JORNALISMO DE TRAGÉDIA
Luiz Paulo Costa (*)
Boa parte da imprensa de hoje pratica o "jornalismo de tragédia". As informações colhidas não são investigadas em profundidade ou checadas com outras fontes para se saber de sua veracidade, e não são redigidas com a finalidade de informar aos respeitáveis leitores, e sim de chocá-los. Assim, as informações, superficiais na maioria das vezes, acabam se transformando em desinformações porque são truncadas com o objetivo de causar susto e revolta.
O "jornalismo de tragédia" na imprensa escrita usa como pretexto a necessidade de competir com as emissoras de rádio e de televisão na disputa de público. Acaba sendo, porém, uma "tragédia de jornalismo". Jornais e revistas perdem cada vez mais leitores, que se decepcionam com esse tipo de jornalismo, e deixam de atrair novos leitores, porque esta não é linguagem atraente para a juventude, que vive outra realidade. Culpa única e exclusivamente do próprio jornalismo que praticam.
O "jornalismo de tragédia" caminha com o "jornalismo declaratório". Este se baseia em declarações, nem sempre colocadas entre aspas ou atribuídas a quem declarou. O que importa sempre é o impacto mais negativo, que ganha maior destaque na "notícia" e nos títulos e subtítulos. Não interessa sequer a credibilidade de quem declarou, nem tampouco os eventuais interesses que os movem a fazer tais e quais declarações. As possíveis informações contidas nas declarações também não são checadas com outras fontes.
Consciência crítica
O contraponto, quando existe, fica reduzido a poucas linhas, sem maior destaque, passando despercebido ao leitor que, em sua maioria, não lê uma notícia até o fim. A falta de compromisso com a verdade e com a própria informação é tanta que chega, muitas vezes, a ignorar as próprias vítimas das informações e declarações publicadas, não as procurando para se defenderem sequer por telefone. Quando muito publicam que tal pessoa foi procurada mas não retornou as ligações telefônicas. Quem garante?!
É evidente que existem outras práticas jornalísticas condenáveis, como o "oficialismo jornalístico". Aliás, o jornal Unidade (abril/2001), do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, publicou caderno especial sobre jornalistas escritores. E o jornalista João Carlos Teixeira Gomes, autor do livro Memórias das Trevas ? Uma devassa na vida de Antonio Carlos Magalhães, resume muito bem três aspectos do jornalismo atual:
1. O destaque excessivo à ação de certos homens públicos, de tal modo que, não raro, o noticiário constrói mitos ou é dirigido no sentido de que as versões ultrapassem a relevância dos fatos;
2. A obsessão com as notícias negativas para a sociedade, como se a função da imprensa fosse a disseminação do susto e do alarme; no entanto, qualquer notícia grave pode ser transmitida sem que o jornal precise recorrer ao exagero das manchetes que roubam a tranqüilidade dos leitores pelo resto do dia ou os deixam sem dormir. É necessário que os fatos sejam noticiados sem que se passe a idéia de que o objetivo é a adesão à desgraça ou a apologia do sobressalto social; e
3. A excessiva aderência da mídia ao poder, porta aberta para o oficialismo jornalístico, ou seja, o apoio sistemático ou acrítico à ação governamental, habitualmente resvalando para a bajulação, o servilismo e o culto à personalidade. Muitas reputações políticas, inclusive de homens públicos atrabiliários, incompetentes ou corruptos, são construídas, no Brasil, nas páginas dos jornais (bem mais nocivos do que a TV, pela permanência ou maior duração do noticiário), em conseqüência de interesses ou da abdicação da consciência crítica.
Sem pretender ser o dono da verdade, espero contribuir com o debate sobre o jornalismo que se pratica hoje no Brasil, o que já ocorre no Observatório da Imprensa.
(*) Jornalista em São José dos Campos. SP