cuspida e empurrada tantas vezes que já perdi a possibilidade de sentir tais coisas numa esfera emocional. Entretanto, a visão que o depoimento de Wagner me passou é a de uma cena do filme ?U Turn?, de Oliver Stone (que por sua vez citava Sam Peckinpah em ?The Wild Bunch?): um bando de escorpiões trancafiados num balde, devorando-se uns aos outros por absoluta falta de espaço, ar, alimento. Somos assim? Ficamos assim? Desde quando? Qual a nossa fronteira? A partir de que ponto somos encurralados além de qualquer limite vagamente ético?
2. O sonho intensamente gozoso mas cada vez mais improvável de uma imprensa independente dos grandes conglomerados, pilotada por um sentido de prazer orgânico e aboluta crença no conteúdo que, suspeito, seja desconhecida de uma, talvez duas gerações de profissionais. Não se trata de mitificar ou reportar a um passado lingínquo e dourado pelos tons evanescentes da memória – Wagner narra uma odisséia que começa no final da década de 90 e, a bem da verdade, ainda não terminou de todo. Estaria de fato extinto este tipo de relação com nosso trabalho? Seria isso um resquício de antigos comportamentos da era pré-internet? Algo exclusivo do jornalismo de cultura?
3. A extrema fragilidade do jornalismo cultural numa mídia que não seja a internet. A história dos cursos de formação profissional que terminam, na hora do trabalho prático, com a advertência ?não vale revista de cultura? soou, para mim, menos como o contornar de um tema embaraçoso (a existência da Bravo!, alhures) e mais como um modo de dizer ?não percam seu tempo?, como se dizia antigamente aos caçadores de unicórnios e dragões.
Discordo de Wagner (e ele sabe disso) quanto ao conteúdo ideal de uma revista de cultura – eu não evitaria música popular nem televisão, especialmente em se tratando de uma publicação com vistas voltadas para todo o mundo (nos EUA, hoje, a melhor produção audviosual está constantemente sendo encampada e produzida pela TV, especialmente a TV paga. E isto é apenas um exemplo).
Mas concordo plenamente com ele quando ele estabelece o prazer da leitura, do texto com espaço para se desenvolver e respirar, da arte da entrevista como um conversa entre pessoas inteligentes (inclusive o leitor) – elementos perfeitos para construir uma base sólida em que se apoie, até comercialmente, um jornalismo de cultura viável, contraponto necessário ao ritmo frenético de outros segmentos.
Mas essa história ainda não acabou.”
HISTÓRIA EM REVISTA
“Uma maneira fácil e ágil de conhecer a História”, copyright O Estado de S. Paulo, 25/01/04
“De maneira clara e sucinta a revista Nossa História aborda, em formato jornalístico, fatos históricos e os principais debates travados nas universidades. A proposta é difundir a História e fazer uma leitura crítica das raízes e da formação do Brasil. Esta terceira edição apresenta um belo dossiê sobre São Paulo, em homenagem aos seus 450 anos.
Em Pisando no Sexo Frágil, Rachel Soihet aborda a situação da mulher no período de transição do século 19 para o 20 na reportagem de capa. A emancipação feminina era vista por diferentes setores da sociedade como uma verdadeira ameaça à ordem estabelecida. A autora demonstra como o recurso da ironia e do humor, muitas vezes grosseiro, era utilizado para desmoralizar a luta pelos direitos das mulheres. Rachel aponta as charges como um dos recursos mais utilizados para alcançar esse objetivo.
O traço de Raul Pederneiras foi implacável. Mesmo J. Carlos demonstrou suas preocupações com muito sarcasmo ao mostrar homens totalmente rendidos aos cuidados com os filhos, função atribuída às mulheres. Em virtude dessa pressão, a autora afirma que muitas mulheres da época não aderiram às reivindicações, embora destaque as pioneiras dessa luta como Carrie Chapman e Bertha Lutz.
O dossiê sobre os 450 anos de São Paulo abre com o texto de Pedro Corrêa do Lago, que resgata a reportagem fotográfica feita por um jovem carioca de 25 anos, Militão Augusto de Azevedo entre 1862 e 1863. O artigo expõe parte da obra de Militão, fotos que sobreviveram em bom estado de conservação cerca de 140 anos, algo raro quando se trata dos primórdios da fotografia brasileira.
As belas imagens recuperam detalhes de uma cidade que contava com 50 ruas e apenas 30 mil habitantes. O tamanho dos negativos e a maneira como estes eram revelados guardam detalhes surpreendentes da cidade, que hoje, se ampliados, como observa o autor, revelam novas fotos.
Elciene Azevedo, do Centro de Pesquisa em História Social da Cultura da Unicamp traça um perfil do advogado abolicionista Luís Gama, como pano de fundo a situação dos escravos e a sociedade paulista da época. O quadro São Paulo, de Tarsila do Amaral, é o mote para Joana Tuttoilmondo discutir o modernismo, analisar o trabalho da artista, mas, principalmente, compreender como uma cidade pacata tornou-se uma megalópole no século 21. O ambiente ultra-romântico imortalizado pelos versos de Álvares de Azevedo e Castro Alves não foi esquecido nessa edição e encerra o dossiê.
Nossa História abre espaço para entrevistas, ou melhor, para um encontro.
Roberto Pompeu de Toledo, autor do livro A Capital da Solidão (ver artigo na última página), e Nireu Cavalcanti, O Rio de Janeiro Setecentista, se reuniram na Biblioteca Nacional, no Rio, para conversar e passear através da história das duas metrópoles. Da fundação de cada uma, a colonização e os caminhos que seguiram.
Os 15 anos da morte do seringueiro Chico Mendes são lembrados pela reprodução de um trecho de um ensaio do brasilianista Kenneth Maxwell. No artigo ele conta a construção do movimento sindical no Acre, a ação das Pastorais da Terra, organizadas pela Igreja Católica, a presença de intelectuais, jornalistas e organizações internacionais em Xapuri, até o ano de 1987, com uma série de viagens ao exterior realizadas por Mendes.
Fatos marcantes da história recente do País são analisados por José Castello com base nas minisséries Anos Dourados e Anos Rebeldes, exibidas pela Rede Globo e agora lançadas em DVD.
DO NAS BANCAS
“Diário Oficial vai ganhar roupagem mais leve para estrear nas bancas”, copyright CidadeBiz/Último segundo (www.cidadebiz.com.br), 22/01/04
“Depois de ter batido mais um recorde ao circular com 5700 páginas, em 19 de dezembro, o carrancudo e pesado Diário Oficial da União vai mudar de cara e passará a ser vendido em bancas de jornais e via internet.
A Imprensa Nacional, responsável pela publicação, quer dobrar sua tiragem de 30 mil para 60 mil até o final do ano, e pôr cor nas páginas.
Com a ampliação das assinaturas eletrônicas e diretas do Diário Oficial, a idéia é tornar mais transparentes os atos do governo, favorecendo especialmente localidades distantes.
?Até março, o Diário estará mais leve e com letra maior?, diz o diretor-geral adjunto da Imprensa Nacional, Antônio Fúcio de Mendonça Neto.”