Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ansiedade comanda as redações

BARRIGA DO ANO

Chico Bruno (*)

Na quarta-feira, 6/11, o jornal Folha de S. Paulo publicou matéria com o seguinte título: "Prefeitura não paga dívida de R$ 3 bilhões". O texto informava que a prefeitura paulistana não havia quitado uma parcela da dívida com a União. A matéria serviu de motivo para uma nova alta do dólar. A prefeitura e o governo federal imediatamente desmentiram a notícia e colocaram os pingos nos is: a prefeitura simplesmente optara por não se beneficiar de uma clausula contratual, pois não tinha como fazê-lo.

A nota que gerou a notícia, divulgada pela própria prefeitura, foi mal-elaborada, pois misturou vários assuntos, incluindo a vontade da prefeita Marta Suplicy de renegociar a dívida do município de São Paulo. Mas isso não era motivo para a barriga da Folha. A maioria dos repórteres que cobre economia sabe que a cobrança das dívidas pelo governo federal é compulsória: as parcelas são descontadas dos repasses constitucionais que a União faz a estados e municípios. Portanto, não dá para não ser paga. Mesmo que não soubessem disso, os repórteres envolvidos com a matéria tinham a obrigação de procurar entender a nota, ouvindo pelo menos o secretário de Finanças ou algum de seus assessores graduados.

Adeus ao bom senso

Por não ter apurado as informações da nota da prefeitura paulistana, a Folha incorreu no erro de publicar uma matéria com informações falsas, que geraram problemas para o país, pois incentivaram nova especulação com o dólar, que vinha experimentando alguns dias de queda.

A barriga da Folha serve para demonstrar como a mídia, nos dias de hoje, influencia o mercado financeiro. Isso reforça a tese de que o cuidado com o noticiário deve estar acima de tudo. Não é possível fazer jornalismo de maneira aligeirada e especulativa, como está virando moda. Um exemplo claro de especulação foi a informação publicada no Globo (sábado, 9/11), que anunciava como ministros do governo Lula a atual governadora fluminense Benedita da Silva, o senador eleito Aluízio Mercadante, o deputado federal José Dirceu, o prefeito licenciado de Ribeirão Preto Antônio Palocci e a senadora Marina da Silva. É pura especulação: o presidente eleito reiteradas vezes tem afirmado que só divulgará os nomes de seus ministros quando lhe convier, pois não vai fazê-lo sob pressão da mídia. Aliás, tem advertido os jornalistas que insistem em citar prováveis escolhidos: assim o fazendo estão "queimando" esses nomes.

Ao que parece, a mídia, que vinha se comportando com bom senso, começa a apresentar sinais de que vai trocar os pés pelas mãos. A barriga da Folha e a especulação do Globo são sinais evidentes de que a ansiedade tomou conta das redações por falta absoluta de novidades relevantes na economia e na política.

(*) Jornalista