LE MONDE
Leneide Duarte, de Paris
Por um "mundo" mais completo e mais claro. Não, isso não é slogan de produto algum. E ao mesmo tempo é, pois um jornal também é um produto industrial, ainda que muito especial. Cobertura cada vez mais completa e clareza na leitura é o que o jornal Le Monde quer dar a seus leitores em sua nova reforma editorial, inaugurada na segunda-feira, 14/1. Com a nova fórmula, o jornal francês de maior prestígio e credibilidade ? e o mais vendido,
juntamente com Le Figaro ? pretende ganhar 10 mil novos leitores entre 2002 e 2004, segundo o diretor da publicação Jean-Marie Colombani, que assumiu o grupo em 1994.
Esta é a segunda reforma do Le Monde na gestão Colombani. A primeira foi feita em 1995, com uma reforma gráfica importante que introduziu fotos e infográficos num jornal sóbrio, até então totalmente feito de texto e de poucas fotos e desenhos, a maioria em preto e branco. Resultado daquela primeira mudança: 50 mil novos leitores.
"Queremos continuar a responder a dois desafios: o profissional, de dar conta de um mundo novo, constantemente em movimento, que se fabrica a cada dia sob nossos olhos; e o democrático, da defesa da palavra escrita ? seja no papel seja na tela ? para fazer face
ao mundo do instantâneo, do imediatismo que governa nossas sociedades", escreveu Colombani no seu texto do suplemento especial do jornal que apresentou aos leitores a nova reforma.
Essa nova "cara" do Le Monde inclui uma página diária sobre a União Européia, mais páginas de esporte, nova tipologia e diagramação mais limpa. Todos os dias o jornal agora apresenta aos leitores uma página com um perfil de alguma personalidade da área cultural ? que pode ser alguém em evidência em Paris, Nova York, Avignon, Cannes ou no Rio de Janeiro. Às segundas-feiras, o jornal brindará os leitores com quatro páginas de esporte, editoria que vem ganhando importância nos últimos cinco anos. O mundo dos negócios também tem mais espaço no novo Le Monde, que pode ser lido em três versões: o jornal diário em papel, a versão da internet e o mensal Le Monde2.
A principal acionista do jornal que não pára de crescer é uma sociedade de redatores, que tem 315 jornalistas contratados por tempo ilimitado, sem contar os colaboradores e free-lancers. A eles se juntam cerca de 50 correspondentes e enviados especiais espalhados pelo mundo, em permanente contato com a base, dando conta de tudo o que se passa com a visão aguçada e crítica que caracteriza o jornal. Para ter uma idéia do constante crescimento do jornal, há 20 anos ele empregava 185 jornalistas. O perfil aproximado desses profissionais é o de um jornalista do sexo masculino, de 45 anos, com salário médio de 4.376 euros (algo como 9.000 reais).
Ações em bolsa
Mas não se pense que as mulheres são poucas na redação. Elas representam 41% dos jornalistas do Le Monde ? cujo grupo editorial possui 12 outras publicações, entre elas Cahiers du Cinéma, Courrier International e Le Monde Diplomatique. A idade média dessas profissionais é de 43 anos e 9 meses, enquanto os jornalistas homens têm média de de 46 anos e 9 meses. Isso pode parecer sem maior importância a uma primeira análise, mas a experiência profissional acumulada por todos esses jornalistas também explica a qualidade técnica e editorial do jornal que fazem.
Na redação do Le Monde o salário mínimo de um repórter iniciante é de 2.662 euros (cerca de 5.500 reais). O diretor da redação Edwy Plenel ganha, segundo o próprio jornal, um salário bruto de 9.324 euros (mais ou menos 19.500 reais). O jornal que chega diariamente às bancas de Paris às 13 horas, com data do dia seguinte, começa a funcionar entre 6h30 e 7 horas. Às 7h30 tem lugar a primeira reunião de todos os editores com Colombani e Plenel, para definir as prioridades de cada editoria. Às 10h34, Le Monde fecha a última página.
Somando-se às novidades do jornal, a empresa prepara a entrada de 20% a 25% do capital em Bolsa ? explicada por Colombani como "uma evolução normal numa economia de mercado por quem tem aspirações de crescer".
E para todos os interessados ? jornalistas, estudantes de comunicação e tradutores, entre outros ?, o jornal lançou uma publicação chamada Le style du Monde, uma espécie de manual de redação com informações sobre estilo, uso de palavras e expressões adotadas pelo jornal e dados importantes sobre todos os países do mundo. Detalhe: no verbete "Leçon" (lição), está escrito: "O Le Monde não tem lições a dar". Uma lição de modéstia ou hipocrisia?