DESLIGAMENTOS
O locutor da rádio titubeou, puxou um pigarro e acabou dizendo acórdão. Estava rigorosamente certo e um pouquinho errado. A notícia referia-se às denúncias de que estaria havendo um grande conluio ? acordão ? nos bastidores políticos para atenuar o castigo aos violadores do painel, mas o locutor ? ou comunicador ? ignorava a última novidade superlativa saída da usina de neologismos da mídia brasileira.
No país dos bacharéis considerou a falta do acento no primeiro "o" como erro de digitação ou novo lapso da Microsoft, que não sabe fazer corretores de texto em português. Engrenou o termo jurídico que designa acórdão como "decisão proferida em grau de recurso por tribunal coletivo". A notícia ficou sem pé nem cabeça.
Vexamão.
Não é todo o dia que o público pode assistir o desempenho de jornalistas in loco, antes de ler, ver ou ouvir o resultado do seu trabalho. A coletiva da sexta-feira [18/5] em Brasília, quando a fina flor da imprensa lotada na Capital Federal foi entrevistar a cúpula da Câmara de Gestão de Crise de Energia Elétrica, ofereceu esta rara oportunidade.
Poucos haviam se preparado previamente. Simplesmente leram as perguntas elaboradas pelos providenciais pauteiros. Quase ninguém conseguia replicar ou pedir mais detalhes. Para garantir-se, houve quem fizesse seis perguntas que os respondentes mal conseguiam rememorar.
Ficou claro por que está tudo tão escuro no panorama informativo nacional.
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