Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ana Paula e Franklin batem Fátima e Bonner

LUNETA GIRATÓRIA

Imagens de campanha: foto de Ciro
com ACM publicada em
A
Tarde já é histórica

Ricardo A. Setti (*)

1.
Casal vs. casal
? Fátima Bernardes e William Bonner
que nos desculpem, mas, em matéria de casal entrevistador, Ana Paula
Padrão e Franklin Martins, em quatro edições do Jornal
da Globo
da semana passada, bateram longe em eficiência os apresentadores
do Jornal Nacional nas entrevistas com os quatro presidenciáveis.

Lição de casa bem-feita, informações na ponta da língua, cobrança quando as respostas tergiversavam, firmeza nos momentos de tensão ? e sem qualquer sinal de irritação ou descortesia. Foi assim nas entrevistas com Ciro Gomes, Luiz Inácio Lula da Silva, José Serra e Anthony Garotinho. De uma ou outra pergunta mais incômoda cada um deu um jeito de escapar porque, como se sabe, político, no fundo, sempre consegue responder o que quer.

2.
Zzzzzzzzz
? Os debates entre candidatos ao governo de vários
estados realizado domingo [11/8] à noite pela Rede Bandeirantes foi de
lascar. Como a infinita tolerância da nossa legislação eleitoral
permite candidatos de partidecos que não representam nada nem ninguém,
só se salvaram poucos momentos, aqui e ali ? o mais foi de uma chatice
de proporções formidáveis. Por mais antipático que
seja o não-comparecimento, acaba sendo difícil não dar
alguma razão a candidatos que faltaram, como Aécio Neves (PSDB-MG)
ou Paulo Maluf (PPB-SP).

3. Não
tem pra ninguém
? É desde já forte concorrente
à foto do ano a de Carlos Casaes publicada na sexta-feira, 2/8, no tradicional
A Tarde, de Salvador, e republicada em outros jornais e revistas mostrando
o presidenciável Ciro Gomes afagando, com o rosto, a mão do cacique
baiano Antônio Carlos Magalhães, como se a beijasse. Lembrou outra
foto histórica, feita por diferentes fotógrafos, em 1946: o então
deputado constituinte Octavio Mangabeira, da UDN da Bahia, encarregado de saudar
o general (e futuro presidente dos Estados Unidos) Dwight Eisenhower, em visita
ao Brasil, inclinando-se diante do ex-comandante supremo das forças aliadas
que derrotaram o Eixo nazi-fascista na II Guerra Mundial. Até hoje se
discute se a mão de Ike, como Eisenhower era conhecido, foi ou não
beijada. A de ACM não foi.

4.
Isenção é possível
? Por falar ainda
em presidenciáveis, excelente a cobertura da campanha feita até
agora pela repórter da Folha de S. Paulo e ex-ombudsman Renata
Lo Prete. Suas matérias são mostra de que a isenção
jornalística, que a tantos parece uma questão filosófica
insolúvel, é perfeitamente factível.

5.
Caixas pretas
? Dessa vez governo e FMI não deixaram vazar
nada antes da hora, e a verdade é que ninguém na mídia
acertou nem de longe nas previsões sobre o tamanho do pacote de socorro
ao Brasil ? US$ 30 bilhões. Mas as editorias de economia estão
fazendo um bom trabalho de levantamento sobre o aperto financeiro que aguarda
o próximo governo, qualquer que seja o presidente eleito. Entre inúmeras
matérias sobre o assunto está, por exemplo, esta do Estadão
de segunda-feira [12/8], disponível em

6.
Bom é notícia ruim
? Ser jornalista de TV não
é fácil, já que, como se sabe, até a expressão
corporal integra a informação que o telespectador percebe. Feita
esta ressalva, reparem só: não parece que a Salete Lemos, do Jornal
da Record
, fica feliz da vida quando dá ou comenta más notícias
na economia?

7.
Bobeando de novo
? O ombudsman da Folha, Bernardo
Ajzenberg, escreveu no domingo anterior ao passado [dia 4/8], mas
ainda está plenamente válido, e a coluna assina embaixo:
“Até o momento, nada se vê [na mídia] sobre
as eleições legislativas, num país em que o
jogo de forças no Congresso tem papel fundamental na aplicação
de qualquer programa de governo”.

8.
Pauta que falta
? Ainda não foi feita a grande reportagem
que a personagem Glória Trevi pede. A história é quase
inacreditável: uma espécie de Britney Spears mexicana se mete
numa confusa história de sedução de menores ao lado de
seu empresário, enrosca-se com a lei de seu país, escapa para
o Brasil, até que é presa. Na cadeia, arranja um filho e deixa
no ar ter sido estuprada por agentes da Polícia Federal. Um teste de
DNA desmente a hipótese, o filho nasce, ela consegue sair da cadeia para
passar uns tempos num convento. De repente, aparece uma acusação
de cumplicidade em ocultação de cadáver. Não falta
na história nem uma mãe de cabelos oxigenados à novelas
do SBT, em permanente estado de pré-histeria, que se atira ao chão,
em prantos, durante entrevistas. E o filho se chama Anjo Gabriel, em castelhano.
Precisa mais?

9.
SOS idioma
? O mundo não vai acabar por causa
disso, tampouco as Nações Unidas vão se pronunciar
a respeito, mas é urgente a necessidade de um curso de crase
para muitos coleguinhas.

10.
Barra pesada
? Do repórter policial Marcelo Rezende,
ex-Linha Direta da Globo, atualmente titular do Repórter
Cidadão
da Rede TV!, em entrevista à revista Trip
deste mês, disponível em “…
tenho a exata noção de que o princípio básico
do jornalismo investigativo é ter medo. Se for valente, vai
morrer. Se for corajoso demais, vai se f… todo. É preciso
trabalhar esse medo e tê-lo na dose certa. É difícil
? já parei uma reportagem porque achei que a denúncia
era cascata, mas nunca por temor. Faço terapia justamente
para não cair em armadilha. Para falar para mim mesmo que
não sou super-homem. Na hora da ação, meu maior
medo é este: achar que não morro, que comigo não
acontece. Se entrar nessa, já era. E não só
eu (…).”

(*) Jornalista