PRIMEIRA PÁGINA
Amálio Pinheiro (*)
Texto da "orelha" de Capas de Jornal: a primeira imagem e o espaço gráfico visual, de José Ferreira Junior 127 pp., Editora Senac São Paulo, São Paulo, 2003; URL <www.editorasenacsp.com.br>; preço R$ 30,00.
José Ferreira Junior esquiva-se aqui de, pelo menos, dois equívocos, inocentes ou interessados, que afetam as abordagens sobre os meios de comunicação: datar, numa certa modernidade, os processos de aceleração e proliferação das imagens visuais, sem esclarecer, ou sequer perceber, o quanto estas se vinculam a uma cultura histórica do olhar; generalizar os inventos e as conquistas tecnológicas, como se fossem o coroamento linear e evolutivo, triunfalista, das ciências pretensamente desenvolvidas pelos chamados países de centro, sem se dar conta do caráter colaboracional, fragmentário, desviante e palimpséstico do conhecimento (que interagem preferencialmente com o sistema maior da cultura e não com os subsistemas da economia). Mallarmé, o grande poeta do jornal, depois acompanhado por Oswald, Vallejo, Huidobro, Tablada, etc., já dizia: "A modernidade não surge de chofre: ela é uma correlação de elementos dispersos aqui e acolá".
Daí a importância de Ferreira ir examinando as relações (nos seus vários graus de densidade e qualidade político-estéticas) das primeiras páginas de jornal impresso com a cultura visual e o clima de acontecimento e espetáculo público das cidades brasileiras, cujos ritmos, festas, mosaicos mestiço-barrocos, próprios de uma retina experiente e solar, a céu aberto, culta, já continham em esboço e projeto vivos, as retículas de movimento e luz cor das futuras melhores diagramações.
Com Ferreira já não temos dúvida, o jornal inscreve o corpo nos espaços urbanos e exige um olho-mão que leia a história das atrações do Brasil (bancas, cenas de rua, rádio,. TV, cinema, etc.) na primeira página aberta, arejada e luminosa que se desdobra.
(*) Professor do programa de estudos pós-graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP