CARTA A DIOGO MAINARDI
Paulo Stenzel (*)
Sr. Mainardi, é um prazer ler um texto como "No deserto do Senai", que me faz entrar no universo das pessoas privilegiadas como o senhor. O senhor é bem-articulado, inteligente, tem um espaço só seu na revista mais lida do Brasil e, inclusive, pode se dar ao luxo de queimar um Armani só porque um candidato que não lhe agrada veste um igual. Fosse isso feito por uma socialite diríamos que é pura futilidade mas, vindo de cabeça tão singular quanto a sua, devemos encarar como um justo (e caro) ato de protesto.
Proteste, senhor Mainardi, este é o seu direito. Onde já se viu, afinal, um matuto formado pelo Senai, que nem inglês sabe falar, querer se igualar a pessoas tão distintas quanto o senhor? Precisamos combater isso com todas as nossas armas. E quando temos uma arma tão poderosa quanto a Veja nas mãos não podemos desperdiçar as oportunidades que se colocam.
O senhor, assim como eu, faz parte desta parcela de brasileiros que tiveram o privilégio de freqüentar a universidade. Claro que somos muito diferentes destes radicais que o senhor citou no seu texto, de forma descontextualizada, é certo, mas é assim que os argumentos são. Estas pessoas que usam o seu conhecimento, o seu cargo e os seus canais de comunicação para tentar impor um pensamento único precisam ser rechaçadas com todas as forças. E Lula deveria, sim, voltar para o torno, lá ele seria mais útil do que na Presidência, pelo menos sob o seu ponto de vista.
Alguém poderia acusá-lo, Sr. Mainardi, de estar sendo elitista, mas não eu. Afinal, nós brasileiros não somos todos elitistas, apesar de a maioria não fazer parte de nenhuma elite? Além disso, nada mais democrático do que pedir Armani para todos, como o seu que será queimado.
Por favor, não me considere cínico por estas palavras. Afinal, mesmo tentando, não pude redigir um texto mais cínico do que o seu. Atenciosamente,
(*) Publicitário brasileiro residente em Portugal
Trechos do artigo de Diogo Mainardi, publicado na Veja de 25/9/2002
"Na fotografia que ilustra esta coluna, visto um paletó azul-marinho Armani. É o único paletó que possuo. Depois que Lula aderiu ao terno azul-marinho Armani, nunca mais poderei usar meu paletó. O próximo passo é queimá-lo. (…)
Agora, se eleito presidente, sugiro que o fantoche Lula se rebele, mandando fechar as universidades e transferindo seus alunos e professores para as dependências do Senai.
Seria ótimo para o Brasil. Neste momento, o Senai oferece 240 cursos nas áreas de alimentos, confeitaria, marcenaria, eletricidade e hidráulica.
(…) O jornal do Senai também merece ser lido com muita atenção. Em seu último número, há um perfil de Cesar Augusto Olsen. Assim como Lula, Olsen obteve o diploma de torneiro mecânico do Senai, mas, em vez de se deixar ludibriar por professores universitários, criou a terceira maior indústria de equipamentos odontomédicos da América Latina. Um de seus produtos é a poltrona anti-stress, em que o paciente é massageado em seis pontos, enquanto o dentista lhe obtura as cáries. Bem mais útil que qualquer coisa que Lula possa vir a fazer em seus quatro anos de governo. A não ser, claro, que ele siga meu conselho e incorpore estas novas palavras de ordem: Senai para todos! Ternos Armani para todos!"