PERFIL / MARÍLIA GABRIELA
“Quem tem medo de Marília Gabriela?”, copyright Correio Braziliense,18/1/2004
“Uma das personalidades mais marcantes da televisão brasileira, a apresentadora diversifica atividades e investe na carreira de atriz. Em 2004, ela comemora 35 anos de jornalismo, estréia em novela da Globo e sobe ao palco com novo espetáculo
A jornalista Marília Gabriela costuma dizer que adora anos pares. Foi neles que teve os dois filhos, Cristiano e Theodoro, e conheceu grandes amores, como o ator Reynaldo Gianecchini. Neste ano de 2004, Marília tem outro bom motivo para festejar: os 35 anos de carreira, iniciados em 1969, como ”estagiária-observadora-não-remunerada” da Globo. De lá para cá, foi repórter, apresentadora, correspondente internacional. Desde agosto, passou a ser também produtora independente do De frente com Gabi, do SBT. ”Tenho sempre de ter algo que me faça sentir viva, ativa, correndo riscos. Essa é uma característica do jornalista, correr riscos, sem estar necessariamente cobrindo uma guerra do outro lado do mundo”, pondera. À primeira vista, Marília Gabriela chega a intimidar. Dona de uma imponente voz grave e de expressivos olhos azuis, ela admite, bem-humorada, que possui um certo ar de Catarina da Rússia. Um analista arriscou dizer que, por ter 1,80 m, as pessoas se sentem intimidadas só por terem de olhá-la de baixo para cima. Uma astróloga explicou que o jeito impositivo é conseqüência de ”um Plutão na primeira casa”. ”Reconheço que sou impulsiva, grandalhona, quase monstruosa. Mas, para sair do interior, onde nasci, e chegar à cidade grande, devo ter caprichado na postura agressiva, quase que por mecanismo de defesa”, diz. Ao longo da carreira, a campineira de 55 anos fez de tudo muito. A exemplo da jornalista italiana Oriana Fallaci, objeto de admiração na juventude, Marília entrevistou grandes estadistas como Yasser Arafat, Shimon Peres e Fidel Castro. Cobriu importantes datas históricas, como a morte de Perón e a ascensão da viúva dele, Isabelita, na Argentina. Marcou época ao ancorar o célebre TV mulher na Globo e mediar o debate entre os presidenciáveis na Band. Irrequieta, prepara-se para estrear como atriz de novelas, numa participação especial em Dinastia, a próxima trama das oito da Globo, de Aguinaldo Silva. ”Gosto de viver ocupada. Até mesmo para poder reclamar que estou ocupada demais”, diverte-se a jornalista, que também comanda, desde 1997, Marília Gabriela entrevista, no canal GNT.
Com 35 anos de carreira, como você encarou o desafio de virar co-produtora do De frente com Gabi?
No começo, me deu medo. É muito confortável você ser empregada de alguém. Você vai lá, cumpre o seu papel e, depois, recebe no final do mês. No primeiro momento, fiquei preocupada, achando que não cumpriria com as minhas obrigações. Mas me uni a duas produtoras formidáveis: Paula Cavalcante e Ana Sardinha. Fizemos as contas, pegamos os guardados e investimos no programa. No segundo ele se pagou. Ainda não ganho o que ganhava como contratada, mas vou chegar lá.
Repórter, apresentadora, correspondente, produtora independente… Do que mais você se orgulha de ter feito na televisão?
Eu me orgulho mais é de ter me mantido. De ter conseguido sobreviver e sobreviver com dignidade, com um trabalho que reputo inteligente, sensato, dentro de um veículo mutante, complicado, um veículo que ainda busca saber para que ele serve exatamente e onde é que ele mais prende a atenção do público… Acho que fiz alguns gols na carreira.
Que balanço você faria desses 35 anos de carreira?
Essa minha carreira teve lá seus altos e baixos. Teve momentos de grande entusiasmo e excitação e momentos de profundo desânimo. Mas foi uma carreira rica em acontecimentos, em projetos e até em desilusões. Mas foi bom. Porque tudo isso me fez aprender a minha profissão, aprender a fazer o que faço hoje. Se posso escolher fazer o que eu quero, é sinal de que existe um reconhecimento do meu trabalho.
Pode-se dizer que o TV mulher tenha sido um dos momentos mais marcantes?
TV mulher foi o programa que me deu mais notoriedade, o que me tornou nacionalmente conhecida. E num momento que considero muito importante. Era uma mulher representativa num momento em que as mulheres estavam tentando ser bem-representadas. Lembro que fomos capa do The New York Times, a Marta Suplicy e eu, em dia de reeleição de Ronald Reagan… Até hoje, tem gente que lembra de mim… O próprio Giane, pequenininho, já me via no TV mulher…
E os famosos debates entre os candidatos à Presidência? Qual é a lembrança mais forte que você guarda deles?
Na época, eu não tinha o alcance do que representava aquilo: uma mulher mediando o primeiro debate depois da volta plena da democracia. Saía de lá e reclamava: ‘Eu não quero mais apresentar essa porcaria, esses homens são uns mal-educados, eu não ganho para isso’. E, de repente, recebo telegrama do ACM, dizendo que votaria em mim para presidente se eu me candidatasse… Mas a ficha não caiu. Não passava pela minha cabeça que eu fazia parte de um importante momento histórico do país.
Depois de quase dez mil entrevistas, existe alguém que você ainda não conseguiu entrevistar?
Só quero entrevistar gente que queira me dar entrevista. Houve uma época que perseguia loucamente o entrevistado que não quisesse falar comigo. Hoje, não. Respeito é bom e eu gosto. Não quer me dar entrevista, que pena. Mas não faço mais força. Tento uma, duas, três vezes. Não deu. Tchau! Fico me sentindo uma intrusa, uma pessoa chata, insistente…
Foi de Gerald Thomas a idéia de Marília Gabriela virar atriz. Em 2000, ele escreveu o monólogo Esperando Beckett, inspirado em textos do dramaturgo irlandês, e convidou a jornalista para encená-lo. ”Não há nada melhor que um monólogo para quem está começando. Assim, não corro o risco de atrapalhar ninguém”, brincou ela, por ocasião da estréia.
Dois anos depois, Marília voltou aos palcos, em companhia do marido, Reynaldo Gianecchini, em A peça sobre o bebê, de Edward Albee. Ainda este ano, ela estréia um espetáculo sob direção do experiente Aderbal Freire Filho. Mas os projetos da atriz não param por aí. Em 2005, ela planeja exibir seu talento de contralto num musical.
Em 35 anos de carreira, Marília gravou três CDs, lançou um livro de entrevistas e participou de quatro filmes. As primeiras incursões pela música aconteceram no começo dos anos 1980. Em 1994, a jornalista lançou Cara a cara com Marília Gabriela pela Siciliano. O livro reproduz entrevistas com nove políticos brasileiros, como Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva.
Além do mercado editorial, Marília flertou também com o cinema. Ano que vem, ela volta à tela grande em Preciso dizer que te amo, cinebiografia de Sandra Werneck sobre Cazuza. O filme vai exibir trechos da entrevista que Marília fez com o cantor em 1988, pouco antes de ele assumir publicamente que era portador do vírus da Aids.”
FIDEL vs. WEB
“Fidel fuzila a internet”, copyright Veja, 21/01/04
“Menos de um ano depois de apertar a repressão política em Cuba, condenando a penas elevadas 78 oposicionistas moderados, o ditador Fidel Castro decidiu mandar para o paredón o que considera a mais nova ameaça de ?contaminação ideológica? ao regime comunista da ilha: a internet. A ofensiva deu-se por meio de um decreto, em vigor desde a semana passada, que na prática impede que os cubanos se conectem de casa à rede mundial de computadores. Trata-se de um golpe que vai atingir 480.000 usuários da internet no país, uma minoria entre a população de 11 milhões de pessoas. O acesso de casa à internet sempre foi limitado a altos funcionários do Partido Comunista. Antes do decreto, porém, essa elite costumava alugar sua senha de acesso a qualquer interessado por 50 dólares ao mês. A conexão via modem era feita por meio de uma linha telefônica comum, registrada em pulsos e debitada em pesos. Agora, a conexão pela rede telefônica estatal ficará restrita ao endereço do titular da senha. Os demais cubanos terão de utilizar a conexão telefônica destinada aos estrangeiros, mais cara e faturada em dólares. Como opção, os internautas poderão usar os cartões de acesso à internet que são vendidos nos cibercafés autorizados pelo regime. Mas a tarifa, 6 dólares por hora, também é inviável para a maioria da população.
Num comunicado, o governo alegou que a intenção é ?evitar o uso fraudulento da internet?. Mas ninguém duvida que o objetivo é dificultar o livre fluxo de informações. ?Fidel Castro quer impedir que os cubanos recebam notícias do exterior sem o filtro da imprensa oficial, o que é possível com a internet?, disse a VEJA o escritor dissidente Carlos Alberto Montaner, exilado em Madri. E, quando o assunto é censura, o regime esbanja eficiência. As antenas parabólicas, por exemplo, são proibidas à população. Sintonizar uma rádio de ondas curtas, que capta transmissões do exterior, representa um ato subversivo que é aceito como prova nos julgamentos políticos. Além disso, as ligações telefônicas internacionais costumam ser grampeadas e ninguém confia na neutralidade dos Correios. Restava fechar o cerco à internet. A primeira medida foi interligar os sites do governo numa intranet – rede interna que funciona com os mesmos protocolos da internet, mas não ligada a ela. Agora, com uma canetada, Fidel conseguiu desconectar a maioria dos cubanos da web.”
INTERNET & ATIVISMO
“Militância se fragmenta na tela do computador”, copyright Jornal do Brasil, 19/1/2004
“Votar pela internet ainda soa como uma realidade distante, mas usar a rede para divulgar idéias e defender bandeiras já é parte da realidade brasileira. Estudiosos do assunto garantem que a influência do virtual na forma tradicional de discussão política será amplamente fortalecida num futuro próximo. A mudança aponta para um caminho que vai decepcionar os militantes mais apaixonados: o enfraquecimento da ideologia.
Professores dos dois principais centros de estudos da cibercultura no Brasil (as universidades federais do Rio de Janeiro e da Bahia) afirmam que a fragmentação da ideologia terá uma contrapartida: a ampliação da demoracia. O ciberativismo, nome dado à militância praticada virtualmente, obrigará partidos e atores do jogo político a se adaptarem às novas ferramentas.
Jornais, revistas, redes de TV e emissoras de rádio dividirão o campo de divulgação de programas partidários com sites, e-mails, salas de bate-papo e blogs (espécie de diário pessoal na internet). Além de uma pitada de interatividade, o professor André Lemos, da Faculdade de Comunicação da UFBA, considera que as novas ferramentas podem valorizar a individualidade, em detrimento das organizações políticas.
– A rede proporciona que vozes autônomas se pronunciem, sem passar por nenhum tipo de filtro. Nem partidos, nem editora, nada. A emissão sempre foi controlada por grandes complexos – lembra André Lemos.
O professor identifica duas funções do novo ativismo: informar e organizar ações no espaço virtual e real. Como exemplo da função informativa, ele cita o exemplo do Greenpeace, que usa a rede para veicular denúncias. Recentemente, no caso da reserva indígena Raposa do Sol, em Roraima, o Conselho Indígena Missionário usou uma lista de e-mails para informar sobre o seqüestro de três missionários. Em poucas horas, todos ficaram sabendo da gravidade da situação.
Em setembro do ano passado, um protesto que levou milhares de estudantes às ruas de Salvador contra o aumento da passagem de ônibus teve a internet e os telefones celulares como aliados na convocação.
O uso da internet para organizar eventos em lugares públicos mostra que o ciberativista ainda depende muito do real, mas a rede tem aberto novas possibilidades para expressar insatisfações, como passeatas e atos de vandalismo virtuais. No lugar de muros e paredes, as pichações acontecem nos sites.
Aproveitando-se de falhas de segurança das páginas, o ciberpichador deixa sua marca tanto em palavras de ordem quanto em alterações do conteúdo da página – fato ocorrido recentemente com o site do Partido dos Trabalhadores.
As passeatas virtuais seguem um princípio simples: um grande número de pessoas combina acessar um mesmo endereço ao mesmo tempo, impedindo que outras pessoas entrem no site. Durante a Guerra do Iraque, a Casa Branca foi alvo de um desses ataques.
O ciberativismo, explica Henrique Antoun, professor da UFRJ, dispensa o contato face-a-face da militância tradicional, não exige perfil ideológico e tampouco obriga que o militante abdique de aspectos da vida pessoal em prol da causa. Apesar disso, o especialista tranqüiliza o manifestante tradicional, dizendo não crer na extinção das bandeiras e dos bonés.
– É uma idéia tola imaginar que alguém, sentado atrás de um computador e mandando e-mails, conseguirá alguma coisa. Aliando o virtual com a atuação real, no entanto, você amplifica o poder de alcance e o tempo de amadurecimento de idéias e movimentos. Consegue-se atingir um número maior de parceiros em tempo mais curto – confirma Antoun.
André Lemos concorda e afirma que a mera inclusão de um artefato eletrônico não significa a garantia de resultados concretos, mas amplia o uso dos meios de comunicação.
– É um determinismo ideológico pensar que, com a rede, as pessoas vão agir mais – opina.”
DUDA & JUDICIÁRIO
“Duda Mendonça ensina juízes a se comunicar com a sociedade”, copyright Consultor Jurídico, 16/1/2004
“O Poder Judiciário precisa urgentemente aprender a se comunicar melhor com a sociedade. A afirmação é do publicitário Duda Mendonça, em palestra sobre Judiciário e imprensa para cerca de 500 juízes.
No 18? Congresso Brasileiro de Magistrados em Salvador (BA), no fim do ano passado, o publicitário chamou a atenção dos juízes para o poder da comunicação e deu algumas dicas sobre o assunto.
Ele lembrou que o Executivo e o Legislativo já perceberam a importância da imprensa, enquanto o Judiciário ainda caminha em passos lentos.
?O Poder Executivo está se profissionalizando e se atualizando no uso das mais modernas técnicas de comunicação. O mesmo está acontecendo com o Poder Legislativo. E o Judiciário? Será que vocês têm hoje uma boa assessoria de imprensa??, questionou o publicitário. Na ocasião, ele chegou a dizer que a Justiça é cega, mas não precisa ser muda.
Conheça os principais trechos da palestra de Duda Mendonça
?Democracia, liberdade e transparência fazem a ascensão do Poder Judiciário.?
?Nunca vi o Poder Judiciário com tanto poder.?
?O Brasil quer que os senhores sejam mais ágeis.?
?Os senhores podem esperar que os senhores têm índices dizendo: olha o juiz tal é bom, o juiz tal não é bom, por causa de transparência, por causa de democracia, informatização etc e tal.?
?Esta nossa conversa, sem dúvida, é uma conversa muito interessante. Eu não entendo nada de leis e vocês, me perdoem a franqueza, entendem muito pouco de comunicação e marketing. A diferença entre nós é que eu tenho um excelente advogado para me assessorar. Não decido nada sem ouvir os seus conselhos. Desde já, me perdoem pelas brincadeiras e por eventuais deslizes brutos da minha ignorância nessa área. Entendam que tudo o que eu falo aqui é apenas uma visão do Judiciário sob a ótica de um publicitário…?
?Vocês só falam nos autos. Está em tempo de pensar em falar também na televisão, nos rádios e nos jornais.?
?A imagem da venda dos olhos que simboliza a Justiça é de fato muito importante, mas o fato de a Justiça ser cega, não justifica ser muda, afinal o povo não é surdo. Ao contrário, está cada dia mais ouvindo e prestando atenção.?
?O Poder Judiciário precisa urgentemente aprender a se comunicar melhor com a sociedade. Precisa se comunicar com o povo desse País. A imprensa é um dos meios sem dúvida, mas não é o único.?
?Arriscaria dar um palpite dizendo que a visão do povo brasileiro sobre o Judiciário é profundamente diferente da realidade do que eu vi aqui e do que eu senti em uma conversa ontem com um grupo de juízes.?
?O Poder Executivo está se profissionalizando e se atualizando no uso das mais modernas técnicas de comunicação. O mesmo está acontecendo com o Poder Legislativo. E o Judiciário? Será que vocês têm hoje uma boa assessoria de imprensa? Têm uma boa estratégia de comunicação? Será que sabem exatamente como querem ser vistos pela sociedade brasileira? Ou será que isso não tem importância… Será que vocês sabem exatamente qual a opinião do povo a respeito de vocês??
?Aqui novamente percebi uma certa mágoa contra a imprensa, que muitas vezes comete exageros. É verdade também que há muitas broncas dela. Mas, temos que compreender que a comunicação é cada vez mais rápida e mais impactante. Por isso, a imprensa precisa de frases de efeito. Quanto mais você fala em uma entrevista mais chance você tem de errar.?
?Da mesma forma que vocês buscam a Justiça, a imprensa busca a notícia.?
?O que fazer e por onde começar? Para começar: um diagnóstico feito de forma profissional com pesquisas quantitativas e qualitativas com todos os segmentos da sociedade e entrevistas de profundidade nos setores importantes da imprensa e do empresariado para saber a imagem real da nossa Justiça. A partir daí e com a ajuda de profissionais da área, traçar um plano de comunicação – que começa com a contratação de uma eficiente equipe de assessoria de imprensa…?
?Pelo que senti na conversa com alguns juízes ontem, acredito que é chegado o momento do Judiciário dar um passo para frente.?
?O Executivo e o Legislativo estão cada vez mais técnicos, usando todas as formas de se comunicar com o povo. É importante sim, é imprescindível que vocês dêem um passo para frente e comecem a falar também… Senão, o povo ouve um só lado e perde o poder de julgar.?
?Eu quero dizer a vocês essa história de que o povo roda errado não é mais verdade. Eu, talvez, tenha sido a pessoa que mais pesquisa quantitativas e qualitativas tenha feito com o povo nesse País durante esses últimos quinze anos. E vejo uma transformação. As pessoas estão atentas e curiosas. O discurso fácil já não convence as pessoas.?
?Aquele que tiver mais argumentos passa a convencer o outro e a coisa começa a mudar…?
?É fácil hoje criticar o Judiciário. Difícil é defender. Por quê? Porque vocês não dão argumentos.?”