ANÚNCIOS TABAGISTAS
Em 15 de agosto, Alex Kuczynski, jornalista do New York Times, deu um furo de reportagem sobre estudo apresentado no New England Journal of Medicine, que descobriu que o acordo de 1998 da indústria do tabaco, sobre redução de anúncios na mídia, teve pouco impacto em revistas para jovens leitores [ver remissão abaixo].
Agora, de acordo com Howard Kurtz [The Washington Post, 3/9/01], o Times pede desculpas por violar o embargo da notícia ? ou seja, por ter divulgado um estudo que outros jornalistas seguraram até que o periódico médico publicasse a pesquisa, no dia seguinte. "O Times é escrupuloso quanto a honrar embargos. Pedimos desculpas por quaisquer dificuldades ou rupturas que causamos a vocês e a outras organizações noticiosas", escreveu Glenn Kramon, editora de negócios do jornal.
Gregory Curfman, editor-executivo do Journal, disse que os embargos servem para dar aos jornalistas a mesma chance de estudar um material complexo. "Essa foi uma ruptura especialmente estúpida", disse Curfman. "O repórter em questão sabe muito bem quais são as regras de embargo."
Catherine Mathis, porta-voz do Times, crê que houve "uma falha de comunicação entre dois departamentos". Diz que Kuczynski, da seção de negócios e mídia, foi avisado do estudo por um repórter de ciência, que "não mencionou o embargo e Kuczynski, sem querer, o quebrou."
Para encerrar o assunto, o Times publicou uma correção dizendo que o artigo "transgrediu a natureza das normas que desestimulam anúncios voltados a jovens" e "adulterou o papel" do procurador-geral da Califórnia."
MÍDIA & ÉTICA
No dia 5 de setembro, um juiz da Califórnia, EUA, participou da audiência de uma moção para rejeitar ação judicial que poderia afetar a prática do jornalismo e o mercado editorial. Diz a estranha ação que o uso por uma editora de fontes cultivadas por seu repórter quando este trabalhava em outro lugar é apropriação indébita de segredos comerciais do ex-empregador.
O assunto veio à tona no final de julho, quando a Paperloop.com Inc., editora e produtora de shows, reclamou que a ForestWeb Inc., editora comercial da indústria madeireira, estava competindo injustamente ao se beneficiar de relações com fontes que a Paperloop afirma serem suas. Diz, em seu processo, que a ForestWeb e sua equipe editorial usaram informações fornecidas pelas mesmas pessoas que foram suas fontes quando os réus trabalhavam na Paperloop ou em seu predecessor, Miller Freeman Inc.
A Paperloop, de acordo com Jim Rosenberg [Editor & Publisher, 3/9/01], quer que o tribunal proíba a ForestWeb de contatar as fontes e que pague uma taxa por danos e custos legais. A ForestWeb pediu rejeição do processo, afirmando que seu concorrente está procurando usar o tribunal para quebrar a competição interferindo nos direitos garantidos pela Primeira Emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de expressão.
Quando o escritor David Brock acusou um candidato do presidente Bush a juiz federal de lhe entregar arquivos do FBI, toda a mídia concentrou-se no debate a respeito da aptidão do candidato ao cargo. Afinal, se Brock estava contando a verdade, Terry Wooten cometera uma violação ética ao vazar o material que o escritor usou em seu livro para atacar Anita Hill, que acusou o então candidato a juiz da Suprema Corte, Clarence Thomas, de assédio sexual.
Mas há uma outra maneira de olhar o caso, analisa Howard Kurtz [The Washington Post, 3/9/01]: como Brock justifica trair uma fonte confidencial? O que lhe dá o direito de denunciar um homem que ele diz te-lo ajudado uma década atrás?
"Concluí que no que estava envolvido não era jornalismo, era uma operação política, e eu fazia parte disso. Então acho que as regras normais do jornalismo não se aplicam ao que estava fazendo", disse o autor. "Se você tem informação sobre fontes que fizeram coisas potencialmente ilegais e são capazes de chegar a um juizado federal, não acho que você lhes deva lealdade ou proteção."
James Taranto, editor do OpinionJournal.com, atacou Brock: "Pode haver circunstâncias que justifiquem exceções à regra ? se, por exemplo, a fonte tiver mentido ?, mas uma mudança na visão política do repórter não o libera da obrigação de honrar o acordo que fez com as fontes quando ele estava do outro lado da cerca." Brock, que hoje renuncia a seu passado conservador, explica que não havia regras explícitas com Wooten, mas admite que o sigilo era pressuposto. "Se ele achasse que eu era um jornalista, jamais teria me dado este material. Eu trabalhava com a auto-ilusão de que eu era [jornalista], mas eles sabiam que não", declarou.