CASO DAVID KELLY
O correspondente de defesa Andrew Gilligan, da Radio 4, pertencente à rede britânica BBC, foi afastado de suas funções. Ele é peça-chave do inquérito sobre o cientista David Kelly, que aparentemente se suicidou após revelar ao jornalista que o governo britânico tinha falsificado partes de relatório sobre armamentos no Iraque.
A direção da BBC afirma que o afastamento servirá para que Gilligan use todo seu tempo para se preparar para provável novo depoimento no processo. A emissora nega que a decisão tenha sido motivada pela revelação de que o repórter enviou e-mails a dois parlamentares sugerindo que fizessem perguntas a Kelly, então ainda vivo, que seriam "devastadoras" para o governo. Gilligan não mencionou essas mensagens em seu primeiro depoimento, apesar de ter sido intimado pelo juiz Brian Hutton a apresentar todos os documentos relevantes para o caso.
Segundo Jessica Hodgson e Kamal Ahmed [The Observer, 24/8/03], Hutton deverá querer saber se Gilligan tentou estimular que fossem feitas perguntas incômodas ao cientista. A BBC foi intimada a dar esclarecimentos sobre o caso das mensagens eletrônicas. A instituição também terá de explicar como as reportagens de Gilligan tiveram respaldo do Board of Governors (espécie de conselho de administrativo) se o editor de seu programa, Kevin Marsh, não estava seguro a respeito.
O jornalista Mark Laity, correspondente de defesa da BBC entre 1989 e 2000, escreveu ao diretor de notícias da rede pública britânica, Richard Sambrook, para reclamar de observação que ele fez no inquérito sobre o cientista David Kelly. O diretor afirmou em tribunal que Andrew Gilligan havia sido contratado pela emissora porque seus antecessores "simplesmente refletiam o ponto de vista do Ministério da Defesa". Laity considerou a colocação prejudicial à sua imagem profissional. Como informa The Guardian [22/8/03], Sambrook enviou resposta ao ex-correspondente desculpando-se e afirmando que seu comentário ilustrava a visão de Rod Liddle, editor do programa Today, da emissora Radio 4 da BBC, que foi quem contratou Gilligan. Acrescentou que não compartilhava da opinião de Liddle: "Nunca houve nada que sugerisse que você não alcançou os elevados padrões de imparcialidade e rigor editorial que a BBC exige".