MÍDIA NA COPA
Paulo Lima (*)
Após assistir às duas primeiras partidas da Seleção Brasileira na Copa, chegamos a pelo menos duas constatações. A primeira, nosso escrete canarinho, como se dizia em priscas eras, apesar de ter vencido em ambas as oportunidades, ainda não convenceu os exegetas da pátria de chuteiras como paradigma de um bom e combativo futebol.
A segunda constatação é de quão tendencioso pode ser o approach jornalístico, sobretudo o esportivo, em que as preferências pessoais do jornalista ou narrador por tal ou qual time acabam suplantando qualquer pretensão de isenção, a regra-mater da mítica jornalística.
Deixo a análise da performance do time brasileiro para a legião de técnicos que pulula pela nação afora. Passarei os olhos na cobertura que a TV Globo tem realizado desse vetusto torneio futebolístico.
Pontificada pela figura do narrador-mor Galvão Bueno, a transmissão global tem sido um festival de casuísmos a toda prova, mudando de tom aqui e ali, a depender do nível de jogo que a seleção vá apresentando durante a partida.
Em dado momento, se Ronaldinho Gaúcho realiza uma jogada magistral, é alvo de todas as loas possíveis da parte do sumo pontífice Galvão Bueno e sua entourage de convidados. A glória é efêmera. Se o jogador comete um deslize num lance seguinte da partida, é apedrejado pelo torcedor-narrador Galvão.
Dirão que se trata da paixão que o futebol necessariamente provoca, principalmente em tempos de Copa do Mundo, ocasião em que a pátria de chuteiras é ali representada e sofre unida em cada lance de uma partida.
Va bene. Mas o (mau) exemplo da Globo é de saltar aos olhos. Citei Ronaldinho Gaúcho como um exemplo. Todo o time está sujeito a essa análise apaixonada e comprometida que Galvão e troupe realiza.
Se o time está ganhando, mil vivas e mil perdões para todos, o que me lembra bastante aquela máxima shakespeariana de que tudo está bem quando acaba bem. Se o time perde, está lançada a caça às bruxas. Do goleiro ao zagueiro, ninguém está isento do olho do grande irmão Galvão. Ao final, o que se ouve é mais a opinião do torcedor apaixonado de barriga verde e menos o narrador isento que deveria ser.
Isto para não falar do estratagema global. Agora seleção de futebol é sinônimo de família. A família Scolari. Talvez devêssemos falar a sagrada família Scolari, que representaria outra grande família ? a brasileira. O ambiente perfeito. A pátria de chuteiras agora tornou-se uma família unida pelo futebol e aplaude seus filhos distantes que defendem os interesses pátrios nos gramados da longínqua Ásia.
Os lances da contenda são edulcorados pela assepsia feliz do sorriso de cada repórter global presente à competição. Tudo deve estar perfeito, nada fora do lugar para a felicidade e o bem-estar da nação. A pátria sofrida e espoliada deve ter seu momento de regalo. O velho e bom ludopédio, uma lúdica invenção bretã, se metamorfoseia nos tristes trópicos e adquire feições várias.
Ao toque da varinha de condão, o plim plim global e seu entusiasmado pelotão de narradores esportivos tenta redimir não somente um time claramente irregular, mas também a torcida descrente. Nenê Prancha não faria melhor.
(*) Bancário, economista, estudante de Jornalismo.
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