VASCO & EURICÃO
"Não é assim que se faz", copyright O Estado de S. Paulo, 14/01/01
"O título acima é um verso de samba cantado anos atrás por Paulinho da Viola. Cai como um chute de Adhemar ou gol de Romário para o que se passou na Camâra Federal quarta-feira, durante a CPI para investigar o contrato da Nike com a CBF. Nos dois depoimentos, o de Ronaldo e o do colega de cadeira dos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito, deputado Eurico Miranda, ficou a impressão de que a expectativa de quem acompanha era muito maior do que o preparo de quem pergunta. Com Ronaldo, os deputados foram reverentes e sucumbiram à tietagem.
Indagações sobre quem era o responsável pela marcação ao francês Zidane na final da Copa; por que perdemos a decisão de 98 ou se algum perna-de-pau já foi convocado para a seleção brasileira têm sabor de conversa em mesa de bar. Daquelas no começo de sábado, regada a caldinho de feijão, chope e tira-gosto. Não fosse a defesa que Ronaldo fez da Nike, empresa que o patrocina e à seleção brasileira também, e o depoimento seria insosso. Sem necessidade, o atacante chegou a dizer que se fosse dono da empresa de material esportivo já teria abandonado a seleção. Enquanto a marca silencia, o que só aumenta a taxa de especulações, o jogador sai a defendê-la. Para quem a tudo olha desconfiado, ficou a impressão de sermão encomendado.
Eu não acredito, mas foi desnecessário. Quando Eurico Miranda, presidente eleito do Vasco e vilão da vez, entrou em campo, saiu a reverência e evidenciou-se o total desconhecimento sobre o que dizia o mix de cartola-deputado. Ao afirmar que o alambrado estava preparado para ceder, EM menosprezou a inteligência alheia; ao dizer que os torcedores entravam no campo por vontade própria, o cartola tentou ignorar o que aconteceu; e quando disse que seu clube vai muito bem, obrigado, foi de engasgar, como acontecia nos meus tempos de garoto ao comer peixe na escola pública às sextas-feiras e ficar com a espinha na garganta. Só descia com muita água.
Leitura superficial dos jornais, mínima que fosse, seria suficiente para que um deputado perguntasse sobre a jogadora Sandra. Com biografia no vôlei feminino, ela saiu do clube após três meses sem receber, situação comum ao basquete, futebol e remo. Imaginem quando o Vasco estiver mal."
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